Um dos principais nomes do governo federal, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou a desfiliação do PPS. O movimento ocorre em meio a crise no partido pela provável filiação do deputado federal Daniel Coelho, um dos "cabeças pretas" do PSDB. Em reação, o deputado federal Bruno Araújo, presidente do PSDB em Pernambuco, ofereceu a sigla para a filiação de Jungmann. O ministro já anunciou que não será candidato a nada na eleição de 2018.
"Desligo-me do partido, meu único partido ao longo de toda minha vida pública, por discordar da forma pela qual se deu a entrega do seu comando partidário aos que nele ingressarão, uma forma autoritária, que desconsiderou instâncias, sem transparência e ao arrepio da democracia interna. Chegou-se ao cúmulo do arbítrio de impedir e retirar membros indicados da delegação do Estado de Pernambuco ao Congresso Nacional do partido e substitui-los ao sabor das preferências do sr. Presidente nacional, sem qualquer comunicação à direção estadual", escreveu Jungmman, em nota.
O presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire, pretende transformar a sigla no Movimento 23, agregando nomes dos movimentos de renovação política Livres, Acredito, Renova e Agora. Em Pernambuco, a agremiação deve ser presidida por Daniel Coelho, após a filiação, que pode concorrer ao Senado na chapa de oposição ao governador Paulo Câmara (PSB).
Além de Jungmann, outras lideranças do PPS no Estado devem sair do partido com a entrada de Daniel, incluindo o presidente estadual, Manoel Carlos, e o presidente do partido no Recife, Felipe Ferreira Lima. Além da produtora de eventos Maria do Céu.
"Eu fiquei surpreso pela decisão. Não sei se tem muita coisa que eu posso comentar porque esse é um assunto que não me diz respeito. Eu não sei exatamente o que aconteceu entre ele e Roberto Freire. Eu tenho uma relação muito boa boa com Jungmann, de muito respeito por ele. Tive uma conversa lá atrás e disse que não estava ainda decidido, mas que se eu tomasse o caminho de ingressar no partido queria fazer de forma combinada por ele. E não conversei mais, na verdade, até porque estou em um processo decisório interno meu", afirmou Daniel Coelho, ao JC.
Procurado, o deputado federal Roberto Freire não atendeu às ligações da reportagem.
21 de março de 2018
À Direção, amigos, amigas, companheiros e companheiras do PPS,
Hoje estou me desligando do meu e do nosso partido, ao qual servi integralmente nos últimos 26 anos, desde sua fundação. Na verdade, rompo hoje uma relação que vem de muito antes, desde o início dos anos 70, tempo da resistência democrática, portanto, mais de 40 anos da minha vida pessoal e pública.
Ao longo dessas mais de quatro décadas, exerci três mandatos de deputado federal, um de vereador do Recife, tendo disputado seis eleições.
Com muita dignidade e honra, representei nosso partido nos mais altos cargos da República, tendo sido, dentre outros postos (*), ministro da Reforma Agrária, da Defesa e já agora da Segurança Pública. Em todos eles, honrei o nome, os princípios e os valores do PPS.
Exerci ainda, e com aplicação, cargos nas estruturas partidárias municipal, estadual e nacional, cumprindo sempre e no limite das minhas capacidades, os encargos, missões e responsabilidades a mim atribuídas ou delegadas.
Desligo-me do partido, meu único partido ao longo de toda minha vida pública (**), por discordar da forma pela qual se deu a entrega do seu comando partidário aos que nele ingressarão, uma forma autoritária, que desconsiderou instâncias, sem transparência e ao arrepio da democracia interna. Chegou-se ao cúmulo do arbítrio de impedir e retirar membros indicados da delegação do Estado de Pernambuco ao Congresso Nacional do partido e substitui-los ao sabor das preferências do sr. Presidente nacional, sem qualquer comunicação à direção estadual!
Nada temos a opor à entrada de novos quadros no partido; aliás, ela se faz necessária diante dos desafios à frente. Mas, à custa do respeito e história dos que fazem e fizeram o PPS, é inaceitável e humilhante.
Sigo na política, escolha de vida inafastável dos meus sonhos de um mundo mais justo e de paz. Foi apenas pelas responsabilidades e riscos de assumir a segurança pública do Brasil nesse grave momento de crise, que declinei de participar das eleições, exclusivamente, este ano.
Aos que permanecem meus melhores votos de felicidade, sucesso e paz.
Jamais imaginei que esse dia viesse ao meu encontro.
Saudações democráticas e de eterno carinho e amizade.
Muito obrigado a todos e a todas.
Raul Jungmann
(*) Secretário Estadual de Planejamento, Presidente do Incra, Presidente Nacional do Ibama, Presidente do Conselho de Administração do BNDES.
(**) Fui, como muitos, membro do MDB durante a resistência democrática.