O pernambucano José Múcio Monteiro chegou ao Tribunal de Contas da União (TCU) com a bênção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem foi líder do governo na Câmara Federal e ministro das Relações Institucionais. A proximidade com o petista, que já foi mais forte no passado, nunca gerou nenhum tipo de constrangimento pelo fato do ministro ser o relator das contas da presidente Dilma Rousseff (PT).
"Ele nunca tratou do assunto comigo. Isso aumenta a minha admiração por ele", disse o ministro, em conversa com o repórter na sala de seu apartamento, localizado no sexto andar de um prédio distante poucos metros da Avenida Boa Viagem, um dos cartões postais do Recife.
LEIA MAIS:
Ministro TCU que relatou contas de Dilma de 2015 diz que Brasil vive quadro policialesco
Dilma repetiu pedaladas e decretos, afirma TCU
Lula entra com representação na PGR contra Moro por medidas na Lava Jato
A relação de José Múcio com Lula foi costurada entre outras pessoas, pelo ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em agosto de 2014. São muitas as provas de amizade entre o ministro e o petista. Quando Lula ostentava a faixa presidencial, Múcio costumava cantar em algums festas realizadas na Granja do Torto.
Na internet, é possível encontrar referências elogiosas a José Múcio de um blog intitulado "Amigos do presidente Lula". Em uma das postagens, cujo título é "Dá-lhe, ministro José Múcio", há uma charge em que o então braço direito de Lula diz que o Brasil não será afetado pela crise.
Hoje, o ministro do TCU e o ex-presidente quase não têm contato, mas Múcio acompanha as notícias sobre os problemas do petista com a Justiça.
“Lamento muito por ele. Me custa crer que esteja diretamente envolvido nisso. Ele é despojado de bens materiais e espero que mostre sua inocência”, declarou Múcio.
Deputado federal por cinco mandatos consecutivos, José Múcio afirma que o Brasil hoje vive um momento de "caso de polícia" com uma "temporada de delatores e delações", mas pede um maior discernimento da Justiça.
"Quem sabe se nesse mundaréu não tem alguns inocentes? Porque no Brasil não há crime de perjúrio. Na Itália, quando você mentia, a delação ia zero. O grau de confiança ia a zero", destaca.
O ministro ressalta que o Brasil passar por um processo de depuração para que surjam novas lideranças. "O Supremo (Tribunal de Justiça) está com uma série de políticos envolvidos e não é nem numa gaveta, é num contêiner porque são muitos", adverte.
Em meio a tudo isso, ele afirma que não vê perigo da Operação Lava Jato ser finalizada devido a interesses políticos. "Me perguntaram se há risco para a Lava Jato se acabar. Moro (o juiz Sérgio Moro) é a pessoa mais protegida do País. Ninguém mexe com ele. As pessoas estão em dúvida com o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, mas com ele não", opina.