Com o intuito de não se vincular a bandeiras partidárias, o procurador e coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, teria negado receber o prêmio ‘Liberdade 2016’, concedido no Fórum Liberdade e Democracia, ao lado do agora presidente Jair Bolsonaro (PSL) e ‘outros radicais de direita’, de acordo com mais uma leva de mensagens divulgadas pelo UOL e enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil.
Em um grupo no aplicativo Telegram que reunia procuradores do Ministério Público Federal do Paraná, Deltan informa sobre o prêmio.
5 de outubro de 2016
Deltan: "Vou receber porque me parece positivo para a LJ [Lava-jato], mas vou pedir para ressaltarem de algum modo, preferencialmente oifical [oficial], que entregam a mim como símbolo do trabalho da equipe".
Três dias antes do evento, o assessor do procurador pediu que ele repensasse sua presença para evitar ser vinculado à imagem do então deputado federal, Bolsonaro.
19 de outubro de 2016
Assessor 2: tudo o que vc e a FT [força tarefa] não precisam é serem "associados" ao Bolsonaro. é a mesma coisa que receber prêmio do Foro de BSB [Brasília]. estou quase implorando…
A partir disso, Dallagnol hesita e decide não comparecer.
20 de outubro de 2016
Deltan: diz que não costumo cancelar, apenas quando não consigo fazer diferente…
(estou me sentido mal com o cancelamento ainda rs… mas manda ver)
diga tb que se preferirem podemos deixar para o futuro... enfim, deixe eles bem á vontade
Assessor 2: pode deixar, vou fazer o melhor possível
Logo após, o Dallagnol avisou no grupo com procuradores que não iria à premiação, por contar "com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday, do DEM-SP] que foi um dos líderes do impeachment".
20 de outubro de 2016
Deltan: Caros, apenas FYI [para conhecimento], estou cancelando a ida para o premio à FT [força-tarefa da Lava Jato] em SP por revisão da recomendação da ASCOM [assessoria de comunicação] após sair a programação do evento, que tem perfil mto de direita, com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday, do DEM-SP] que foi um dos líderes do impeachment. Indicarei Roberto Liviany (que entregarei o prêmio) ou Thamea como representantes da FT para receber o prêmio.
Em 21 de abril de 2017, Dallagnol perguntou aos procuradores se poderia compartilhar um vídeo, por haver políticos. Ele afirma que “são de diferentes partidos”, mas a procuradora Laura Tessler achou melhor não.
Orlando Martello defende que “o importante é a mensagem”, e diz que sim, porque o conteúdo era relacionado com a bandeira da força-tarefa, possivelmente tratando de combate à corrupção. "É bom que os políticos vejam q todos q apoiarem esta causa terão propaganda positiva nossa", disse Martello. Paulo Galvão diz que isso dependeria de quais políticos estavam no vídeo. Às 8h43, ele afirmou: “Quaissão os políticos? Não vai replicar vídeo do bolsonaro pelamor”
Martello responde que seriam o senador Romário (PSB-RJ) e os deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Tiririca (PL-SP). Mesmo sem Bolsonaro, nenhum vídeo com políticos foi divulgado por Deltan em suas redes sociais nos dias seguintes.
A Lava Jato disse ao UOL que evita a "participação direta de seus membros em eventos que possam gerar, ainda que indevidamente, a vinculação do trabalho técnico feito na Lava Jato a bandeiras ideológicas e político-partidárias".
"No caso do evento indicado, a força-tarefa se fez representar por um promotor de justiça de São Paulo, que ali reside e compareceu com o restrito objetivo de receber o prêmio em nome da força-tarefa".
O MPF do Paraná afirmou que procuradores "não reconhecem o material, oriundo de crime cibernético, sujeito a alterações e descontextualizações diversas".