Mesmo que o projeto de Lei do governador Paulo Câmara (PSB) ainda não tenha chegado à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o reajuste da Polícia Militar (PM) dominou o embate entre governo e oposição, com bate-bocas, vozes alteradas e troca de acusações entre deputados estaduais. O Executivo propõe um reajuste em três parcelas (a última em dezembro de 2018), e incorporando gratificações como auxílio-transporte e de defesa civil; o que reduz o ganho da categoria.
Primeiro a tocar no tema, o deputado Joel da Harpa (PTN), que é militar da reserva, já subiu o tom comparando o secretário de Defesa Social, Angelo Gioia, ao ex-presidente Marechal Deodoro; e convocando a base do governo, que boicotou a sessão com a presença das associações militares da última quinta-fiera (2), para debater a proposta. "Do jeito que vai, a única saída é chamar a Liga da Justiça para resolver o problema da segurança pública: Batman, Robin, Super-homem e Hulk", ironizou.
Em seguida, o novo líder do governo, Isaltino Nascimento (PSB), defendeu a proposta, acusou as associações de PMs de se negarem a conversar com os comandantes (responsáveis pelas negociações com o governo), e lembrando o impacto de R$ 303 milhões que o reajuste terá nas contas do Estado. Em aparte, o deputado Aluísio Lessa (PSB) partiu para o embate, dizendo que a categoria descumpriu um acordo assinado de só discutir a questão salarial a partir de maio e sugerindo que os PMs querem fazer uma "discussão eleitoral".
Súbito, o bate-boca passou a ser de outra ordem, quando o deputado Romário Dias (PSD) tentou usar a palavra para ceder os 15 minutos de discurso de que tinha direito a Isaltino. No início da sessão, o presidente da Alepe, Guilherme Uchoa (PDT), anunciou, após 10 anos seguidos no cargo, que seria mais rigoroso com o tempo de fala de cada parlamentar, sem permitir que os debates se estendessem, como ocorria.
"Vossa Excelência quer brincar de ser presidente!", gritou Romário, cobrando direito a palavra. Em tom ríspido, Uchoa reagiu dizendo que ninguém estava brincando. No microfone, Romário classificou como "balela" o fato de Joel ter provocado o governo que, se tivesse coragem, compareceria a uma reunião com as associações.
Depois, o deputado "rebelde" Álvaro Porto (PSD) assumiu a tribuna, usando o tempo destinado ao líder da oposição, Silvio Costa Filho (PRB), e acusou a "liderança do governo" de "tentar cassar minha palavra". Pela manhã, Álvaro, que apesar de integrar um partido governista se tornou um crítico contumaz do governo Paulo Câmara, foi ao gabinete de Isaltino se inscrever para discursar, mas teve o nome retirado da lista de oradores.
À imprensa, Isaltino justificou que a escolha dos oradores seguiu uma estratégia do governo de escalar pessoas para defender a proposta da PM, já que eles sabiam que a oposição focaria o tema. Uma dessas pessoas foi o novo vice-líder Rodrigo Novaes (PSD), segnudo quem Joel e Alberisson Carlos, presidente da Associação de Cabos e Soldados (ACS), "disputam para ver quem radicaliza mais para ter mais votos em 2018".
Em aparte, Silvio Costa Filho cobrou respeito para com Joel, "um deputado como Vossa Excelência". Para o plenário vazio, após a votação da ordem do dia, Joel usou o tempo de liderança para dizer que ninguém decidiria como ele vai atuar em seu mandato e chamou Rodrigo de "covarde" por não ter ficado para ouvir sua resposta.
A promessa do governo é que o reajuste da PM chegue ao Legislativo ainda nesta segunda e comece a ser apreciado na próxima semana, quando todas as comissões já estarão montadas. Ainda não há previsão de quando a proposta chegará ao plenário para votação.