Até o momento, Sergio Moro (Podemos) é uma potencial ameaça à polarização entre o PT de Lula e os bolsonaristas.
Hoje, abaixo dos 15% em pesquisas, o ex-juiz promete assumir a posição de Bolsonaro e disputar um segundo turno com Lula.
Promete, mas ainda é algo distante porque a base eleitoral do presidente da República inclui apoiadores fiéis, um núcleo duro, maior que os 15% nos quais Moro ainda não chegou.
O que transforma algo potencial em real é a satisfação de seus requisitos, sua legitimação.
Quais são os requisitos apontados como fortes dentro da personalidade eleitoral de Sergio Moro para quebrar a polarização e ser presidente da República?
Não se trata do que ele diz, como "ser contra a corrupção". Mas, do apelo que serve para virar votos em seu favor. São dois principais e os mais simples possíveis: ser contra Bolsonaro e ser contra Lula.
Para isso, é imprescindível se diferenciar dos dois no imaginário coletivo. Quando esteve no Recife, Moro foi alvo de protestos com faixas que diziam "Moro suspeito. Prendeu Lula sem provas".
Os manifestantes podem ter a melhor das intenções com Lula e o PT, mas ajudaram a reforçar algo que é necessário para a afirmação de Moro: Ele é contra Lula. Ele é inimigo do petista. Ele incomoda a esquerda.
Já o movimento dos bolsonaristas acontece nas redes sociais. Tudo o que o ex-juiz posta é rapidamente rebatido por usuários reais ou robôs. O problema é o conteúdo desses ataques. A maioria se refere a ele como alguém que traiu o bolsonarismo ou que foi covarde porque saiu do governo.
Mas, essas referências são exatamente o que a equipe de Moro espera.
O ex-ministro não quer, agora, os votos "atuais" de Bolsonaro, mas os que já foram de Bolsonaro e desistiram dele desde o início da pandemia.
Não por acaso, foi também quando Sergio Moro desistiu do presidente e saiu do governo. A vinculação cronológica, entre a perda de popularidade bolsonarista e o salto do barco dado por Moro é tudo que o Podemos quer.
A ideia é mostrá-lo como alguém independente, uma verdadeira terceira via.
E os adversários podem garantir isso. Porque, quando Lula começar a dizer que "Moro é igual a Bolsonaro", os bolsonaristas terão dito que não é há muito tempo.
E quando Bolsonaro precisar falar mal de Lula, a esquerda já terá reforçado que "Moro é antipetista". No fim, se a estratégia não mudar, quanto mais os polos tentarem empurrá-lo, mais ele vai crescer.