O médico Luiz Henrique Mandetta assumiu nesta quarta-feira (2) o comando do Ministério da Saúde. Na cerimônia em que recebeu o cargo de Gilberto Occhi, Mandetta disse que planeja implantar um terceiro turno de atendimento, com horário estendido, em unidades de saúde que atualmente abrem das 7h às 11h e das 13h às 17h. De acordo com o ministro, o objetivo é reestruturar a atenção à saúde básica no país.
A proposta para implantação do terceiro turno ainda está em estudo. De acordo com o ministro, é necessário observar as peculiaridades de cada região do país para adotar as medidas adequadas. Ele esclareceu que não se deve implementar ações iguais para todos os locais. “São diferentes ‘Brasis’ . Não adianta uma receita de bolo para esse país inteiro.”
Mandetta disse também que tem um “compromisso muito grande” com a família, a fé e a pátria. Segundo ele, “cada centavo” economizado pela pasta em sua gestão irá para a assistência à população. “A mulher trabalhadora e o homem trabalhador, muitas vezes, saem de casa antes das 7h e voltam depois das 18h. Ou seja, a unidade básica de saúde, para eles, fica praticamente inalcançável.”
Deputado federal de 2011 a 2018 e ex-secretário de Saúde de Campo Grande, o médico ortopedista teve o nome confirmado em novembro pelo presidente Jair Bolsonaro.
Além da reestruturação da atenção básica, os primeiros 100 dias da nova gestão na pasta devem priorizar o atendimento hospitalar, com foco no Rio de Janeiro, onde há uma rede de responsabilidade da União – seis hospitais federais e três institutos.
“Devemos fazer um choque de gestão nessas unidades, construindo alguns conceitos coletivos de compra para a redução de custo, dando transparência ao acesso”, defendeu o ministro.
De acordo com Mandetta, há ainda planos para enviar profissionais especializados do Ministério da Saúde para Roraima, estado que registra surto de sarampo há pelo menos 10 meses. A cepa do vírus que circula na área é a mesma identificada no surto que assola a Venezuela.
“Essa entrada de venezuelanos, desregrada como foi, trouxe à tona um surto de sarampo em Roraima que se se estendeu à região amazônica e que está se estendendo pelo país porque a nossa vacinação é muito baixa.”
Mandetta confirmou que pretende revisar o Programa Mais Médicos e rebateu a afirmação de que faltam profissionais no Brasil. Segundo ministro, o país conta com aproximadamente 320 faculdades de medicina e 26 mil médicos graduados em 2018, com previsão de aumento desse contingente em 10% ao ano até chegar a 35 mil profissionais formados.
“Quem forma essa quantidade toda de profissionais? Muitos deles endividados pelo Fies [Fundo de Financiamento Estudantil] e muitos formados em escola pública. Não temos uma proposta ou política de indução para que eles venham para o sistema público de saúde.”
O ministro ressaltou que a alternativa de usar a mão de obra de médicos militares já existe – profissionais, quando se formam, precisam se reapresentar ao serviço militar para fazer a retirada do diploma. Atualmente, segundo ele, cerca de 4.500 médicos são convocados para atuar no militarismo brasileiro.
“Se estamos formando 25 mil, podemos, sim, discutir uma maneira de aumentar, se estiver faltando. Principalmente nesses locais de difícil provimento é, sim, uma possibilidade a utilização desses profissionais via Exército Brasileiro.”
O ministro adiantou planos de mudanças na saúde indígena. Ele lembrou que a Secretaria Nacional de Saúde Indígena, para operacionalizar o sistema, faz repasses sistemáticos ao terceiro setor para que organizações não governamentais possam chegar às populações em questão.
“Não nos parece a maneira mais adequada para controle, nem a maneira adequada de estruturar uma política permanente de saúde indígena”, disse, ao citar indicadores como elevadas taxas de mortalidade infantil, de obesidade e de diabetes nas aldeias.
Em seguida, Mandetta acrescentou: “Não conseguimos, nesses anos todos, trazer uma política de saúde pública para a população indígena sempre porque partimos do conceito de que tem que ser tutorado”. "Não temos preconceito algumcom organizações não governamentais [ONGs]. Mas a maneira como é feito hoje, me parece que há um repasse de volumes muito altos para uma prestação de contas muito frágil."