Neste ano eleitoral, dois dos principais líderes da oposição no Estado terão que se desdobrar para dar conta de duas missões distintas. Uma na esfera nacional - a defesa do projeto político capitaneado pela presidente Dilma Rousseff (PT) - e outra no âmbito local, que é eleger o maior número de prefeitos e vereadores. Até outubro, tanto o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, quanto o líder do PT no Senado, Humberto Costa, terão que ter um olho em Brasília e outro em Pernambuco para garantir que os respectivos partidos não saiam desidratados do pleito.
Com agenda atribulada e diversas viagens internacionais na rota, Armando enfrenta dificuldade para conter a debandada de políticos do PTB. Não raro petebistas se queixam da ausência dele junto às bases. Cacique-mor da sigla no Estado, o ministro é quem costuma dar a palavra final na costura das alianças. Mas, em reserva, aliados se dizem “órfãos” desde que ele assumiu o ministério. Do fim de 2015 para cá, a legenda perdeu dois vereadores no Recife, dois deputados federais e deve perder dois estaduais.
Prestes a deixar o PTB, o deputado estadual Romário Dias conta que não estão sendo articulados encontros ou reuniões. “A gente estava querendo fazer evento em Arcoverde, Petrolina e Limoeiro para definir a questão eleitoral, mas não aconteceu. De repente você vê que nenhum desses movimentos políticos está ocorrendo. A maior liderança do partido, que é Armando, de quem eu sou amigo pessoal, está ausente pela função que ocupa, que é importante, mas que está consome o tempo dele”, lamenta.
O ministro não foi localizado para comentar a queixa dos correligionários. Por meio de nota, sua assessoria explicou que ele não deixou de se interessar pelas demandas locais, mas que tem a agenda no ministério para cumprir. “Ele tem conciliado os compromissos de Brasília com os daqui, mas não deixa de ter protagonismo”, diz o texto.
A missão do senador Humberto Costa no Congresso também irá demandar mais esforços do que o calculado. Os planos do petista para este ano era afastar-se das pelejas à frente da liderança para reestruturar a legenda em Pernambuco. No entanto, ele foi reconduzido ao posto e só virá ao Estado nos fins de semana para visitar as bases e acompanhar as costuras políticas.
“Minha pretensão era ficar mais focado no Estado, nas candidaturas a nível municipal, mas a bancada do Senado teve o consenso para que eu continuasse na liderança. Isso foi uma demonstração de confiança dentro do governo e do partido. Não podia deixar de assumir essa missão”, comentou.
O ‘recesso branco’ do Congresso, em julho, é visto como alternativa para se fazer presente. “Na verdade, não tenho abandonado o partido. Ano passado, eu não fiz menos do que 60 viagens a cidades do Estado”, conta o senador. Para o petista, a maior mudança é que ele não estará por perto para acompanhar a construção das alianças e na definição dos nomes que estarão na disputa. Trocando em miúdos, ficará mais complicado para ele dar a palavra final nas costuras.
Quanto às candidaturas, Humberto pontua que as prioridades são garantir o mandato dos prefeito já eleitos e incentivar aqueles com condições de ganhar. “Vamos olhar muito especialmente o Recife, cidade que tivemos boas gestões e fizemos um bom governo”, afirma. Em Olinda, o martelo ainda não está batido. Apesar de o grupo da deputado Teresa Leitão trabalhar pela candidatura dela à prefeitura, a aliança com o PCdoB ainda pesa na balança.
Presidente do PT em Pernambuco, Bruno Ribeiro, avalia que tanto Armando quanto Humberto vão conseguir se dividir nas funções. “Ninguém tem importância em Brasília se não tiver importância no seu Estado. Isso é regra geral lá”, disparou.