Depois que Rodrigo Maia (DEM) acenou para a possibilidade de uma aliança ao centro, com partidos como o PSB, e citou Paulo Câmara (PSB) como opção para formar uma chapa presidencial, muita gente se perguntou o que um deputado de baixa popularidade do Rio de Janeiro e um governador impopular de Pernambuco fariam juntos.
A resposta: muita coisa, mas nem tão juntos.
A declaração de Rodrigo Maia, que pode ter cara de bobo, mas não é nem um pouco, tem objetivos de curto e de médio prazo.
No curto prazo, está fazendo acenos ao PSB, através do governador de PE, buscando apoio para a reeleição como presidente da Câmara Federal.
Paulo Câmara pode ter alta rejeição no Estado, mas também tem influência sobre a bancada do PSB de PE. O PSB de Pernambuco, aliás, é o mais forte entre os socialistas, com cinco deputados, contra quatro de SP.
Atualmente, a liderança do partido na Câmara é de Alessandro Molon (PSB-RJ), mas isso deve mudar em breve, quando o pernambucano Danilo Cabral (PSB-PE) assume.
A receita é simples: quer atrair o PSB nacional, agrade Pernambuco.
Essa hegemonia pernambucana é uma herança de Miguel Arraes e Eduardo Campos que até sofreu abalos, quando Márcio França (PSB) foi governador de SP. Mas, em 2020, com a derrota dele para a prefeitura paulistana, estabilizou-se. Pernambuco manda.
Ainda nesse cenário, Paulo Câmara é vice-presidente nacional do PSB.
Os 31 votos dos socialistas são muito importantes na guerra de Maia para seguir presidindo a Casa. Outro gesto que ele dá em direção à esquerda é a crítica a Bolsonaro e aos bolsonaristas, com os relatos de todas as ameaças que ele e a família sofreram nos últimos dois anos.
No fim, Maia quer articular uma frente ampla com partidos de centro, tanto da esquerda quanto da direita.
O DEM tem parcerias sólidas com o PDT, por exemplo, em alguns estados. Agora, quer trazer o PSB para a plataforma.
Depois de reeleito para a presidência da Câmara, vem o objetivo de médio prazo: encontrar um vice, de esquerda, moderado, para Luciano Huck.
Sim, Maia trabalha com a possibilidade concreta de candidatura do apresentador Luciano Huck pelo DEM e quer alguém para compor a chapa, dando força e equilíbrio.
Mesmo que, no futuro, o vice não seja o pernambucano, para entender o movimento de Maia, é preciso esquecer Pernambuco e a rejeição de Câmara, olhar o governador com olhos de "estrangeiro", de forma pragmática.
Ele é discreto, jovem, passa longe de ser radical, representa o PSB nacionalmente, é responsável, mantém as finanças do Estado em ordem e, a despeito das pesquisas de popularidade atuais, ganhou duas eleições no 1º turno, em 2014 e 2018.
Huck já é muito popular, precisa de um vice discreto. Mesmo que seja muito difícil imaginar que isso venha a acontecer, e realmente é, Paulo encaixaria.
Mesmo não sendo o nome, o gesto indica que o DEM está disposto a negociar uma indicação.
Como isso aconteceria ainda é muito difícil dizer. Mas o PSB está sendo cortejado, para hoje e para o futuro.