A colisão entre dois trens na manhã desta terça-feira (18) foi tema de de debate nas casas legislativas do Estado e do município. Na Câmara do Recife a discussão foi sobre a falta de investimento nos equipamentos de um dos mais importantes modais da cidade e também acerca do debate político de que gestão do governo é a culpada pelo sucateamento do modal que levou ao acidente. Já na Assembleia Legislativa do Estado, foi anunciado pelo deputado estadual William Brígido (Republicanos) que a Comissão de Mobilidade Urbana se reuniu na última segunda-feira (17) para discutir o cronograma de reuniões que devem ocorrer até o mês de agosto.
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Não cabe ao legislativo municipal e estadual a competência de melhorias na infraestrutura do Metrorec, no entanto, cabe a discussão. O professor e cientista político Hely Ferreira ressaltou que existe uma cobrança da população com a Prefeitura em relação ao transporte coletivo, e criticou a forma que os usuários dos transportes são tratados. "No dia a dia, colocar ar-condicionado não é a solução do problema. Lembro que a propaganda do BRT era uma maravilha, bastou começar a funcionar para se ver a superlotação e agora o governo diz que quer acabar. O poder legislativo tem o dever de fiscalizar o que ocorre no município, diferente de quem é pré-candidato, e só se torna candidato depois que a candidatura é homologada”.
O vereador João da Costa (PT) disse que deu entrada em um requerimento para a realização de uma audiência pública para discutir a situação do Metrorec e os impactos na mobilidade. De acordo com o petista, a linha vermelha foi estabelecida e é preciso uma iniciativa para que o serviço volte a funcionar. "Me parece que a CBTU está inclusa no processo de desestatização, essa parece ser a solução apontada pelo novo governo. Se a solução for a privatização, não pode deixar o metrô nesse período ameaçar a vida e a segurança das pessoas. É preciso ter o processo que isso garante e acho que é responsabilidade nossa".
O vereador André Régis (PSDB) lembrou que nos primeiros anos depois da inauguração do metrô do Recife ele sempre ganhava destaque de limpeza, e defendeu que o governo federal não teve tempo "para que ele tivesse a capacidade destrutiva de levar o metrô a essa atual circunstância de agonia". "É preciso um amplo entendimento entre o governo federal, responsável pelo metrô, mas também envolvendo o governo estadual e municipal, para encontrarmos uma saída para o metrô, que não pode ser abandonado pelo poder público e pelas esferas federais", argumentou.
A defesa da implementação de metrô submerso no Recife foi tema do pronunciamento do vereador Rodrigo Coutinho (SD), que também agradeceu não ter tido vítimas no acidente. "A gente lamenta o ocorrido de hoje e ficamos felizes que não precisou ter aqui um minuto de silêncio, mas não houveram vítimas".
O líder do governo Eriberto Rafael (PTC) recordou as paralisações das linhas com o aumento das passagens e "é uma insatisfação constante da população em relação ao transporte". "A gente precisa cobrar do governo federal e apontar também de onde está vindo o erro, e buscar a integração para que haja uma melhora desse transporte. O governo federal tem um olhar muito pequeno para as coisas que a população mais precisa".
Para o cientista político Elton Gomes, existe um problema na divisão de competências administrativas no Brasil, que têm implicações sérias no desempenho dos serviços públicos. "Quem tem responsabilidade é o governo federal através do CBTU. Entretanto, como a gente tem visto, vamos pegar uma questão simples, dentro do metrô tem policiamento, quem está lá é a policia militar, mas tem que tomar conta das instalações da CBTU, patrimônio, cabos de cobre, quem toma conta disso é o guarda municipal que está subordinada à prefeitura".
Por sua vez, a vereadora Michele Collins (PP) fez uma comparação entre o metrô do Recife e de São Paulo e citou que o Partido Progressista esteve à frente do metrô "as dificuldades eram muito grandes, principalmente nos governos que o senhor citou (André Régis sobre o governo do PT e do PSB)". "Seja qual for o governo, o que interessa é que o povo merece respeito e estamos aqui nesta Casa para ser a boca do povo e não vamos nos calar", protestou.
O vereador Rinaldo Júnior (PSB) rebateu a defesa de André sobre o tempo do atual governo. "A culpa é sim do governo federal. Um ano e dois meses de governo deu para ter três aumentos e o quarto vai ser no dia 1 de março, para R$ 4. A manutenção das passagens dos preços populares é política social sim, porque quem usa o metrô é o pobre, o trabalhador, o assalariado. Vamos tirar a culpa de qualquer governo municipal e estadual, o sucateamento vem de 30 anos atrás".
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O vereador Jairo Brito defendeu os ataques que os demais parlamentares fizeram ao PT. “Quem tem que ter responsabilidade é o governo que está assumindo no momento. No governo do PT, além de não ter tido aumento de passagem, não houve batida de trens”, respondeu.
Também na tarde desta terça-feira (18) na Assembleia Legislativa do Estado, o deputado estadual William Brígido (Republicanos) convidou a população, os parlamentares e os membros da Comissão de Mobilidade Urbana para participarem das audiências públicas que já estão marcadas e acontecerão até agosto deste ano.
O presidente da Comissão de Mobilidade Urbana da Alepe, William Brígido (Republicanos) ratificou a importância da presença dos membros da comissão especial nas audiências que serão realizadas pela comissão “o que reflete o respeito e o compromisso com os usuários do transporte público”. “A colisão com mais de 40 pessoas atingidas é um retrato da situação em nossa capital. Não só o metrô, mas todos os modais que compõem a mobilidade urbana do Recife, da Região Metropolitana e algumas cidades do interior passam por um momento de grande desafio, e por que não dizer até dificuldades? Como presidente da Comissão de Mobilidade Urbana e membro do conselho metropolitano de transporte de Pernambuco, estou trazendo a essa casa os problemas, os desafios e as propostas para buscarmos uma solução, pois acreditamos nessa solução”.
Para o deputado estadual João Paulo (PCdoB), a colisão serviu para reafirmar a denúncia “que nós vínhamos fazendo aqui sobre a situação do metrô”. Acho que há muito tempo nós vínhamos falando da importância do transporte coletivo de massa e o metrô que em todo mundo desempenha um papel fundamental e aqui ele está sendo cada dia mais sucateado, as condições precárias, levando a um processo de privatização e de entrega do metrô da Região metropolitana”, ele completou o colapso que o metrô representa para a população e, principalmente, para os trabalhadores.