Mensagens entre a aposentada Cleuzenir Barbosa, ex-candidata do PSL, e um assessor parlamentar do hoje ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, do mesmo partido, mostram a cobrança de devolução da verba pública de campanha, que deveria ser depositada a outra empresa ligada a um dos assessores do político. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
A conversa via aplicativo do Whatsapp acontece durante a campanha eleitoral de Cleuzenir nas últimas eleições de outubro, onde concorria ao cargo de deputada estadual pelo PSL em Minas Gerais. Com ela, fala Haissander de Paula, que na época trabalhava como assessor do gabinete de Álvaro Antonio na Câmara dos Deputados.
"Preciso que você transfira 30 mil reais pra conta da gráfica. O resto eu vou pagar do meu bolso", diz uma das mensagens do assessor. "Nosso Deus sabe de todas as coisas, preciso que vc transfira a metade do valor pra conta da gráfica. Estou indo pagar o restante do meu bolso", enviou o parlamentar, que trabalhou para Álvaro de dezembro de 2017 até o início deste ano.
Na matéria divulgada pela Folha de S. Paulo ainda é relatado o depoimento de Cleuzenir ao Ministério Público de Minas Gerais, em que ela conta que foi pressionada a transferir R$ 30 mil dos R$ 60 mil que recebeu de verba pública do partido, que deveriam ser depositados para uma gráfica de um irmão de Roberto Soares, que também foi assessor de Álvaro Antônio e coordenou sua campanha na região do Vale do Aço de Minas Gerais.
Por outro lado, o ministro e seus assessores à época confrontam o depoimento da ex-candidata do partido.
O ministro do Turismo se defende dizendo que, assim que tomou conhecimento das acusações da candidata, mandou apurar e que "a denunciante foi chamada a prestar esclarecimentos em diversas ocasiões e nunca apresentou provas ou indícios que atestassem a veracidade das acusações".
Na trama de crises que envolve o governo Bolsonaro, esta é mais uma que o presidente precisa lidar. O presidente tem uma reunião marcada para a tarde desta quarta-feira (20) com Álvaro Antonio.
Bolsonaro tem sido pressionado a demiti-lo, já que em uma situação parecida foi tomada esta atitude com Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL, retirado do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A Polícia Federal também investiga o caso.
As conversas entre Cleuzenir o então assessor do Álvaro Antonio ocorreram no dia 18 de setembro, mesmo dia em que o dinheiro do PSL foi transferido. As mensagens foram entregues por ela ao Ministério Público no dia 18 de dezembro. O caso está sendo investigado pela Promotoria.
Cleuzenir, que diz não ter aceitado integrar o esquema, não foi eleita (teve 2.097 votos) e hoje vive em Portugal. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ela revela ter deixado o Brasil exclusivamente por medo de retaliações por parte dos aliados do hoje ministro.
Para a ex-candidata, o esquema teria sido criado para lavar dinheiro e devolvê-lo ao grupo do ministro de Bolsonaro.
Antes de denunciar, Cleuzenir afirma ter relatado o caso a pelo menos quatro assessores de Álvaro Antonio, que era deputado federal na época e candidato à reeleição; ela também teria tentado falar diretamente com ele, mas nada foi feito.
Além de Cleuzenir, outras três candidatas do PSL mineiro, comandado por Álvaro Antônio, receberam dinheiro público do partido. Segundo apuração da Folha de S. Paulo, as mulheres teriam sido usadas apenas para preencher a cota feminina de 30% das candidaturas e de verba eleitoral.
O dinheiro enviado a elas foi parar na conta de assessores, parentes ou sócios de ex-assessores do atual ministro do Turismo.
Álvaro Antonio segue afirmando que a distribuição do fundo partidário do PSL seguiu a lei, e nega a lavagem de dinheiro.
Em defesa, Haissander, que manteve contato com Cleuzenir, contou à reportagem da Folha que as conversas com a ex-candidata foram no sentido de a orientar a não direcionar dinheiro da campanha para parentes; o ex-assessor não respondeu a mais nenhuma pergunta.