O deputado federal Felipe Carreras (PSB), que votou a favor da reforma da Previdência mesmo com o partido tendo fechado questão sobre o tema, afirmou ao JC, que não irá apresentar defesa no processo aberto pelo Conselho de Ética do PSB, nesta segunda-feira (15).
“Não me considero réu por ter votado de acordo com minhas convicções e da maior parte dos eleitores que me elegeram”, declarou à reportagem horas depois da decisão do partido.
O conselho decidiu acatar a representação impetrada por seis segmentos sociais organizados da sigla e abriu processo contra os 11 parlamentares, dos 32 deputados integrantes da bancada federal, que votaram a favor da reforma.
O código de ética do PSB estabelece que o parlamentar filiado que descumprir as decisões tomadas democraticamente nos congressos dos partidos estará sujeito a medidas disciplinares que vão de “advertência, censura pública, suspensão por doze meses, cancelamento da filiação e até expulsão”. Após serem notificados, os deputados terão 10 dias para apresentarem suas defesas.
“A votação divergente da orientação do partido dá fundamento para receber a representação, instruir o processo e depois repassá-lo ao Diretório Nacional para a decisão final”, afirmou o presidente do Conselho de Ética do PSB, Alexandre Navarro.
Apesar de o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, afirmar publicamente que Carreras “resolveu mudar de lado” e que “traiu suas origens” cedendo ao apelo econômico, por parte do governo, como forma de pressionar deputados a apoiarem a reforma da Previdência, diversos socialistas pernambucanos, inclusive o governador Paulo Câmara – vice-presidente nacional do PSB –, têm saído em defesa de Carreras.
“Evidentemente que um processo como esse, diante do que aconteceu, vai exigir um olhar cuidadoso e também atuação de cada um destes parlamentares dentro do partido. Felipe é um filiado que tem 23 anos de partido, contribuição muito grande para a consolidação do PSB”, declarou Paulo. “Esperamos que haja um processo onde as pessoas possam se defender, mas que seja considerado todo o passado”, comentou ontem durante a cerimônia de sanção da Lei que institui o Programa Criança Alfabetizada.
O prefeito do Recife Geraldo Julio, que teve Carreras como secretário de Turismo na sua primeira gestão, também mencionou a atuação do deputado durante os 20 anos de trajetória no PSB. “Ele (Felipe) deverá continuar no PSB. Ele tem uma história de compromisso e lealdade ao partido e sempre foi muito competente nos cargos executivos que ocupou”, declarou. Por nota, o presidente do PSB de Pernambuco, Sileno Guedes, afirmou que lamentava a dissidência dos parlamentares diante da votação da
Previdência, colocando como “inaceitável”.Particularmente, acho que não poderá passar em branco, mas defendo que a penalidade não seja a mesma para todos. Deve-se levar em conta a história de cada um”, defendeu Sileno.
Parlamentares federais como João Campos – cotado para disputar a prefeitura do Recife em 2020 –, Danilo Cabral, e os representantes estaduais Diogo Moraes, Waldemar Borges e Lucas Ramos também se manifestaram a favor do correligionário.
“Uma vida de mais de 20 anos filiado ao PSB não será desabonada por um posicionamento em uma matéria, por mais relevante que seja”, publicou João Campos em sua conta no Twitter.
Para Carreras, essas demonstrações têm reforçado seu desempenho e trajetória na sigla. “Fico muito feliz com essa demonstração espontânea dentro de um partido que foi o berço de Miguel Arraes e Eduardo Campos. Qualquer pessoa que faz política não está preso a uma camisa de forças. Ela tem o livre arbítrio em tomar decisões e o candidato deve ao seu eleitorado”, declarou.
Nas eleições de 2018, Felipe já havia se posicionado de forma contrária ao partido, quando foi contra a aliança local com o PT.
Diante da possível expulsão por infidelidade partidária, algumas legendas já demonstram interesse em ter Felipe Carreras em seus quadros. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o partido está de portas abertas. O Cidadania e PSD também fizeram o mesmo movimento.
“Tenho uma relação de amizade com Augusto Coutinho (Solidariedade), Mendonça Filho (DEM), Silvio Costa Filho (PRB), com o Luciano Bivar (PSL). Eles têm sido muito solidários neste momento”, afirmou.
Carreras, no entanto, descartou trocar de sigla no momento. Questionado pela reportagem sobre o desejo de disputar a corrida eleitoral pela prefeitura do Recife, Felipe disse que “ainda há muito tempo para as eleições”.
“Nunca neguei meu desejo de me candidatar a prefeito do Recife. Conheço a máquina, sei dos desafios que a cidade possui, mas não estou pensando nisso”, cravou.