Igor Maciel: Bolsonaro vai perdendo poder

Dentro do parlamentarismo branco imposto pelo Congresso, Bolsonaro deverá ter seu poder ainda mais reduzido nesta terça-feira (11)
Igor Maciel
Publicado em 10/02/2020 às 15:30
Dentro do parlamentarismo branco imposto pelo Congresso, Bolsonaro deverá ter seu poder ainda mais reduzido nesta terça-feira (11) Foto: Foto: Diego Nigro/ Acervo JC


A frase é muito repetida no universo dos quadrinhos, especialmente no que se refere ao Homem-Aranha: "Quanto maior o poder, maior a responsabilidade". Bolsonaro decidiu governar com seus apoiadores das redes sociais, buscando manter uma base mais fiel enquanto conquista novos seguidores fora da bolha. Fez isso à custa de ataques contra outras instituições numa relação que, mesmo após ser pacificada, deixou mágoas. Na prática, o que membros do STF, da Câmara e do Senado pensam é que não dá pra confiar no presidente, porque a responsabilidade dele depende da temperatura das redes e não do bom senso.

Não tendo responsabilidade, é preciso lhe dar menos poder. Desde 2019 foi montado um plano em que Rodrigo Maia (DEM) e Davi Alcolumbre (DEM), presidentes da Câmara e do Senado respectivamente, tomariam o controle e a responsabilidade sobre projetos importantes para o País. É um "Parlamentarismo branco", extraoficial, e foi o que garantiu a aprovação da reforma da Previdência, por exemplo. Mas, quem assume responsabilidade precisa de mais poder, é uma variante direta da frase do Homem-Aranha. E poder, na maior parte do lugares dentro planeta Terra, é concedido através do controle do dinheiro.

Quem controla o dinheiro, manda. Nesta terça-feira (11), o Congresso vota e provavelmente derruba dois vetos presidenciais dentro da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Na prática, derrubando esses vetos, os parlamentares garantem o controle de mais de R$ 40 bilhões em emendas, só durante este ano de 2020.

É dinheiro sobre o qual Bolsonaro deixa de ter controle e passa a ser apenas o "sujeito que assina o cheque". É um dinheiro que precisa ser utilizado para repasse a Estados e Municípios, investido em obras e serviços para a população. Isso não muda. O que muda é que os parlamentares vão decidir quando eles serão liberados e não o Presidente.

Controle sobre o dinheiro é o que muda a relação de forças entre os poderes. O presidente da República já não controla o dinheiro que vai pro Judiciário, logo não pode usar a liberação de verbas para negociar nada. Agora, vai perdendo também a margem de negociação com o Legislativo.

Negociar sem dinheiro

Em breve, sem verba, Bolsonaro terá que decidir se começa a trabalhar na articulação ou recolhe-se de vez a um papel decorativo que grita de vez em quando só para chamar atenção.

Porque talvez ele queira trabalhar e não saiba como ou talvez ele fique feliz em ter menos poder, pra não ter que assumir responsabilidades. Veremos.

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