A tragédia das chuvas é ampla. Amplitude, quando se trata de uma tragédia, é algo ainda mais preocupante. Porque não atinge apenas as pessoas fisicamente, atinge instituições e atinge o ambiente mental da sociedade.
O medo da chuva é um aspecto, o descrédito com as gestões públicas que deveriam evitar essas mortes é outro. Houve mais uma vida perdida, mais famílias desalojadas nas últimas 24h, já são quase 120 mil desalojados.
E tem a sensação de que o poder público “não dá conta”. Isso é característico.
O problema de uma tragédia ampla é a sensação de que nada funciona como deveria funcionar e de que não há segurança para sobreviver. Tragédias amplas geram alguma pontual revolta, mas muita desesperança.
E não há nada pior do que anestesia moral para afundar uma sociedade.
Agora, tragédias amplas não brotam do chão, elas são construídas. E diante disso, é preciso perguntar mais uma vez, e talvez esta seja a terceira ou a quarta vez que essa pergunta é feita na coluna: o que está sendo feito para evitar o caos na próxima chuva? Pode ser no fim da semana, pode ser no próximo ano.
O governador Paulo Câmara (PSB) apesar da dificuldade política, foi obrigado a admitir que algo mais precisa ser feito. É um começo e precisa ser destacado.
E o que mais, para sair do discurso? E os prefeitos?
Pernambuco tem uma relação paradoxal com a água que expõe a absurda incompetência da gestão pública estadual e municipal: aqui, falta água quando é preciso beber e sobra água quando é preciso não se afogar ou ser enterrado por lama.
Não se consegue construir barragens nem para conter e nem para reservar o líquido essencial.
Essa é a tragédia ampla. Não é só a chuva que cai, mas a incrível sensação de que estamos rodeados por inaptos ocupando cargos através dos quais deveriam nos proteger e planejar ações para evitar mortes, no mínimo.
E somos nós que os colocamos lá a cada dois anos.