Segundo mensagens divulgadas na madrugada deste domingo (14) pelo site The Intercept Brasil em parceria com a Folha de São Paulo, Deltan Dallagnol, procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, teria articulado palestras e eventos para divulgar e lucrar a partir da exposição da tramitação dos processos.
Em dezembro de 2018, um grupo é criado com Deltan, o colega Roberson Pozzobon, procurador da força-tarefa, para discutir com as esposas sobre a criação de uma empresa na qual ambos não poderiam aparecer oficialmente como sócios. Tal corporativa seria a responsável por promover os eventos.
3 de dezembro de 2018:
Deltan: Vc [Esposa de Deltan, Fernanda Dallagnol] e Amanda [Esposa de Pozzobon] do Robito [Roberson Pozzobon] estão com a missão de abrir uma empresa de eventos e palestras. Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade…
5 de dezembro de 2018:
Roberson: Temos que ver se o evento que vale mais a pena é: i) Mais gente, mais barato ii) Menos gente, mais caro
14 de fevereiro de 2019:
Deltan: só vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que podem ser minhas e do Robito e as tratativas gerenciais que precisam ser de Vcs [Fernanda e Amanda] duas, por questão legal. É bem possível que um dia ela seja ouvida sobre isso pra nos pegarem por gerenciarmos empresa
Roberson: Assim vai funcionar, Delta. Ótima ideia. Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que veeeenham
15 de fevereiro de 2019:
Deltan: Tomara que seja algo como 1 bi porque vamos faturar!!
Roberson: hahaha. Vem ni noix tributos!!
[...]
Deltan: nao boto mão no fogo por nenhum empresário sobre sonegação fiscal... qq hora ele poderia se enrolar em algo e seríamos sócios
Roberson: Esse risco poderia de certo modo ser atenuado se tivessemos com ele uma relação de parceria e não de sociedade
Os diálogos mostram Deltan convidando diversas autoridades da Lava Jato para atuar como palestrantes. Entre eles, o ex-juiz responsável pela operação, Sergio Moro, a procuradora da República em São Paulo Thaméa Danelon, e o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Moro, atual Ministro da Justiça, não aceitou a proposta. "Agradeço a indicação. Mas esse ano minha programação já está fechada, não cabe mais nada."
Já Rodrigo Janot considerou a proposta e pediu informações sobre o cachê. "Considero sim mas teremos que falar sobre cache . Grato pela lembra". Dallagnol respondeu que o cachê oficial seria 30 mil reais. "passo seu cachê oficial (30k, certo?), ou algum outro?"
De acordo com a Folha e o Intercept, os procuradores não chegaram a formalizar a empresa. Por lei, procuradores não administrar ou gerir uma empresa, mas estariam livres para serem sócios ou acionistas.