O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse nesta segunda-feira (29) que a presidente Dilma Rousseff "não está bem" de raciocínio por ter afirmado que "não respeita delator", em referência a Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC. Ao ironizar Dilma, o tucano afirmou que a presidente "ou não está raciocinando adequadamente ou acredita que pode continuar a zombar da inteligência dos brasileiros".
Em nota divulgada pelo senador para comentar as declarações de Dilma, feitas em Nova York, sobre a delação premiada de Pessoa, Aécio afirmou que Dilma cometeu o "acinte" de comparar a delação do empresário à pressão que a presidente sofreu na ditadura militar para delatar seus companheiros de luta pela democracia.
"Ela desrespeitou seus próprios companheiros de resistência democrática ao compará-los aos atuais aliados do PT acusados de, nas palavras do Procurador Geral, terem participado de uma "corrupção descomunal", disse o tucano. "A presidente realmente não está bem", completou.
Em Nova Iorque, Dilma negou que tenha recebido dinheiro ilícito em sua campanha à reeleição, no ano passado. A presidente disse não respeitar delator porque, durante a ditadura, tentaram transformá-la em delatora.
"A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos", afirmou Dilma.
A petista também citou o tucano ao afirmar que Aécio, na campanha à Presidência da República no ano passado, recebeu recursos da UTC "com uma diferença muito pequena de valores" em relação à sua campanha.
O tucano disse que a presidente "precisa ser informada" que o objeto das investigações da Operação Lava Jato não são doações legais, incluindo a recebida por ele próprio.
"O que se investiga -e sobre o que a presidente deve responder- são as denúncias feitas em delação premiada pelo senhor Ricardo Pessoa que registram que o tesoureiro da sua campanha e atual Ministro de Estado Edinho Silva teria de forma "elegante" vinculado a continuidade de seus contratos na Petrobras à efetivação de doações à campanha presidencial da candidata do PT", disse Aécio.
Segundo o tucano, Dilma tenta comparar o "incomparável" para minimizar suas responsabilidades no esquema de corrupção na Petrobras. "O fato concreto é que, talvez nunca na história do Brasil, um presidente da República tenha feito uma visita oficial a outro país numa condição de tamanha fragilidade. E afirmações como essa em nada melhoram sua situação", afirmou Aécio.
DELAÇÃO
Na delação premiada, Ricardo Pessoa disse que doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma por temer prejuízos em seus negócios com a Petrobras. O montante foi doado legalmente.
Em seus depoimentos, ele teria mencionado ainda doações ilegais R$ 15,7 milhões a ex-tesoureiros do PT e da campanha de Dilma.
Um dos empreiteiros investigados pela Operação Lava Jato por causa de seu envolvimento com o esquema de corrupção descoberto na Petrobras, Pessoa fez acordo com a Procuradoria-Geral da República para colaborar com as investigações em troca de uma pena reduzida. O acordo foi homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta (25).