O voto secreto é a alma do negócio na política brasileira.
Certa vez, numa conversa com este colunista, um político, vereador por mais de quatro décadas na mesma cidade, brincava sobre isso: "quando cancelarem o voto secreto, não tem amizade que resista. Afinal, todo político vive de fingir amizade, oferecer simpatia e receber em dinheiro ou em voto".
A verdade doída é que dentro de um sistema como o Legislativo brasileiro, traições acontecem para dar recados.
O Senado deu um grande recado a Fernando Bezerra Coelho (MDB) ao escolher Antônio Anastasia (PSD) para o TCU, quando FBC era franco favorito, além de ser candidato do Planalto.
Após 37 senadores prometerem voto para o líder do governo na Casa, ele terminou com sete.
Só duas mensagens podem ser retiradas daí. A primeira delas é: "não queremos ele como líder do governo".
A segunda é: "Bolsonaro traiu você, FBC".
Para ambas, a única saída honrosa seria o senador pernambucano entregar o cargo de líder e foi o que que ele fez, poucas horas após o resultado. Anastasia foi escolhido porque a liderança de FBC estava em xeque e a outra opção era Kátia Abreu (PP).
Apesar de ter sido apoiada pelo ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP), o suplente de Abreu era do PT e o governo não iria querer a bancada petista ampliada na Casa.
A eleição de Anastasia fortaleceu Rodrigo Pacheco (PSD) e mostrou que os acordos feitos com o presidente da República para a eleição dele, Pacheco, à presidência do Senado, estão valendo.
Mesmo ele não apoiando mais Bolsonaro.