Geraldo Alckmin (PSB) estava aposentado da política. Dia desses, participava de um programa matutino na TV, dando dicas sobre acupuntura (ele é médico).
Fez um retorno estranho, depois de perceberem que ele ainda tinha um forte recall em São Paulo, onde já foi governador várias vezes. Primeiro, ainda no PSDB, lança-se candidato ao governo, mobiliza o centro à direita, trabalha por meses a lembrança que o eleitor tinha dele como um defensor do equilíbrio.
Depois, puxa o volante para a esquerda tentando levar o máximo de eleitores com ele. Filia-se ao PSB.
"E-qui-lí-brio", falando de forma pausada como ele gosta de fazer ao dar ênfase nas palavras.
Certa vez, entre 2005 e 2006, este colunista era repórter da Rádio Jornal e foi designado para acompanhar o então pré-candidato à presidente Geraldo Alckmin. Ele veio ao Recife acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Na saída de um hotel em que eles estavam, fiquei de plantão para garantir a resposta à principal pergunta da época, por mais esdrúxula que fosse: "É verdade que o candidato faz parte de uma seita católica de extrema direita?".
Parece insano? Na época não era, porque foi uma informação plantada pela campanha de Lula (PT), seu principal adversário naquele período.
“A ligação de Geraldo Alckmin com o Opus Dei é conhecida. Ele não apresenta sequer um verniz socialdemocrata. É uma figura de formação católica rígida. Todas as suas referências familiares são de pessoas extremamente direitistas. O Vale do Paraíba, sua região de origem, é a sede do reacionarismo católico no Estado", reforçava o deputado estadual de SP, Renato Simões (PT).
Após horas insistindo na porta do hotel e depois de ser chamado de "chato" por FHC (um elogio), finalmente tive a resposta. Alckmin saiu do hotel, negou o que o PT espalhava e disse que "o Brasil não precisa de quem desrespeita a realidade em nome do poder e que o Brasil precisa de e-qui-lí-brio".
O desrespeito à realidade em nome de um cargo colocou Alckmin no PSB para ser vice de Lula, depois de estar aposentado dando dicas de acupuntura na TV.
O papel do ex-governador paulista é dar verniz de moderação a um petista que antes lhe atacava e que ele acusava de "ladrão".
A lição do episódio para a posteridade: é que o e-qui-lí-brio se vende. E nem é tão caro.