Nos jogos políticos, a intriga é elemento essencial. Sem ela fica fácil demais para quem já detém o poder, mas não evoluímos coletivamente.
Num grupo de parlamentares, acostumados a brigar por atenção e dinheiro, sem a intriga, fica tudo meio insosso.
Brincadeiras à parte, quando o STF confirmou a decisão de Rosa Weber e manteve a suspensão das emendas de relator enquanto elas não forem transparentes, fez-se uma homenagem à intriga.
Sem a intriga, não temos revolta e, sem revolta, não crescemos.
O Mensalão só foi descoberto porque quem estava recebendo menos propina começou a reclamar.
Collor sofreu impeachment num processo que começou com uma intriga entre irmãos.
Da forma como estavam sendo distribuídas, as emendas do relator, criadas no orçamento de 2020, não permitiam que um deputado soubesse, com segurança, quanto o outro deputado de mesmo partido e estado recebeu.
Se um receber R$ 20 milhões para indicar aos seus apoiadores locais e o outro receber R$ 200 mil, não se tinha como provar. Não tinha como brigar e ficar emburrado com o governo.
Mas o principal problema é que as verbas, que deveriam ser indicadas de acordo com a necessidade dos ministérios, estavam sendo usadas, por exemplo, para comprar tratores em locais indicados pelos deputados e senadores.
Isso, sem ninguém saber ao certo quem estava indicando, enquanto os ministérios ficavam sem dinheiro.
Havia o problema, mas você não sabia de quem se intrigar.
Nossa sociedade é baseada em amor e ódio, em brigar e fazer as pazes, quase como um processo dialético hegeliano pelo qual evoluímos.
É preciso permitir a intriga.