Desafio de atuar no tratamento de pacientes com coronavírus é maior para médicos recém-formados

Mesmo sem experiência, novos profissionais que acabaram de concluir o curso médico estão sendo contratados para atuar em hospitais voltados para covid-19 devido à escassez de mão de obra
Margarida Azevedo
Publicado em 23/04/2020 às 11:09
Luciano acabou de se formar. Reconhece que tem receio de atuar no atendimento dos pacientes com covid-19, mas diz que sabia dos riscos ao escolher a profissão de médico Foto: Arquivo pessoal / Cortesia


O primeiro plantão do médico José Luciano Júnior , 23 anos, será na próxima terça-feira (28), no Hospital Provisório Recife 1, localizado na Rua da Aurora, em Santo Amaro, área central da capital pernambucana. A unidade de saúde, inaugurada semana passada pela prefeitura, é exclusiva para pacientes com novo coronavírus. Luciano faz parte de uma turma de 75 jovens que se formou quarta-feira (22) na Universidade de Pernambuco (UPE). A conclusão da graduação, pela primeira vez realizada virtualmente, foi antecipada em dois meses para que os novos médicos ajudem no atendimento dos infectados pela covid-19. Entre o medo e a missão, ele optou pela segunda opção.

"É claro que bate um pouco de medo. Mas quando decidi ser médico, sabia que a profissão exigia correr riscos. Porém o desejo de contribuir, de ajudar a sociedade neste momento que estamos vivendo fala mais alto", diz Luciano. O que o tranquiliza é saber que não estará só. "Há outros colegas no plantão, com mais experiência e de outras especialidades. Fui bem formado na UPE. Mas o fato de ter um quadro técnico qualificado ao meu lado me deixa mais seguro", ressalta o médico. Desde que soube da antecipação da formatura, ele está estudando protocolos e condutas sobre o novo coronavírus.

A colação de grau da turma de José Luciano estava prevista para o final de junho. Portaria do Ministério da Educação (MEC) autorizou, em todo o País, a formatura antecipada de médicos desde que os estudantes tenham completado pelo menos 75% do internato (estágio obrigatório nos dois últimos anos do curso médico). Nessa etapa final da graduação, os alunos passam por práticas em cinco áreas da medicina: pediatria, ginecologia, clínica médica, cirurgia geral e medicina de família e comunidade.

"Sentimentos o peso da responsabilidade pela formatura precoce. Vamos entrar no mercado de trabalho numa situação extrema, por causa da pandemia. Mas estamos capacitados. Vários colegas estão recebendo propostas de emprego, para atuar tanto com baixa quanto com alta complexidade", afirma Rayane Matos, 23, escolhida para fazer o juramento na colação de grau. A solenidade aconteceu na reitoria da UPE, em Santo Amaro, no Recife. Estavam também o reitor, Pedro Falcão, e a diretora da Faculdade de Ciências Médicas, Dione Maciel. Devido a problemas técnicos não deu para ouvir boa parte da cerimônia, transmitida pelo canal da UPE no Youtube.

O governador Paulo Câmara participou por meio de videoconferência. "É um desafio que está apenas no começo e que vai exigir de nós um esforço muito grande. A gente conta com vocês. A forma como estão finalizando o curso não é como vocês sonharam, mas é uma forma desafiadora e importante. Vocês estão comprometidos, a partir de agora, a salvar vidas dos pernambucanos", destacou Paulo Câmara.

O secretário estadual de Saúde, André Longo, acompanhou a cerimônia ao lado do governador. À tarde, durante coletiva, ele reforçou o convite para que os novos médicos reforcem as equipes de profissionais que estão atuando na pandemia. "O SUS e o povo de Pernambuco precisam de vocês", disse, dirigindo-se aos formandos. Na seleção aberta pela Prefeitura do Recife para contratação de 40 médicos para atuação nos novos hospitais abertos por causa da pandemia do novo coronavírus não se exige experiência.

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