Por Itaquitinga, Marcelo Odebrecht brecou doações para Eduardo e Paulo

Em delação, Marcelo Odebrecht fala sobre amizade com Eduardo Campos e rombo em Itaquitinga
Paulo Veras
Publicado em 12/04/2017 às 18:36
Em delação, Marcelo Odebrecht fala sobre amizade com Eduardo Campos e rombo em Itaquitinga Foto: Foto: ABR


Em delação o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, diz que o imbróglio do Complexo Prisional de Itaquitinga fez com que ele evitasse colaborar com mais recursos para a campanha presidencial do ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014. No relato, ele afirma que, se houvesse a venda da concessão do presídio, ele poderia apoiar com mais recursos a campanha de Eduardo e do atual governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Essa petição foi remetida à Justiça Federal de Pernambuco (JFPE).

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Na delação, Marcelo Odebrecht afirma ter sido procurado por Eduardo para resolver o problema de Itaquitinga. Apesar de dizer que a área de presídios não era de interesse econômico para o grupo Odebrecht, o executivo colocou lá a DAG, construtora de um amigo, que ele financiaria de forma indireta, em atenção a relação de amizade com Eduardo.

"Estimativa que nos deram era R$ 10 milhões ou R$ 20 milhões, no máximo, para resolver os problemas. Quando a ADAG entrou, o que a gente pensava que era apenas um problema de execução da obra que não estava performando, era bem pior. Tinham coisas escabrosas. A concessão tinha pego um empréstimo do Banco do Nordeste e, um mês depois, tinha distribuído esse empréstimo como dividendos", conta Marcelo Odebrecht. "Quando a gente viu, a gente já tinha gastado R$ 50 milhões. Tudo a gente dava para a ADAG e ela colocava na concessão. E a gente viu que o buraco era maior. Quanto mais botasse, mais o buraco era maior. Chegou um momento em que eu disse: Eduardo, não tem jeito."

Na campanha presidencial, Marcelo Odebrecht afirma que contribuiu apenas com um valor emergencial para pagar algo que Eduardo precisava. Ele estima entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão o valor. Diz não saber se o valor foi aportado através de "caixa dois" ou de forma oficial.

JANTAR

No dia 16 de julho, o já candidato a presidente Eduardo foi jantar com Marcelo Odebrecht. A lista de convidados repassada ao condomínio para permitir a entrada dos veículos contava ainda com os nomes do empresário Aldo Guedes, ex-presidente da Copergás e sócio de Eduardo, e da ex-preimeira-dama Renata Campos. O relatório de movimento dos moradores diz que ele chegou às 21h11.

Foi nesse dia que Marcelo afirmou que brecaria o dinheiro para a campanha. "O que a gente botou na CIR é minha contribuição para você. Ou seja, enquanto você não resolver esse assunto, é como se eu já tivesse doado para você R$ 50 milhões. Agora, se você conseguir resolver esse imbróglio e eu rever esse dinheiro, eu posso voltar a contribuir", disse à força-tarefa. Menos de um mês depois, o jatinho usado na campanha de Eduardo caiu, vitimando o pernambucano.

AMIZADE

Na delação, Marcelo Odebrecht fala sobre a amizade que tinha com Eduardo Campos, com quem conversava sobre política. "Eduardo Campos talvez seja um dos exemplos mais bem acabados daquele critério que eu comentei de a gente ser uma empresa importante, cumpridora de performance, trazer projetos de interesse para o Estado. Tem uma relação de confiança, relação pessoal forte. Eu mesmo, com Eduardo, fui construindo uma relação forte pessoal. E ser uma grande contribuição através de dinheiro para necessidades, para projetos, tudinho", disse.

No material que enviou aos investigadores, Marcelo Odebrecht entregou extratos de ligações telefônicas com o ex-governador de Pernambuco. "Ele via a gente como uma empresa que resolvia os problemas dele. Alguém de confiança para tratar um assunto dessa dimensão. E, ao mesmo tempo, alguém que estava disposto a colocar R$ 50 milhões", diz.

Marcelo Odebrecht também diz que, no início, o ex-governador não sabia a dimensão do problema em Itaquitinga. Afirma que quando ele foi alertado sobre o empréstimo ao Banco do Nordeste, se mostrou surpreso. "Eduardo foi uma pessoa que a gente apoiou muito mas, em determinado momento, quase tudo nosso foi canalizado para esse processo", assinala.

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