O governo Bolsonaro já foi um estranho dentro do Congresso. A bancada fiel, no início da gestão, era de uns cinquenta parlamentares. Servia apenas para fazer barulho.
Desde a eleição de Arthur Lira, quando o PP passou a ser um aliado, atraindo outras siglas menores e, ainda mais, após a filiação do presidente ao PL, Bolsonaro passou a ter maioria e consegue votar o que quiser na Casa.
Antes era mais fácil fingir contrariedade com algum projeto, vetando o texto para que o Congresso derrubasse e parecesse que o presidente era contra. Ele nem partido tinha.
Agora, com uma base governista bem definida, não tem mais como fingir.
O dinheiro para o fundo eleitoral é um exemplo evidente dessa mudança de perspectiva. É um projeto que Bolsonaro vetou antes de ter partido, antes de ter base forte, antes de ter influência no Congresso.
Os deputados e senadores aprovaram um pornográfico aumento de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões no valor destinado a financiar suas próprias campanhas em 2022. E também a campanha de Bolsonaro.
O presidente vetou, na época. Agora, os deputados estão articulando para derrubar o veto. Quais? Os da base de Bolsonaro.
Os parlamentares que ele controla trabalham para derrubar o veto dele e permitir que o contribuinte, mais sacrificado do que nunca, seja obrigado a pagar quase três vezes o que foi pago em 2020 pela propaganda e pelas viagens dos candidatos em 2022.
O centrão, aliado do presidente, é o principal articulador dessa verba. Alguns até aceitam negociar e dizem que é "possível aceitar, no mínimo, R$ 4 bilhões".
Já seria o dobro do valor gasto em 2020.
Qualquer valor é absurdo se você considerar que os partidos já recebem muito dinheiro ao longo do ano, pelo fundo partidário. O fundo partidário, diferente do eleitoral é pago todo mês, o ano inteiro, independente de ter eleição ou não.
E, se confirmarem o valor de R$ 5,7 bilhões para o fundo partidário, a campanha do próprio Bolsonaro terá acesso a mais R$ 335 milhões apenas para fazer campanha.
A distribuição é definida pelo número de deputados que cada partido elegeu em 2018.
Outros partidos da base bolsonarista também serão beneficiados se o veto do próprio presidente for derrubado. O PP, por exemplo, pode ter acesso a R$ 400 milhões.
Mas, não é apenas Bolsonaro quem se beneficia. Se mantiverem o vergonhoso valor de R$ 5,7 bilhões para a campanha eleitoral, o PT poderá dispor de R$ 573,7 milhões.
O Podemos, de Sergio Moro, que recebeu R$ 77 milhões em 2020, passará a receber R$ 222 milhões com o novo valor.
Mas o maior beneficiado será o União Brasil, da fusão do PSL com o DEM. Os dois partidos, juntos, terão direito a R$ 912,7 milhões.
Confira, abaixo, a tabela completa de como deve ficar a divisão dos valores, caso o Fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões seja aprovado no Congresso:
Com o fundo eleitoral de R$ 2 bilhões, pagos em 2020
PT | R$ 201.297.516,62 | Podemos | R$ 77.968.130,80 | Rede | R$ 28.430.214,66 | PSTU | R$ 1.233.305,95 |
PSL + DEM | R$ 320.253.178,89 | PTB | R$ 46.658.777,07 | Avante | R$ 28.121.267,64 | UP | R$ 1.233.305,95 |
MDB | R$ 148.253.393,14 | Solidariedade | R$ 46.037.917,83 | PV | R$ 20.498.922,01 | ||
PP | R$ 140.669.215,02 | PSOL | R$ 40.634.516,50 | PTC | R$ 9.498.596,58 | Total | R$ 2 bilhões |
PSD | R$ 138.872.223,52 | Pros | R$ 37.187.846,96 | PMN | R$ 5.872.173,76 | ||
PSDB | R$ 130.452.061,58 | Novo | R$ 36.564.183,26 | DC | R$ 4.025.171,90 | ||
PL | R$ 117.621.670,45 | Cidadania | R$ 35.824.724,42 | PCB | R$ 1.233.305,95 | ||
PSB | R$ 109.545.178,16 | Patriota | R$ 35.139.355,52 | PCO | R$ 1.233.305,95 | ||
PDT | R$ 103.314.544,11 | PSC | R$ 33.239.786,22 | PMB | R$ 1.233.305,95 | ||
Republicanos | R$ 100.632.561,34 | PCdoB | R$ 30.941.860,30 | PRTB | R$ 1.233.305,95 |
Com o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, sendo discutido no Congresso
PT | R$ 573.697.922,36 | Podemos | R$ 222.209.172,78 | Rede | R$ 81.026.111,78 | PSTU | R$ 3.514.921,95 |
PSL+DEM | R$ 912.721.559,83 | PTB | R$ 132.977.514,64 | Avante | R$ 80.145.612,77 | UP | R$ 3.514.921,95 |
MDB | R$ 422.522.170,44 | Solidariedade | R$ 131.208.065,81 | PV | R$ 58.421.927,72 | ||
PP | R$ 400.907.262,80 | PSOL | R$ 115.808.372,02 | PTC | R$ 27.071.000,25 | Total | R$ 5,7 bilhões |
PSD | R$ 395.785.837,03 | Pros | R$ 105.985.363,83 | PMN | R$ 16.735.695,21 | ||
PSDB | R$ 371.788.375,50 | Novo | R$ 104.207.922,29 | DC | R$ 11.471.739,91 | ||
PL | R$ 335.221.760,78 | Cidadania | R$ 102.100.464,59 | PCB | R$ 3.514.921,95 | ||
PSB | R$ 312.203.757,75 | Patriota | R$ 100.147.163,23 | PCO | R$ 3.514.921,95 | ||
PDT | R$ 294.446.450,71 | PSC | R$ 94.733.390,72 | PMB | R$ 3.514.921,95 | ||
Republicanos | R$ 286.802.799,81 | PCdoB | R$ 88.184.301,85 | PRTB | R$ 3.514.921,95 |