Dallagnol teria se negado a participar de premiação com Bolsonaro, mostram diálogos

O procurador foi aconselhado pelo seu assessor a não comparecer ao evento a fim de não ser vinculado a ideologias ou partidos políticos
JC Online
Publicado em 14/08/2019 às 8:10
O procurador foi aconselhado pelo seu assessor a não comparecer ao evento a fim de não ser vinculado a ideologias ou partidos políticos Foto: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Com o intuito de não se vincular a bandeiras partidárias, o procurador e coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, teria negado receber o prêmio ‘Liberdade 2016’, concedido no Fórum Liberdade e Democracia, ao lado do agora presidente Jair Bolsonaro (PSL) e ‘outros radicais de direita’, de acordo com mais uma leva de mensagens divulgadas pelo UOL e enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil.

Na última semana, uma página de apoiadores de Bolsonaro chamou o procurador, sem filiação a partidos políticos, de "esquerdista tipo PSOL". O perfil do presidente compartilhou a postagem.

Em um grupo no aplicativo Telegram que reunia procuradores do Ministério Público Federal do Paraná, Deltan informa sobre o prêmio.

Confira as mensagens

5 de outubro de 2016

Deltan: "Vou receber porque me parece positivo para a LJ [Lava-jato], mas vou pedir para ressaltarem de algum modo, preferencialmente oifical [oficial], que entregam a mim como símbolo do trabalho da equipe".

Três dias antes do evento, o assessor do procurador pediu que ele repensasse sua presença para evitar ser vinculado à imagem do então deputado federal, Bolsonaro.

19 de outubro de 2016

Assessor 2: tudo o que vc e a FT [força tarefa] não precisam é serem "associados" ao Bolsonaro. é a mesma coisa que receber prêmio do Foro de BSB [Brasília]. estou quase implorando…

A partir disso, Dallagnol hesita e decide não comparecer.

20 de outubro de 2016

Deltan: diz que não costumo cancelar, apenas quando não consigo fazer diferente…
(estou me sentido mal com o cancelamento ainda rs… mas manda ver)
diga tb que se preferirem podemos deixar para o futuro... enfim, deixe eles bem á vontade

Assessor 2: pode deixar, vou fazer o melhor possível

Logo após, o Dallagnol avisou no grupo com procuradores que não iria à premiação, por contar "com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday, do DEM-SP] que foi um dos líderes do impeachment".

20 de outubro de 2016

Deltan: Caros, apenas FYI [para conhecimento], estou cancelando a ida para o premio à FT [força-tarefa da Lava Jato] em SP por revisão da recomendação da ASCOM [assessoria de comunicação] após sair a programação do evento, que tem perfil mto de direita, com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday, do DEM-SP] que foi um dos líderes do impeachment. Indicarei Roberto Liviany (que entregarei o prêmio) ou Thamea como representantes da FT para receber o prêmio.

'Não vai replicar vídeo do Bolsonaro'

Em 21 de abril de 2017, Dallagnol perguntou aos procuradores se poderia compartilhar um vídeo, por haver políticos. Ele afirma que “são de diferentes partidos”, mas a procuradora Laura Tessler achou melhor não.

Orlando Martello defende que “o importante é a mensagem”, e diz que sim, porque o conteúdo era relacionado com a bandeira da força-tarefa, possivelmente tratando de combate à corrupção. "É bom que os políticos vejam q todos q apoiarem esta causa terão propaganda positiva nossa", disse Martello. Paulo Galvão diz que isso dependeria de quais políticos estavam no vídeo. Às 8h43, ele afirmou: “Quaissão os políticos? Não vai replicar vídeo do bolsonaro pelamor”

Martello responde que seriam o senador Romário (PSB-RJ) e os deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Tiririca (PL-SP). Mesmo sem Bolsonaro, nenhum vídeo com políticos foi divulgado por Deltan em suas redes sociais nos dias seguintes.

Resposta

A Lava Jato disse ao UOL que evita a "participação direta de seus membros em eventos que possam gerar, ainda que indevidamente, a vinculação do trabalho técnico feito na Lava Jato a bandeiras ideológicas e político-partidárias".

"No caso do evento indicado, a força-tarefa se fez representar por um promotor de justiça de São Paulo, que ali reside e compareceu com o restrito objetivo de receber o prêmio em nome da força-tarefa". 

O MPF do Paraná afirmou que procuradores "não reconhecem o material, oriundo de crime cibernético, sujeito a alterações e descontextualizações diversas".

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