Em passagem pelo Recife nesta sexta-feira (11) para uma palestra no Palácio do Campo das Princesas, o senador José Serra (PSDB-SP), uma das principais lideranças da oposição no país, defendeu "outro tipo de análise" para a assinatura de decretos sem aprovação do Congresso pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), em relação à que é feita sobre a presidente Dilma Rousseff (PT), cujos decretos são uma das justificativas do pedido de impeachment da petista. Ele também disse concordar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RJ), que pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que os senadores sejam ouvidos antes de um eventual afastamento de Dilma.
Leia abaixo a transcrição da entrevista do senador tucano na capital pernambucana:
PSDB UNIFICA DISCURSO SOBRE IMPEACHMENT
Foi pela complexidade do quadro. Às vezes, quando você não sabe direito o que é que você tem que fazer no dia seguinte, não é por preguiça. É porque o assunto é complexo e muda a cada dia. Essa semana aqui, cada dia teve uma bomba. Concorda? Deu uma e meia bomba por dia de notícia. Então as coisas estão mudando. Então as vezes, o partido hesita por falta de conhecimento e de domínio da situação e não por diferenças. Elas são secundárias.
PEDIDO DE RENAN PARA O SENADO SER OUVIDO SOBRE O AFASTAMENTO DE DILMA
Eu acho que ele tem razão. Já me disseram e eu acho que ele tem razão. Evidentemente, o STF tem o seu papel constitucional. Nesse caso, já há regras definidas no próprio passado. Eu acho que o próprio STF reforçou isso quando mudou uma resolução feita pelo presidente da Câmara. De maneira que eu não vejo razão agora, ou viabilidade, em criar uma nova legislação a esse respeito.
MOVIMENTAÇÃO DO SENADO É FAVORÁVEL À DILMA?
Eu acho que não há nenhuma relação. O que o presidente do Senado manifestou foi a sua preocupação em preservar o papel do Poder Legislativo no Brasil. Até porque a observação dele é correta.
CONVERSA COM GOVERNADORES SOBRE IMPEACHMENT
Não. Esse evento de hoje foi marcada há mais tempo. Evidente que a gente conversa sobre isso. Politico, quando você encontra, você conversa sobre as questões principais do Brasil. Mas ele não é um périplo nessa direção.
GOVERNO DE UNIÃO NACIONAL
O que eu acredito é o seguinte. Vamos ter um processo de impeachment. Provavelmente, a presidente Dilma perderá o mandato. Se não perder, continuará - e aí é o que ela deseja também. Embora aí vá ter muitas dificuldades de tocar o país adiante. E, nesse sentido, nós temos que nos preocupar com o day after, com o que vem no dia seguinte. A hipótese de o vice-presidente Michel Temer assumir o governo ela é grande. E se isso acontecer, nós todos temos que fazer um esforço para termos uma união nacional para reconstruir o Brasil. Porque a situação que nós estamos atravessando é gravíssima. Eu dei aí os dados. Entre este ano e o ano que vem, o PIB cai mais de 6,5%. Este ano, mais o próximo, serão 3 milhões de desempregados. Pernambuco até agosto e setembro perdeu 70 mil empregos, isso deve ir a cem mil até o final do ano, e outro tanto no ano que vem, num ritmo até mais forte. Por quê? Porque é o conjunto da economia que está desabando. E com esse conjunto desabando, diminui o dinheiro para gastos sociais, aumenta o desemprego, enfim, consequências muito dramáticas. E a gente tem que procurar uma saída para isso.
APOIO DO PSDB AO PMDB
Não. Seria o PSDB apoiar um governo de união nacional. Que terá que ser feito a partir de um entendimento sobre o que fará o próximo governo. Mas não é propriamente você apoiar tal partido, não se trata disso. Trata-se de você apoiar um governo, que sucederá um governo muito fraco e que tem uma responsabilidade enorme no futuro, de reconstruir o Brasil. E as negociações para efeito de participação no governo devem ser feitas com esse critério: o interesse do país.
DECRETOS ASSINADOS POR TEMER
Eu não conheço o processo, eu não vi essa movimentações. Mas evidentemente ele assume um papel transitório. Nenhum vice-governador, vice-prefeito ou vice-presidente que assume monta um novo governo, não é? Ele vai na base daquilo o que o governo está fazendo e trabalha rotineiramente. Eu acho que aí seria outro tipo de análise e outro tipo de classificação.
APOIO DO PSB AO IMPEACHMENT
Eu ouvi o governador Paulo Câmara como eu tenho ouvido muitos outros. Mas o motivo da minha visita aqui não foi em torno da questão do impeachment. Como ele está do meu lado ele tem uma posição que poderá explicar. Agora, o fato é que o que eu encontro dentro do PSB, geral, isso é quase unânime, é uma vontade imensa de que essa crise seja equacionada e resolvida. E, nesse sentido, no Congresso nós trabalhamos juntos. No Senado, eu trabalho normalmente com o pessoal do PSB e com a bancada. Há posições diferentes, há. Mas há um interesse maior no sentido de que todos querem uma saída.
MANOBRAS DE CUNHA NO CONSELHO DE ÉTICA
Eu não entendi bem o que aconteceu tecnicamente. Mas eu acho que não é bom postergar as coisas porque vai criando um cículo vicioso que tem implicações inclusive na questão do impeachment. Então, eu espero que o pessoal encontre maneiras de resolver rapidamente todas essas questões pendentes.
CANCELAMENTO DO RECESSO
A Câmara sozinha não pode fazê-lo, tem que ser o Congresso no seu conjunto. Eu acho que quanto mais depressa, melhor.
PROTESTOS PRÓ-IMPEACHMENT
Eu acho que é importante. Mas eu acho que o mais importante de tudo vai ser as pessoas julgarem, a medida que a questão apareça e a possibilidade da votação, o que é que vai ser. Eu não tenho dúvida que o começo do processo de impeachment vai provocar uma espécie de plebiscitação na cabeça das pessoas. Eu não tenho a mesma preocupação quanto ao tempo: se é melhor deixar para depois ou para antes. Eu acho que tem que ir o mais depressa possível. E eu tenho certeza que a população brasileira formará o seu juízo e fará chegar o seu pensamento, a sua sensação e a sua decisão aos parlamentares, que são muito sucetíveis a isso. E o que eu vejo realmente é uma tendência de a grande maioria querer que se troque de governo.