Se para os alunos das universidades públicas de Pernambuco é grande a expectativa para saber quando as aulas presenciais serão retomadas, imagine para os calouros. Entre os mais de 6.500 jovens aprovados nos processos seletivos da UFPE, UFRPE e UPE, para turmas de segunda entrada deste ano, muitos não veem a hora de estrear a vida de universitários. Devido à pandemia do novo coronavírus não há ainda previsão de quando isso vai acontecer, embora já se cogite a possibilidade dessas turmas só começarem em 2021 ou, sendo otimista, no final deste ano.
Em todo o Estado, escolas, faculdades e universidades públicas e privadas estão fechadas para aulas presenciais há quase três meses, desde 18 de março, por decreto do governo estadual. Essas três universidades somam cerca de 64 mil alunos, juntando calouros e veteranos, no Recife e em mais nove cidades do interior. Enquanto na educação básica as atividades remotas têm sido uma opção para diminuir os impactos da suspensão das aulas presenciais, no ensino superior público pernambucano os reitores alegam que pelo menos um terço dos alunos é de baixa renda, o que dificulta a adoção dessa modalidade de ensino.
Nesta segunda-feira (16), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem cerca de 65 mil alunos, anunciou que só retomará as aulas presenciais quando houver vacina ou medicação contra o novo coronavírus.
“É importante dizer que, se não houver alternativas, como a vacina ou medicamento eficaz contra a covid-19, o retorno presencial completo não será possível no ano de 2020. Portanto, precisamos discutir com responsabilidade e coerência a possibilidade do retorno progressivo de parte das nossas atividades no formato remoto emergencial, para que o ano acadêmico de 2020 não seja completamente perdido”, destacou a reitoria da universidade carioca.
Na UFPE, a maior das universidades públicas do Estado, estudam cerca de 32 mil alunos na graduação e lecionam 2.500 professores. Para a segunda entrada de 2020, a previsão é ter o ingresso de 2.966 calouros, conforme a Pró-reitoria de Graduação. Foi lançada, no início deste mês, uma pesquisa para saber dos estudantes, docentes e técnicos, se eles têm acesso a equipamentos e à tecnologia e quais condições possuem de estudar, lecionar ou trabalhar remotamente, além de questões sociais.
O primeiro semestre letivo, iniciado em 2 de março, só registrou duas semanas de aulas. Se o calendário acadêmico não tivesse sido interrompido pela pandemia, as aulas regulares acabariam em 10 de julho, com o segundo semestre acontecendo de 3 de agosto a 11 de dezembro (uma média de quatro meses e uma semana de aulas em cada semestre).
Considerando a hipótese de o governo estadual autorizar a retomada das aulas presenciais a partir de agosto e aproveitando também os sábados, o primeiro semestre de 2020 só acabará em outubro ou novembro. Entre um período e outro é preciso adotar um recesso de ao menos 10 dias para colocação de notas e fechamento das atividades. Significa, portanto, que os calouros de 2020.2 ingressarão, no mínimo, em novembro ou dezembro.
"Não dá para prever datas. Não temos como dizer quando o ensino presencial será retomado na UFPE. Estamos ouvindo a comunidade. Sabemos que o retorno das aulas, quando ocorrer, não será no mesmo modelo que havia antes da suspensão. É bem provável que tenha que se adotar outros formatos, como o ensino híbrido ou remoto", diz a pró-reitora de graduação, Magna do Carmo.
Uma das certezas, diz, é que o ano letivo de 2020 só será concluído em 2021. Sobre o ingresso dos novatos, ela diz que não está muito otimista que ocorra ainda este ano. "Se for será lá para o final do ano. O que está garantido é que todos os aprovados terão suas vagas asseguradas", observa Magna.
"Neste momento, muitos aspectos precisam ser observados e vamos nos pautar pelas determinações dos órgãos de saúde. Temos compromisso e responsabilidade com a vida das pessoas. Há professores idosos. Quem vai substituí-los? Turmas de 50 alunos não poderão estar completas, precisarão ser subdivididas. Qual a estrutura física que dispomos?", pondera Magna.
Uma das alternativas que vêm sendo avaliadas na UFPE é a adoção, durante a pandemia, de um calendário acadêmico suplementar. Funcionaria como os já conhecidos cursos de verão ou inverno, quando são disponibilizadas disciplinas para serem cursadas em um intervalo de tempo mais curto. Desta maneira, os estudantes que tivessem interesse poderiam cursar matérias que vão constar nos seus currículos e que não dependem do atual semestre letivo (que está suspenso).
Magna do Carmo diz que uma das experiências que vem sendo analisadas pela UFPE é a da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Lá, a instituição começou nesta segunda-feira (15) um semestre extra, chamado de Período Letivo Suplementar Excepcional (PLSE).
Vai até 29 de julho e a participação é facultativa para discentes e docentes. Nesse intervalo, 19 mil alunos se matricularam (de um total de 29 mil existentes na universidade). O PLSE consiste na oferta de componentes curriculares e outras atividades acadêmicas em formato remoto para estudantes de graduação e que serão contabilizados para integralização dos seus cursos.
Na Rural (UFRPE), há atualmente cerca de 14 mil alunos matriculados nas graduações. No segundo semestre letivo de 2020 vão ingressar 2.190 novatos, de acordo com a Pró-reitoria de Ensino de Graduação. "Para iniciar o período 2020.2 precisamos primeiro concluir 2020.1 e só tivemos duas semanas de aulas, em março. Muito provavelmente o segundo semetre letivo ficará para o ano que vem", comenta a pró-reitora de ensino de graduação, Socorro Oliveira.
"Estamos discutindo com a comunidade sugestões e alternativas para adotarmos durante esse tempo de suspensão das aulas presenciais. Até o fim deste mês pretendemos lançar uma consulta pública com propostas para serem votadas por alunos, professores e técnicos", informa Socorro.
A partir do resultado dessa consulta pública, as propostas serão submetidas à avaliação dos três conselhos da UFRPE: de Ensino, Pesquisa e Extensão; Universitário; e de Curadores. Sem a pandemia, o primeiro período acadêmico na Rural teria sido de 2 de março a 11 de julho e o segundo de 10 de agosto a 12 de dezembro.
Na UPE, o pró-reitor de graduação, Ernani Martins, reforça que não há previsão de retorno das aulas presenciais, por isso não tem como assegurar se os calouros começarão a estudar ainda em 2020 ou apenas em 2021. A instituição tem cerca de 20 mil estudantes (graduação e pós, cursos presenciais e à distância) e 1.283 professores. Para iniciar a graduação no segundo semestre letivo são pelo menos 1.500 novatos.
Manuela Dubeux, 18 anos, vai iniciar o curso de administração na UPE. Está matriculada para a segunda entrada de 2020, no turno da manhã. Como sabia que teria o primeiro semestre do ano livre, decidiu investir no inglês, idioma que estuda há algum tempo. Mas não contava que o período em casa, à espera de oficialmente se tornar uma universitária, fosse aumentado. "Sei que a minha vaga está garantida, mas o ruim é não poder fazer um planejamento. Tem só que esperar. Porque não sei quando vou começar a faculdade", comenta.
Para preencher o tempo e já se familiarizar com ações de marketing, área da administração que pretende se dedicar, ela arrumou um estágio numa empresa de mídia digital. Não ganha salário, mas tem aprendido com plataformas e outras ferramentas online. Sua tarefa, realizada em casa, envolve postagens de pré-candidatos políticos. "Estou aprendendo coisas novas e ocupando as horas livres para não perder o foco", diz Manuela, que já está de olho na empresa júnior da FCAP.
Lucas Antunes, 18, também vai estudar na UPE, no curso de medicina. Enquanto não tem aula, matriculou-se num cursinho online com conteúdo médico. "São videoaulas curtas, de diversos assuntos em anatomia e fisiologia, por exemplo. Estou gostando porque já vou me familiarizando com algumas disciplinas", afirma Lucas.
Para Guilherme Tiburtius, 20, a ansiedade é menor porque ele foi calouro da UFPE em 2018, quando ingressou na engenharia. Cursou pouco mais de um ano. No início do 3º período, ano passado, desistiu para tentar uma nova vaga em ciência da computação. Foi aprovado e espera retomar a vida universitária no segundo semestre letivo deste ano.
"Eu acho que infelizmente as aulas não começam este ano. Estou com muita vontade de voltar a estudar", diz o rapaz, que pretendia passar esse primeiro semestre trabalhando num projeto de ciência da computação em uma empresa de São Paulo mas a covid-19 o impediu. Agora vai atuar no hotel da família até que a UPE inicie as aulas.
CALENDÁRIO LETIVO 2020 DAS UNIVERSIDADES SE NÃO HOUVESSE A PANDEMIA
UFPE
1º semestre
Início das aulas: 2 março
Fim das aulas: 10 julho
2º semestre
Início das aulas: 3 agosto
Fim das aulas: 11 dez
UFRPE
1º semestre
Início das aulas: 2 março
Fim das aulas: 11 julho
2º semestre
Início das aulas: 10 agosto
Fim das aulas: 12 dezembro
UPE
1º semestre
Início das aulas: 2 março
Fim das aulas: 6 julho
2º semestre letivo
UPE
Início das aulas: 10 agosto
Fim das aulas: 11 dezembro