O silêncio sempre faz muito barulho e a ausência é o recado mais presente que um agente público pode dar.
A convenção do PSB em Pernambuco teve as duas coisas no último domingo (12).
O silencioso ausente Geraldo Julio (PSB) acabou sendo o principal fato do evento.
Não que os discursos do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), do prefeito do Recife, João Campos (PSB) e do presidente da sigla, reconduzido, Sileno Guedes (PSB) possam ser menosprezados.
Todos afirmaram que o PSB terá candidato, que o candidato da Frente Popular será socialista e por aí vai. A recondução de Sileno era esperada. Tudo no padrão.
A ausência de Geraldo é muito forte porque nem João e nem Paulo tiveram ao longo dos últimos anos a participação ativa que Geraldo teve no ambiente partidário. Geraldo coordenou eleições nesse período, fez articulações importantes, para além da prefeitura.
Um aliado socialista comentou que a sensação durante a convenção, para alguns, foi de que a "ficha finalmente caiu" sobre Geraldo não ser candidato em 2022.
Muitos que, até então, não acreditavam na falta de disposição dele pro pleito, entenderam que não estar na convenção era significativo demais. Outra fonte, também sob sigilo, diz que manter o nome de Geraldo como "plano A" tem a ver, também, com não admitir que a gestão dele na prefeitura do Recife foi mal avaliada.
"Fazer dele a primeira opção, mesmo que lá na frente se indique outro nome, pode ser uma forma de dizer que o PSB se sente feliz com o trabalho feito até 2020", comenta.
O ex-prefeito e atual secretário estadual de Desenvolvimento Econômico tem se esforçado para só aparecer em ambientes completamente controlados e onde não precise passar pela situação de ser exaltado por algum colega como candidato em 2022.
Nem é preciso falar que o ambiente controlado também evita críticas públicas.
Sem Geraldo, cria-se um drama no PSB. E o drama decorre de algo que não pode ser modificado de acordo com as leis da Física: o posicionamento do tempo dentro do espaço.
Guarde essa expressão.
Mas, antes de falar sobre isso, é importante explicar a diferença entre um indivíduo e um nome. Para uma eleição, ter um nome ou ter um indivíduo é o que muda tudo.
Por mais que repita o contrário, ao menos por enquanto, o PSB não tem um nome, tem indivíduos.
A diferença entre um indivíduo e um nome é que o primeiro pode ser qualquer coisa, pode ser inventado, pode ser um "poste", pode ser "seu José", o animado dono do fiteiro da esquina.
Indivíduo é, para a sociologia, um ser com identidade própria que o distingue de outros seres. Apenas isso.
Já um nome é diferente, aglutina, representa o grupo e faz com que o palanque trabalhe para ele, seja qual for a motivação.
Os socialistas têm um exército de indivíduos, alguns com maior possibilidade de se transformar em nome, outros com uma incorrigível ilusão quanto a isso. Mas, nome pronto, não tem nenhum.
Geraldo e Paulo eram indivíduos apenas e foram eleitos e reeleitos. Muito bem, é verdade. Mas passaram por catalisadores que vão desde a presença de Eduardo até à morte de Eduardo para se viabilizarem.
Não fosse isso, seriam indivíduos até hoje.
Isto entendido, sigamos.
Antes eu falava sobre o posicionamento do tempo dentro do espaço. É o seguinte: O único nome que o PSB tem hoje, o único que não é indivíduo e já nasceu sendo, realmente, um nome é conhecido como João Campos (PSB).
O prefeito do Recife, filho de Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, foi indivíduo apenas até chegar à maioridade e poder se candidatar. Desde então, tornou-se um nome.
Seria ótimo, se não fosse a Constituição.
A Constituição diz que para ser candidato a governador é preciso estar com 30 anos no dia da eleição.
O posicionamento do tempo de João dentro do espaço é o que complica. Ele nasceu em 26 de novembro de 1993. Se tivesse nascido em 1992, seria o candidato natural, com grande chance de ser eleito e o PSB estaria tranquilo.
Exatamente por ele ser o único nome da sigla, há outra preocupação em relação ao tempo e ao espaço. É que qualquer nome, hoje, entende que será escolhido apenas para passar o bastão a João numa eleição seguinte.
E nem todo mundo que diz que vai aceitar isso consegue fazer o PSB fingir que acredita.
Sim, é um drama.
É um jogo muito complicado que abrange não apenas 2022, mas algumas eleições seguintes.
E é Por isso que o silêncio e a ausência no último domingo são tão caóticos.