"Escola não pode ficar alheia ao debate político"

Mestre em educação alerta para o papel dos educadores no aprofundamento do debate, com crianças e jovens, sobre crise e impeachment
Do JC Online
Publicado em 03/04/2016 às 9:00
Mestre em educação alerta para o papel dos educadores no aprofundamento do debate, com crianças e jovens, sobre crise e impeachment Foto: Divulgação/Fafire


O mestre em educação José Paulino Filho, coordenador do curso de pedagogia da Faculdade Fafire, no Recife,  efende que escolas não devem ficar alheias ao debate nacional sobre a crise política no Brasil. “Não tem que ser partidária, mas fazer o aluno ler o mundo e compreender tramas e jogos por trás da informação”, afirma ele. 

JC - Qual o papel da escola e do educador na formação política das crianças e adolescentes?

JOSÉ PAULINO FILHO - A educação não é redentora, mas um instrumento importante de transformação social. A escola pode contribuir para a formação humana cidadã ou pode ser também instrumento de manipulação se ela não tiver a dimensão maior da formação, a leitura de mundo. Exerce função fundamental, em cada etapa, da educação infantil, no preparo para a vida social, o respeito, a convivência plural, e no ensino médio, quando o foco é a formação profissional. Num contexto social e político, exerce papel de conscientização. 

JC - Para não exercer manipulação, que cuidados deve ter a escola em momentos de acirramento?

JOSÉ PAULINO - Vivemos hoje numa sociedade manipulada pelos meios de comunicação. A escola não tem que ser partidária, mas o educador precisa ter consciência política. A educação é um ato político. Paulo Freire dizia que antes de ler a palavra é preciso ler o mundo. Cabe ao educador fazer com que o estudante possa ler o mundo, ter uma visão maior, compreender os jogos que estão por trás da informação. 

JC - Às vezes educadores e gestores evitam falar de política para não haver briga na escola. Como vê essa opção?

JOSÉ PAULINO - Quando o educador e o gestor evitam o assunto, contribuem para o acirramento e a violência. Não é no sentido de orientar, mas de esclarecer. O que está por trás disso? Que jogo é esse? O que estamos lendo? O que é verídico e o que não é na política? O papel do professor não é se posicionar, mas levantar a discussão. 

JC - Recentemente foi postado numa rede social um desenho feito por uma criança expressando ódio por dois políticos, valorizado pelos pais...

JOSÉ PAULINO - Isso é perigoso. Qual é o papel da família? É proteger, assim como o da escola. E como a gente protege? Com informação, a arma mais poderosa. Quando vejo uma família mandar um filho pisar em cima do nome de uma pessoa e desejar a morte dela, é inaceitável. A criança está aprendendo a ser violenta a partir do seio familiar. Não é esse o papel da família, e sim colocar o que está acontecendo, fazer um contraponto. A escola é instrumento de transformação. O educador é a ponte, precisa de informação e equilíbrio emocional. O cenário que se apresenta é assustador, de acirramento entre as pessoas. Tem que enfrentar esse debate, expor os dois lados, o que há de informação correta num lado e no outro, viver de forma plural, respeitando as diferenças. 

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