A patetice do voto impresso, mesmo depois que for rejeitado no Congresso, não deve ter seus efeitos danosos sobre a democracia extintos.
O sistema de criação de crises ainda pode ser trabalhado através da distribuição de mensagens que, aparentemente não terão nada a ver com eleição, mas tem.
E isso já começou.
Quem tem acesso às redes bolsonaristas já pode ter percebido, por exemplo, um aumento nos vídeos mostrando "os golpes que as pessoas podem sofrer na internet", ou "cuidado ao usar caixas eletrônicos, veja esse golpe", ou "como os hackers entram no seu celular e roubam seus dados".
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Não falam sobre eleição, mas colocam dúvidas sobre tudo o que é tecnológico.
Na prática, a ideia é aumentar a insegurança subjetiva da população sobre aparelhos que usamos no dia-a-dia, tentando criar um ambiente favorável para um insegurança objetiva, com as urnas eletrônicas.
Colocando-se na cabeça do receptor das mensagens, ele é bombardeado todos os dias com vídeos de golpes em caixas eletrônicos, com notícias sobre hackers que invadiram o sistema até da Nasa, durante meses. Em seguida, numa eleição que, certamente, será conturbada, escuta um dos concorrentes gritar que "perdeu porque foi roubado" e que as urnas, aparelhos eletrônicos, foram "fraudadas por um hacker".
Depois de tanto reforço prévio, a tendência é acreditar. Mesmo não fazendo nenhum sentido já que as urnas não está conectadas na internet e hacker nenhum teria acesso a elas. Mas, não será fácil desfazer a desconfiança.
A democracia precisa de confiança para funcionar. Isso está sendo minado há tempos.
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