No momento em que São Lourenço da Mata, cidade da Região Metropolitana do Recife, foi anunciada como o local onde a Arena de Pernambuco seria instalada para a Copa de 2014, nascia para os seus cerca de 100 mil munícipes mais do que um projeto esportivo, mas uma ambiciosa promessa de expansão urbana. Além do estádio, garantiu-se que a cidade receberia residências, shopping center, hotéis, e, consequentemente, outros empreendimentos seriam atraídos. A expectativa foi frustrada. Em seu lugar, restaram apenas uma arena que gera prejuízos milionários para o Estado e uma cidade devastada por escândalos políticos.
No final do último mês de setembro, o prefeito do município, Bruno Pereira (PTB), dois secretários e quatro servidores foram afastados dos cargos sob a suspeita de envolvimento com desvio de bens e rendas públicas da prefeitura. Em outubro, depois de encontrar indícios de irregularidades em contratos firmados pelo Executivo municipal com empresas das áreas de limpeza urbana, transporte escolar e saúde, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) expediu medidas cautelares suspendendo os efeitos dos acordos. Outros problemas envolvendo Pereira, vários vereadores e até um deputado estadual estão na mira no TCE, do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e da Polícia Civil.
Nas ruas, o sentimento da população é um misto de revolta e desapontamento. Para muitos, a chegada da arena, no momento em que Pernambuco estava em pleno desenvolvimento, significava o início de tempos áureos para São Lourenço. Hoje, no entanto, é difícil acreditar que aquele projeto arrojado um dia saia do papel.
“Eu duvido muito que façam sequer metade do que foi prometido. Vejam como a cidade está (apontando para uma pilha de lixo). Na escola onde a minha filha estuda, a merenda é tão ruim que ela se recusa a comer. A violência é enorme, voltamos a viver em ‘São Lourenço da Morte’. Se não temos nem o básico, como vamos nos desenvolver?”, questionou a cambista Manuela de Oliveira, de 22 anos.
Apesar dos indícios de crimes cometidos durante os quase nove meses de gestão do petebista, a polarização que marca a política em São Lourenço – onde duas famílias (Pereira e Labanca) se revezam no poder há cerca de 50 anos – faz com que parte da população defenda sua volta ao poder. “As pessoas reclamam demais. Eu moro há 70 anos aqui e, quando cheguei, só tinha mato nessa cidade. Veja como tudo melhorou. Em todo lugar que você for, vai encontrar problemas. Não tenho o que falar do prefeito, ele estava trabalhando, não deveriam tê-lo afastado”, comentou o aposentado Manuel Ramos, 74.
“Encontramos a prefeitura em uma situação muito grave, o município está negativado, tem vários contratos investigados. Assumir nessas condições não é bom, mas estamos trabalhando para fazer uma gestão melhor, para cuidar do poder público de maneira exitosa”, afirmou o prefeito em exercício, Gabriel Neto (PRB). O gestor era vice de Pereira, mas rompeu com ele logo no início do mandato. O interino afirmou ainda que, desde a última quinta-feira, uma empresa contratada em caráter emergencial pela prefeitura regularizou o serviço de coleta de lixo na cidade.
Através de nota, a assessoria de imprensa de Bruno Pereira negou as acusações e disse que o gestor contratou uma empresa para realizar a coleta de lixo da cidade de maneira emergencial, em 5 de janeiro deste ano. Em junho, diz o comunicado, a prefeitura encaminhou o projeto básico para a contratação ordinária de empresa para o serviço de limpeza urbana e coleta de lixo, mas foram realizadas recomendações e “o edital seria lançado no mês de outubro de 2017”.