O presidente de extrema direita recém-empossado, Jair Bolsonaro, começou nesta quarta-feira (2) a implementar o seu programa conservador e de realinhamento com os Estados Unidos de Donald Trump, numa aliança de dois expoentes da onda nacional-populista mundial.
O novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que se reuniu com o secretário de Estado americano Mike Pompeo, explicou que as duas maiores economias do hemisfério estão trabalhando "por uma ordem internacional diferente".
E afirmou que o Brasil "está se realinhando consigo mesmo, com seus próprios ideais", rompendo com décadas de busca de equidistância das grandes potências e fortalecimento das relações Sul-Sul.
Internamente, o novo governo decidiu entregar a demarcação de terras indígenas ao Ministério da Agricultura, representante dos interesses do poderoso setor do agronegócio, um dos principais aliados do presidente de extrema direita.
O ministério ficará encarregado das questões relacionadas com "reforma agrária, regularização fundiária de áreas rurais, Amazônia Legal, terras indígenas e quilombolas", indica o Diário Oficial da União.
Até agora, os assuntos relacionados à demarcação de terras indígenas estava nas mãos da Fundação Nacional do Índio (Funai), vinculada ao Ministério da Justiça, mas que deveria passar para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
O Ministério da Agricultura encarna os interesses do setor do agronegócio, cuja força entra em frequentes conflitos com organizações de trabalhadores rurais sem terra, com os habitantes das reservas indígenas e com grupos de proteção ao meio ambiente.
"Tínhamos no plano de governo uma concepção de que devíamos juntar tudo que, de uma maneira ou outra, gira em torno do agronegócio, que é o grande ponto de sustentação da economia brasileira", afirmou o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Bolsonaro esclareceu possíveis dúvidas sobre sua disposição em cumprir suas promessas de campanha, lembrando no Twitter o curso que pretende dar a um mandato que deve ser estendido até 31 de dezembro de 2022.
"Nosso discurso de posse, que é o nosso eixo de governo", escreveu esta manhã, juntamente com um vídeo de seu discurso de ontem em frente ao Palácio do Planalto, onde afirmou que este 1º de janeiro de 2019 seria lembrado como o "dia em que as pessoas começaram a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto".
Também publicou um comentário afirmando estar determinado a acabar com o "lixo marxista" do sistema educacional.
Onyx Lorenzoni vê na chegada ao poder de Bolsonaro, cujo segundo nome é Messias, um desígnio divino.
"Muitos são chamados, poucos os escolhidos. E Jair Messias Bolsonaro foi chamado, para quem tem fé como eu, por Deus, e escolhido pelo povo brasileiro", afirmou ao tomar posse.
Os mercados, que apoiaram Bolsonaro durante a campanha, reagiram com prudência aos primeiros discursos, à espera de definições sobre os compromissos assumidos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de proceder a ajustes e privatizações para sanar as contas públicas.
A principal expectativa refere-se à reforma da previdência, sobre a qual ninguém disse uma palavra até o momento.
A Bolsa de São Paulo operou durante a manhã em ligeira queda, mas depois do meio-dia reverteu a tendência e ganhava 0,63%. O real se fortalecia em relação ao dólar, negociado a 3,853 reais, em comparação aos 3,877 no final da sexta-feira.
Em seu primeiro ato como presidente, Bolsonaro decretou na terça-feira o aumento do salário mínimo para 998 reais, um pouco abaixo dos 1.006 reais projetados pelo governo de Michel Temer.
Uma agenda de ação divulgada na semana passada por Lorenzoni fixa quatro fases - a 10, 30, 60 e 90 dias - para a identificação e o encaminhamento de propostas prioritárias, bem como para a eventual revogação de leis e decretos.
A agenda também estabelece regras de conduta e proíbe contratar parentes próximos, para evitar suspeitas de corrupção e nepotismo.
A luta contra a corrupção e o crime estão no centro das preocupações do governo, afirmou o novo ministro da Justiça, o juiz Sérgio Moro, símbolo da Operação Lava Jato, que levou à prisão dezenas de políticos, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.