O que Dilma vai fazer enquanto espera resposta do Senado?

Para cientista Michel Zaidan, presidente, para diminuir desgaste, deveria adotar medidas que não dependem do Congresso
Do JC Online
Publicado em 18/04/2016 às 23:20
Para cientista Michel Zaidan, presidente, para diminuir desgaste, deveria adotar medidas que não dependem do Congresso Foto: Evaristo Sá/ AFP


Com a decisão da maioria da Câmara dos Deputados de remeter o processo de impeachment ao Senado, só restará à presidente Dilma Rousseff tentar mais uma vez suspender a medida junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou convencer os senadores a não confirmarem o impedimento, observa o cientista político Michel Zaidan, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Teoricamente, o Senado tem 180 dias para confirmar ou não o impedimento da presidente, mas o que ela conseguiria fazer no comando do Executivo nesse prazo diante de uma situação tão adversa? O País, já parado, pode ter a situação agravada por greves, protestos e ausência de respostas do Executivo e do Legislativo, concentrados no impeachment. 

Na entrevista coletiva que concedeu nesta segunda-feira (18/04), Dilma disse esperar que “o Congresso não fique parado”, para permitir que ela, tão logo vença ”o quarto turno”, possa adotar novas medidas. 

Michel Zaidan não sabe como Dilma vai governar com o Congresso atual. “Essa é a pior legislatura dos últimos anos”, afirma. Além dos problemas em casa, a presidente ainda tem uma imprensa nada benevolente com ela, segundo Zaidan, e uma crise econômica internacional que afeta o Brasil. “Mas Dilma já devia ter tomado algumas medidas que não dependem do Congresso. Se ela ficar na paralisia, acentuará o desgaste político. A melhor forma é mostrar que está vivo”, aconselha.

Para ele, "em qualquer cenário, a situação do País não muda, fica muito ruim”, observa Zaidan. E completa: “Não é à toa que a tese de eleições gerais vem surgindo. O desejo de eleição representa a descrença da população com os políticos. O sistema político do Brasil chegou ao fundo do poço, com uma desagregação enorme dos partidos e sua desmoralização perante a opinião pública.” Segundo o analista, qualquer sucessor de Dilma não terá legitimidade. “O impeachment também sofrerá muita contestação”, prevê, fazendo referência aos movimentos sociais e aos partidos de esquerda que apoiaram a presidente.

O ex-deputado federal petista Fernando Ferro considera que o momento difícil pode ser também uma oportunidade. “Se tivermos capacidade e competência, poderemos tirar lições dessa crise e modificar uma série de coisas no governo e no Partido dos Trabalhadores”, opinou na semana passada. Se o impechament se confirmar no Seado, ele acha que é o momento de compor uma nova assembleia constituinte, tendo em vista o nível dos atuais parlamentares e a necessidade urgente de se aprovar reforma política.

Antes de a Câmara aprovar o impeachment, o cientista político da Pontificia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Pedro Fassoni, já havia observado que “a presidente Dilma deveria mandar um recado à população, defendendo os direitos trabalhistas, se opor à reforma da Previdência, modificar radicalmente a política econômica, abaixando os juros, revendo o ajuste fiscal e manter a política de valorização do salário mínimo, adotar uma política progressista e de esquerda, prometida em 2014 e ainda não cumprida”.

O que faltou ao governo para implantar seu projeto? “Acredito que para Dilma, faltou coragem para enfrentar o conservadorismo no Congresso. O ‘coração valente’ nunca passou de uma peça publicitária que contribuiu para ocultar uma política de alianças com o que existe de mais retrógrado na sociedade brasileira. Além da vontade subjetiva, faltaram condições objetivas: este é o Congresso mais conservador, corrupto e antinacional dos últimos 50 anos no Brasil. A bancada BBB (boi, bala e Bíblia) mostra seus dentes e tenta impor uma agenda conservadora, e em muitos aspectos até mesmo reacionária”, lembra Fassoni.

No livro Mais Política, Sempre Política, o professor Francisco Uribam Xavier, coordenador do grupo Democracia e Globalização na Universidade Estadual do Ceará, já previa no final do primeiro mandato de Dilma a necessidade de uma nova base aliada para o governo. “Agora, com ou sem cassação, acho que chegou o fim do seu governo. O caminho para o País será de novas eleições. “Ela perdeu o controle sobre sua base de apoio, criou um fissura com o vice, tem um grau muito alto de opinião negativa sobre seu governo, anunciou algumas medidas que não têm apoio nem do campo da esquerda que foi a base social do PT”, justifica.


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