Prestes a assumir a presidência do PSDB-PE, o prefeito de Jaboatão, Elias Gomes, terá em 2016 um abacaxi nas mãos: definir se a legenda lançará candidato próprio no Recife ou se rompe de vez com o PSB. Após oito anos, ele deixará a gestão com crescimento na arrecadação e recursos garantidos para obras. Confira a entrevista completa e exclusiva ao Jornal do Commercio.
JORNAL DO COMMERCIO - Em um ano de crise, o senhor conseguiu fechar a arrecadação com crescimento na faixa dos 20% em relação a 2014. Nem o Estado nem muitas cidades conseguiram. Como alcançou esse resultado?
ELIAS GOMES - O equilíbrio fiscal se deve basicamente a uma ação em dois movimentos. Um é você controlar os gastos. E isso a gente vinha fazendo antes que a crise se instalasse. Com o controle dos gastos, a melhor aplicação dos recursos, você faz uma política uma política de potencialização, fazendo mais com menos recursos. A outra vertente é a receita. Queremos, mesmo com o recrudescimento da crise, que é bastante provável, continuar aumentando a nossa arrecadação, indo em cima de um vazio tributário e fiscal que existe. Ou seja, melhorando a eficiência da máquina arrecadadora. Nós fomos em 2014 e 105 o segundo município do Nordeste que mais ampliou a arrecadação. Nós tivemos uma ampliação de receita de 16%, ficando apenas atrás de Camaçari, na Bahia. E em 2016, a nossa meta é continuar melhorando a qualidade da receita, ampliando a capacidade de judicialização das dívidas, focando nos maiores devedores. Estamos reforçando nossa área da Procuradoria Fiscal com mais quadros, mais equipamentos, metas mais definidas. O segredo para enfrentar a crise, que foi sucesso em 2015, será reforçada em 2016. Devemos fechar 2015 em torno de 20%. As metas são definidas a cada quadrimestre na Secretaria da Fazenda, são definidos quem são os responsáveis e quais a medidas de cada um. Nós fazemos uma avaliação semanal de mensuração de resultado. cada um tem nome, tem CPF e responsável pela ação. Até a foto dele fica lá no sistema. Isso tudo faz uma forma que, além da responsabilização coletiva, fique apenas numa manifestação de intenção, mas em algo que tenha responsabilização coletiva e pessoal, direta a cada um dos agentes públicos, no que concerne em reduzir e arrecadar. Reduzir nem sempre é fácil, porque nós ampliamos muito os serviços em 2015. Nós ampliamos na área da educação, criamos três mil novas vagas. Hoje temos 59 mil alunos e temos capacidade de receber 70 mil alunos na rede municipal, com a construção de novos prédios. Ampliamos na saúde. A cobertura na Saúde da Família era 40% quando nós assumimos, hoje é 62% e em 2016, mesmo com a crise, vamos chegar a 70% de atendimento que é preconizado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde. Mesmo com a crise, Jaboatão está crescendo, não só em arrecadação mas sobretudo na prestação de serviços e na infraestrutura.
JC - Recentemente, a Prefeitura teve aprovado o empréstimo junto à CAF (Comissão Andina de Financiamento). A Prefeitura do Recife acredita que os recursos podem sair ainda no primeiro semestre de 2016, mas o governo federal trabalha com 2017. Qual a sua expectativa?
ELIAS - Eu pessoalmente acompanhei esse assunto, não deleguei. Iniciei a mobilização com outros prefeitos do País, assumi isso com o prefeito Márcio Lacerda, de Belo Horizonte, e tratei desse assunto em todos os níveis. No parlamento, com o presidente do Senado, tratamos com outros senadores, na Câmara dos Deputados, igualmente. No Ministério de Governo, tratamos diretamente com Berzoini, mas antes já havíamos tratado com o ministro da Fazenda na época, Joaquim Levy. Temos um consultor que trata especificamente desse assunto para o município. O consultor foi colocado desde que iniciamos o processo do financiamento. Ele nos dá semanalmente a posição e faz o acompanhamento formalmente. Do ponto de vista da prefeitura, temos a nossa área de relações internacionais, de captação de recursos internacionais. O empréstimo da CAF é menos burocrático. A gente tinha a opção do Banco Mundial e da CAF. Fizemos um estudo comparativo e viemos que a CAF é mais simples por ser uma organização menor, por ser focada para a América Latina e com o nível de exigência mais simplificado. Nossa expectativa é que a gente receba recursos ainda no primeiro trimestre de 2016, salvo uma virada de mesa. Diante de uma instabilidade política, a gente fica sempre com o pé atrás. Agora é a aprovação no Senado. Estando no Senado, por todas as conversas que eu tive, especialmente as duas vezes que estive com Renan Calheiros, esse assunto será pacífico, será tratado com celeridade.
JC - Como está a sua relação com a Câmara dos vereadores? O senhor teve dificuldade para aprovar projetos por causa da briga de vereadores?
ELIAS - Nenhuma. As matérias foram encaminhadas até a primeira quinzena de dezembro e 100% delas foram apreciadas. É uma luta interna de poder, acho que já é pensando na sucessão de 2016 ou 2017. Mas eu procurei não me incluir na questão. A luta deles é mais no plano administrativo, de poder, e eu procurei ao máximo não entrar nessa questão. Já tenho problemas demais para resolver. Até agora não atrapalhou. Isso pode ter reflexo no futuro, aí a gente vai no momento certo, procurar ter uma discussão.
JC - O senhor citou investimentos em saúde e educação. Como o senhor avalia a sua gestão? Se o senhor pudesse ser candidato, acha que, com o que realizou, seria reeleito?
ELIAS - A primeira questão é que o nosso governo, inquestionavelmente, foi um governo de mudanças, de transformação na cidade. Do ponto de vista político, pela marca que nós imprimimos de um governo democrático, amplo, plural, de uma gestão que prima por resultados, que se diferenciou sobretudo pela ética, fazendo um verdadeiro antítese do que era Jaboatão no passado e do que no presente no campo ético. A segunda questão é no campo das realizações. Posso dizer que na última década, e posso dizer com números e com dados, em todas as áreas, não obteve o resultado que nós estamos tendo em sete anos de gestão. Em todas as áreas. Na área de desenvolvimento, Jaboatão já se destaca com PNUD, PNAD, como os municípios que melhoram a qualidade de vida da sua população, é hoje um dos bons destinos para se morar em Pernambuco e no Nordeste. Um outro aspecto é que ainda temos em 2016, vamos terminar o governo para cima, com muitas coisas a serem concretizadas. Por exemplo, na área de educação, nós já chegamos na marca de 30 novas escolas e vamos entregar mais 17 até o final do próximo ano, sendo duas em janeiro, três até fevereiro, uma em março. Em janeiro serão iniciadas as construções de mais seis escolas em fevereiro, de mais sete novas escolas. Ainda no primeiro semestre, nove escolas serão ampliadas e reformadas, além de 13 quadras esportivas. Boa parte é em substituição, que estavam em prédios alugados. Cerca de 40% da rede era em prédios alugados. Outros 20% estavam em prédios impróprios, inadequados. Estamos fazendo uma mudança e agora já ampliando. Temos a capacidade de receber em 2016 75 mil alunos. Hoje, são 59 mil. O ano de 2016 aponta que iremos dar saltos grandes ainda na área de educação, que é a grande marca da gestão.
JC - Essa ampliação das vagas é porque ocorre uma procura maior?
ELIAS - Jaboatão privatizou o ensino. Há muitos anos, as gestões fizeram um processo de comunitarização da educação. Isso mascarava um convênio que a prefeitura fazia com vereadores, que colocavam uma escola de fundo de quintal ou improvisada, numa casa que ele tinha. Depois, se transformavam em escolas privadas, com o fim do subsídio. Essas escolas privadas se espalharam demais, mas nem todas conseguiram, porque não tinha um nível de qualidade. Então, a escola pública começou a melhorar a qualidade, tanto que saímos do 10º lugar do Ideb em 2009 para o 1º lugar, tanto nas séries iniciais, quanto nas séries finais, na Região Metropolitana. Nós ficamos em primeiro e o Recife, em segundo. Há um deslocamento de famílias que estão tirando os seus filhos da escola pública particular. Há uma tendência de crescimento de procura pelas escolas municipais em comparação com a privada, que não está rendendo tanto quanto a pública. Não todas as privadas, há as de elite, que se mantém.
JC - Como senhor avalia 2016 em Jaboatão? Será uma eleição disputada em Jaboatão?
ELIAS - Vai ser num cenário de crise e quem for para uma disputa prometendo mundos e fundos, vai começar perdendo o discurso. As pessoas vão precisar ver para creer. E nós temos o que mostrar. Para mim, essa eleição será da razão. Não basta auê, promessas mirabolantes, críticas muito ácidas. Se um governo tiver, como nós temos, credibilidade, não temos deslizes ético, a população sabe que tivemos aquelas quadrilhas que tomavam conta do poder, implantamos um governo comprometido com a boa aplicação dos recursos públicos, realizamos. Claro que muito está por ser feito, mas tem um patrimônio de reali˜zações importantes. Portanto, nós vamos para a disputa com o discurso consistente. Evidente que não será fácil. Não será fácil para ninguém nessa eleição, nem para governo, nem para oposição. O governo vai ser sempre muito cobrado, e a opisção tem que ter a medida certa na crítica, porque se exagerar, a população já sabe que está sendo enganada naquela velha história que quando a esmola é grande, o cego desconfia.
JC - Na sua gestão, há três pré-candidatos cotados para 2016: as secretárias Mirtes Cordeiro, pelo PPS, e Conceição Nascimento, pelo PSDB, e o vice-prefeito, Heraldo Selva, do PSB. Como está esse relacionamento interno?
ELIAS - Nenhum nome levantei, sugeri ou batizei. São nomes que surgem naturalmente. O nome de Conceição surgiu de manifestações de setores do PSDB, de um movimento mais de base porque ela lida mais com a base. O nome de Heraldo, naturalmente, como uma pessoa que é vice-prefeito, já foi vereador do município, e que pertence ao partido do governador. Nada mais natural. O de Mirtes foi uma manifestação do PPS, que legitimamente acha que deve pleitear. Mas com nenhum destes eu firmei qualquer compromisso ou tomei qualquer decisão. Acho prematuro. Se eu tenho um candidato agora, eu encurto o meu tempo de gestão. Numa crise, você precisa economizar tudo, inclusive tempo. Eu tenho que ganhar tempo e não perder tempo com a eleição, que não é pauta da sociedade. Se você perguntar quais são as maiores preocupações dos brasileiros hoje, eu tenho certeza que eleição vai ficar nos últimos lugares. Então, por que eu inverto a pauta, colocar eleição em primeiro lugar, e não saúde, e não educação? Por falar em Saúde, a gente vai implantar em 2016 dez novas unidades de Saúde da Família para chegar àquela marca de 70% do PSF. A nossa pauta precisa ser a mais perto possível do cidadão e não descolada da pauta do cidadão. Se fizer qualquer pesquisa no Brasil, 90% não sabe em quem votar, se quer votar, não está pensando em eleição. Por que isso tem que ser a nossa prioridade se não é a prioridade do cidadão, do eleitor? Há uma grande ansiedade nesse aspecto e nós vamos conter essa ansiedade o máximo possível. O primeiro trimestre vai ser muito útil para outras coisas.
JC - Esses recursos e as obras que serão feitas com o dinheiro do CAF podem ajudar a vitrine da cidade para ajudar o candidato que o senhor for apoiar?
ELIAS - Nós não contamos com ele para decidir eleição, mas ele ajuda a cidade, porque ele vai estar bem dividido em setores importantes da cidade. A área de maior volume de obras vai ficar em Cavaleiro, serão 23 ruas e avenidas que serão pavimentas. Outra área muito bem beneficiada será a ligação de Jaboatão com o Cabo, com a requalificação da Estrada da Curcurana, ligando-a à BR-101, desviando do Centro de Pontezinha, que é um gargalo, saindo ali na altura do antigo posto da Polícia Rodoviária Federal. É a via atual, desviando do centro urbano de Pontezinha. Vai ter ciclovia, calçadão. Também um novo corredor de transportes, que é a Avenida Ulisses Montarroyos, que liga a região de Prazeres, passando por Piedade, Candeias e indo até Barra de Jangada. Essa via será duplicada. Ela é toda sinuosa, curva, ela será alargada e será um corredor de transporte tão importante quanto é a Avenida Bernardo Viera de Melo e a Ayrton Senna. Vai dar uma maior fluidez, facilitando e aproximando mais o sistema de transporte da área mais periférica das praias. E, finalmente, o Parque Linear da Orla, que incrementa o turismo. Você vai ter ali todo um investimento na área de iluminação, drenagem, calçadas, ciclovias, áreas para contemplação, equipamentos de lazer, quadras de esportes, quiosques, nos oito quilômetros da orla do município. O conjunto é esse: começa lá em Cavaleiro, passa por Prazeres, barra de Jangada, vem Curcurana, Pontezinha e chega na orla, sendo R$ 220 milhões que serão muito bem divididos. Nós vamos fazer também a correção que houve desgate na engorda da praia, em Barra de Jangada, na foz do rio, onde a solução técnica já está estudada, é muito simples, representa apenas 10% do que foi executado.
JC - O senhor também é vice-presidente do PSDB em PE e vai assumir a legenda a partir de junho. O partido deverá ter candidato no Recife em 2016? Quando esteve aqui no mês passado, Aécio Neves deixou o quadro indefinido.
ELIAS - Recife tem uma situação muito atípica. Aqui em Pernambuco é o breço do PSB. Foi com Eduardo Campos e continua com Paulo Câmara, que foi o governador mais votado do PSB. O PSB de Pernambuco também detém o controle nacional do partido, com Carlos Siqueira. Enquanto isso, sabe-se da relação que o PSB teve com Aécio no segundo turno das eleições. Não é uma questão simples. Não é uma questão, também, que será resolvido com barganha, trocar Recife por Jaboatão, Jaboatão pelo Cabo, o Cabo por Recife. Essa questão é política que envolve interesses desde o campo municipal, passando pelo campo estadual e desembocando na questão nacional. É uma solução de grande complexidade. Por outro lado, não pode se negar a legitimidade de Danial (Coelho) e do PSDB em pleitar a disputa na capital, haja visto o resultado que teve Daniel nas eleições municipais de 2012. Então, você tem na verdade uma grande questão a ser resolvida. E questões complexas não se resolvem de formas simplistas, como está tentando se resolver. Eu particularmente me preocupei muito quando o prefeito Geraldo Julio convidou para compor o seu secretariado a vereadora Aline sem conversar com o PSDB nem do município, nem o estadual. Eu disse isso a ele. Eu disse “olhe, isso aí, ao invés de resolver, isso acirra”. Há uma tensão além da necessária nessa relação do PSB com o PSDB. Essa questão tá no plano municipal. Essa tensão e esse acirramento é inegável, é querer tapar o sol com a peneira. Quem é o principal líder do PSDB hoje no Recife? Daniel Coelho. Foi o mais votado para deputado federal, teve uma excelente votação para prefeito, tem o controle do diretório municipal, tem o presidente do diretório municipal que é convictamente, independentemente de quem quer que seja o candidato ou adversário, de que o partido deve disputar todas as eleições majoritárias. Isso é convicção de André Regis, que acredita que o crescimento do partido passa por ter candidatos majoritários. Eu não acho que isso vai ser resolvido daqui a um mês não. Eu acredito que essa questão vai demandar mais tempo, vai delongar mais, e vai ser necessário muitp equilíbrio, muito bom senso, porque não vai ser com movimentos de esperteza nem de pressão que vai se resolver isso. Isso vai ser construído no dia em que a nacional, a municipal e a estadual conversarem e fizeram a conversa verticalizada e horizontalizada. Não vejo, de forma alguma, solução rápida e imediata à vista. Seria não ser franco, não ser sincero achar que vai ser um passeio essa solução. Mas vamos procurar conversar, buscar no diálogo fazer a construção possível, que pode ser a solução de apoio de uma força a outra no primeiro turno ou uma outra solução que é os dois partidos disputarem no Recife a eleição e se juntarem num eventual segundo turno. Essa é uma outra possibilidade que não deve deixar de ser cogitada, embora eu esteja falando no campo das cogitações. Lá mesmo em Jaboatão, a história não é fácil, o convívio com o PSB, apesar de toda a minha amizade, história de relação. Heraldo trabalhou comigo quando fui prefeito do Cabo. Há tensões, não podemos negar, não podemos ser hipócritas. Há conflito de interesses entre o PSB e o PSDB. Se há no plano estadual uma grande convergência, no plano nos municípios, elas necessariamente não se repetem. Se vale para o Recife essa unidade porque somos aliados no Estado, porque não vale para o Cabo, para Caruaru, Olinda? O PCdoB é aliadíssimo do PSB, mas o PSB tem pré-candidato a prefeito a Olinda. E não é um qualquer, se chama Antônio Campos, irmão do ex-governador Eduardo Campos. Essa regra ela tem os níveis de prevalência. Aliança estadual é aliança estadual, aliança municipal é aliança municipal. Aliança federal é aliança federal. Para citar um exemplo, o PMDB e PT coabitam no plano federal como aliados e nos municípios, onde é que o PT e o PMDB estão juntos? Raríssimos os municípios no Brasil em que estão juntos, apesar de serem aliados no plano nacional. Não existe isso. Não vai ser no grito, não vai se na pressão, não vai ser a coação que se vai resolver essa questão. É preciso diálogo, bom senso, sentar e se conversar como iguais, como parceiros de um projeto. É muita capacidade de negociação, muito respeito para com o aliado, que não vale a pena no momento de eleição, um aliado tem que ser para todos os momentos. Vai ter que ser um grande exercício de paciência. Esse tema me alonguei tanto para dizer, é tão complexo que não tem uma resposta simples para ser dada.
JC - O PSB hoje não é mais um aliado de todos os momentos em Jaboatão?
ELIAS - O PSB é um aliado importante, especialmente no plano nacional. Mas nós tivemos problemas no plano municipal. Em 2008, eu disputei a eleição tendo o PSB com outro candidato, apoiando o candidato no PT. Em 2012, nós fizemos uma aliança com o PSB no último dia do prazo, que foi na véspera da convenção, porque o PSB tinha um candidato que fez campanha pelo município, fez campanha durante um ano, que foi João Fernando Coutinho. Se o PSB percorreu esse caminho até o último dia do prazo, que foi em junho, lá em Jaboatão, por que não é dado ao PSDB também, no Recife, ter o direito de se colocar e ir esgotando, esperando o melhor momento para tomar a decisão? Na política, um mês vale muito, imagina seis meses. Dizia Marco Maciel: “Quem tem tempo, não tem pressa”. Eu disse isso muito. Se tem uma ansiedade muito grande nesse processo e acho que essa ansiedade não ajuda. Essa ansiedade levou Geraldo a convidar Aline para compor o governo sem conversar com o partido, nem no plano estadual, nem no plano municipal. Isso ajuda ou atrapalha? É claro que isso não ajudou. E eu disse isso a ele, numa conversa olhando para ele, fraterna. Não significa que o problema é indissolúvel, não tenha solução, mas esse tipo de movimento não ajuda. Dizer que é aliado no plano estadual e ter que ser forçosamente aliado no plano municipal só faz atrapalhar, porque essa lógica não prevalece para ninguém em lugar nenhum do Brasil.
JC - Então o senhor descarta a possibilidade de o PSDB indicar o vice de Geraldo Julio?
ELIAS - Eu acho que o PSDB tem candidato. Essa candidatura está posta e ninguém tem autoridade para chegar e desautoriza-la. O PSDB tem uma diretriz nacional que diz que o partido deve ter candidato em todas cidades acima de 200 mil habitantes. E não diz “à exceção do Recife”. Essa é a diretriz nacional, aprovada por unanimidade e assinada por Aécio Neves. Há a legitimidade de Daniel, que já me referi, por ter sido o deputado federal mais votado do partido no Recife e ter tido um excelente desempenho na eleição de 2012. Então você imagina esses três aspectos que contam a favor. E o que contará no contrário, só muito diálogo, só muita conversa. Bravata não resolve. Frase feita não vai resolver. Isso para ser desfeito, ser desconstruído, para virar uma exceção, tem que ser algo de uma dimensão de conversa, de entendimento, num nível muito mais elevado e profundo. Eu acho que passa por uma conversa nacional, ouvindo as instâncias estadual e municipal, como já disse.
JC - Qual a sua expectativa então para o ano de 2016?
ELIAS – Eu vejo os companheiros prefeitos e governadores, mais especificamente prefeitos, com quem eu converso, muito assustados com 2016. E eu digo para eles que a gente tem que aprender a conviver na adversidade e na dificuldade. Que a gente tenha sido surpreendido com a crise de 2015, e aí ela tenha prejudicado muito, tudo bem. Mas que a gente vá apanhar em 2016 por conta dessa crise, não razoável. Acho que a crise existe, ela é grande, Jaboatão não é uma ilha, nós fomos afetados por ela. Mas eu acredito que nós temos que ter a capacidade de sermos maior que a crise. Como você é maior do que a crise? Você procurando agir de forma inovadora e corajosa. Ou seja, se tem menos dinheiro, vamos gastar menos dinheiro. Se tem menos recursos, se a receita está caindo, vamos encontrar formas de fazer a receita aumentar. Vamos ser mais rigorosos na cobrança com devedores, vamos apertar mais o cinto, vamos ser mais firmes na execução das nossas dívidas de maneira que as forças apareçam. Ser bom no bom é muito fácil. É preciso ver como ser bom no ruim, ser razoável no ruim. Nós temos o dever de sermos pelo menos razoáveis em 2016 e não nos assombarmos com a crise porque nós somos maior do que ela. Nós enquanto pessoa física, nós enquanto instituição, prefeoturas, governo, e nós enquanto pessoas. Nós somos maior do que a crise. Ela passa e nós vamos permanecer e vamos trabalhar para superá-la.
JC - Como o senhor está vendo a atuação do governador Paulo Câmara?
ELIAS - O governador Paulo Câmara ele teve uma postura, se ao mesmo tempo discreta, foi muito serena e firme neste ano de 2015. Ele fez o que teria de ser feito. Ele sentou, cuidou da organização das finanças, desator nós que estavam precisando ser desatados, tomou as medidas para enfrentar a crise. E acho que ele entra 2016 com mais segurança. Tenho certeza que Pernambuco terá um ano melhor em 2016 do que foi 2015. Embora 2015 não tenha siro um ano ruim dentro das condições da crise. As conversas que tenho tido com ele, o ânimo, a maior segurança que ele está passando, dominando melhor a máquina. Umas coisas que eu destacaria no governador tem sido a forma muito simples, essa qualidade de ouvir e está tomando gosto pela política. Ele realizou já algumas incursões nacionais, como a questão, por exemplo, da maioridade penal, do desarmamento, ele fez um ato importante, muito representativo aqui, com a vinda do ministro da Justiça (Eduardo Cardoso) e o secretário José Maria Beltrami, do Rio de Janeiro. E mais recentemente ele trouxe aqui José Serra para debater um tema do futuro do Brasil. Essas iniciativas do governador estão mostrando que ele está tomando gosto pela política, sem atitudes do político tradicional, que muitas vezes passa uma certa soberba. Paulo não tem soberba e ele está ocupando o espaço com a liderança política da dimensão de um governador do Estado de Pernambuco deve tomar. Acho que 2016 vai ser positivo e acho que vai ser necessário que ele tome duas providências que eu acho que seria bastante simbólicas. Uma era ele fazer o movimento inverso com os prefeitos. Ao invés de reunir os prefeitos para oferecer recursos, ele chamar os prefeitos para pedir ajuda em relação a algumas questões. Como a prefeitura pode atuar na área de segurança e fazer um contrato com esses prefeitos por região do Estado, firmando as competências e responsabilidades dos municípios. Outra questão que eu acho que seria importante é dar uma maior enxugada na máquina do Estado. Acho que ele tem propensão a isso. Não é fácil, porque tem interesses políticos em coabitação de diversos partidos. Acho que esse aspecto tem um simbolismo muito grande, menos do ponto de vista do que vai economizar do ponto de vista financeiro, e mais do que ele vai dizer para Pernambuco e para o Brasil ao reduzir o tamanho da máquina pública.
JC - Como está o relacionamento do governador, têm conversado?
ELIAS – Muito bom o relacionamento. Inclusive, não conheço nenhum momento em que eu tenha sido prefeito que tenha tido um acesso tão fácil a um governador, como é o caso de Paulo Câmara. Normalmente me comunico com ele por Whatsapp e ele me responde as questões objetivamente. Fora isso, todas as vezes que lhe solicitei um horário para conversar, ele atendeu, foi muito atencioso. A última conversa que tive, ele próprio tomou a iniciativa e nós conversamos sobre as diversas questões da política nacional e da política local. Falei com ele o que tenho falado sobre a questão nacional. A crise maior de todos os poderes está na Câmara dos Deputados, que é maior do que a crise de Dilma. O presidente está a um passo da queda, é inevitável. Propus a ele, conversei, já tinha feito a três meses atrás com Jarbas. Acho que a gente tem que discutir o pós-Cunha. Eu propus, e ele concorda e está fazendo movimentos nesse sentido, de uma candidatura suprapartidária para presidência da Câmara. E o nome que nós entendemos ser comum é o nome de Jarbas Vasconcelos. Jarbas tem dimensão nacional, foi presidente nacional do PMDB, foi governador duas vezes, foi prefeito duas vezes, é um homem que tem credibilidade. É a oportunidade que o PMDB tem de limpar o seu nome, é levar Jarbas para uma candidatura suprapartidária. Falei com Betinho Gomes para que ele levasse ao PSDB o nome de Jarbas, falei com Tadeu Alencar para que o PSB levasse também o nome de Jarbas e com o PPS, estou esperando a oportunidade de conversar com Raul Jungmann para que o PSS, PSDB e PSB pudesse lançar a candidatura de Jarbas e buscar apoio dentro do PMDB, o que eu acho que hoje não é difícil. Há uma disputa entre a secção do Rio e a secção de São Paulo e a melhor a forma para Temer enfrentar a secção do Rio é puxar um nome limpo e respeitado pela sociedade, porque essa eleição não vai passar ao largo da sociedade brasileira.
JC - O senhor acha que o nome de Jarbas é viável? Ele não transita fácil dentro do próprio PMDB, pelas posições que defende. E não é próximo do governo federal, que já atua em prol de Picciani.
ELIAS - Vamos por eliminação. Quem é Picciani? Picciani é membro de uma família de políticos, da política mais conservadora e atrasada do Brasil, do Rio de Janeiro. Trocar Cunha por Picciani é querer fazer chacota com os brasileiros que estão insatatisfeitos com essa prática. É o PMDB trocar seis por meia dúzia. Picciani era o garoto preferido de Cunha até poucos dias. Se o PMDB quer uma solução séria, e eu acho que Temer quer, o nome de Jarbas seria essa alternativa para limpar o PMDB, para se limpar desse lamaçal que está aí. Mas eu não estou propondo uma candidatura do PMDB, estou propondo uma candidatura suprapartidária. Se você parte PSDB, PSB, PPS com setores do PDT e setores do PMDB, Jarbas já parte com uma candidatura com mais de 120 votos. Isso agregado a um programa que ele pode fazer de fazer com que o parlamento tenha uma agenda nacional, como os principais temas que hoje são discutidos, de reformas para o Brasil, da governança e da governabilidade, isenção e tratamento técnico adequado, e jurídico, para questão do impeachment, Jarbas pode ser esse nome que não será nem do governo nem do PMDB, mas será um nome das oposições, de parte dos governistas e sobretudo da sociedade brasileira, que se sentiria contemplada com Jarbas presidente da Câmara. Isso tudo junto tem um potencial político importante que não pode ser desprezado.