O brasileiro gasta mal. Dos políticos, brasileiros que são, não se pode esperar grandes coisas. Nossas prioridades satisfazem muito mais o imediato que o planejado e, quando é planejado, o privado vem antes do público.
Em comunidades onde se ganha muito dinheiro em meio a períodos de pobreza, é fácil perceber a dificuldade das pessoas em eleger prioridades para além do vital. Depois de comprar comida, essas pessoas buscam satisfação pessoal e imposição de imagem. Um exemplo prático, o sujeito que tem uma Ferrari, mas não consegue abastecê-la. Ou a família que reforma a fachada da casa, antes mesmo de consertar uma goteira no telhado. Ou aquele que viaja para Dubai e tem a luz cortada, por falta de pagamento.
É preciso anunciar que não é mais pobre e vender o sucesso.
Sim, há pessoas tão pobres que só tem dinheiro e nada mais. E há pessoas que demonizam o supérfluo, como se fossem pobres, para continuarem ricas.
O que isso tem a ver com política, colunista divagador?
Analise o conjunto de projetos aprovados em nosso Congresso nos últimos anos. Quantos foram de reformas, para equilibrar os cofres e quantos foram para gastar mais?
Que tipo de pressão e oposição as reformas Administrativa, Tributária, a da Previdência, sofreram?
E, do lado oposto, quantos projetos foram rapidamente aprovados liberando dinheiro para eleições ou para emendas parlamentares, por exemplo?
Isso no meio de uma pandemia e às portas da guerra.
Gasto com eleições
Somente com partidos políticos, o brasileiro vai gastar mais de R$ 6 bilhões em 2022, juntando fundos partidário e eleitoral.
O simples funcionamento da Justiça Eleitoral custa outros R$ 10 bilhões ao ano para o Brasil, incluindo o gasto para realizar as eleições a cada dois anos.
E por causa das suspeitas infundadas levantadas por Bolsonaro sobre a votação, haverá mais gasto e o pleito fica mais caro este ano.
Seriam mais R$ 600 bilhões
É preciso reconhecer o avanço que se teve com a reforma da Previdência aprovada em 2019. Foi um grande avanço, mas a economia poderia ter sido maior se não houvesse tantos interesses privados mais fortes do que sanear as contas do país.
A estimativa era que se economizasse, em uma década, R$ 1,1 trilhão.
Ficou em pouco mais de R$ 800 bilhões.
Já a reforma Administrativa poderia economizar outros R$ 330 bilhões.
Juntas, estariam garantindo, em 10 anos, algo próximo de R$ 600 bilhões.
Esta, não vai sair.
Para bases políticas
O descontrole se evidencia com as emendas distribuídas para os congressistas irrigarem seus quintais eleitorais.
Entre 2016 e 2019, eles receberam de R$ 1,9 bi a R$ 5 bi por ano. Em 2020, esse valor pulou para R$ 16 bi e, em 2021, ficou em R$ 15 bilhões.
O aumento de até 200% foi pela pandemia? Não.
Acredite, as emendas direcionadas para a Saúde diminuíram no período.
Em 2018 e 2019, quando o total em emendas pagas por ano aos parlamentares foi de R$ 5 bi, a Saúde chegou a receber 51% disso.
Em 2020, com R$ 16 bi em emendas distribuídas, o percentual destinado à Saúde caiu para 36%.
Em 2021, o setor chegou a receber 47%.
Todos esses dados são do Portal da Transparência do próprio Governo Federal.
Agora, para tentar reduzir o impacto da crise, seja segurando o preço dos combustíveis, seja incentivando a economia, é preciso ter dinheiro em caixa. Coisa que está faltando.
Ciclo de salvadores
E daí, a alternativa eleitoral a este governo tem se mostrado uma emenda igual ou pior que o soneto.
No desespero por apostar em salvadores com soluções fáceis para problemas difíceis, alternativas equilibradas não conseguem se viabilizar.
É um ciclo doloroso de salvadores carregados por esperançosos que precisam se livrar do salvador anterior.