Enem será dias nos 17 e 24 de janeiro; modelo digital acontecerá em 31 de janeiro e 7 de fevereiro

Datas anunciadas pelo Inep são diferentes das escolhidas pelos candidatos que particparam de enquete realizada pelo órgão. A preferência dos estudantes que participaram da consulta pública era provas em maio
Margarida Azevedo
Publicado em 08/07/2020 às 17:14
Vestibulandos voltarão primeiro ao ensino presencial em Pernambuco Foto: Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem


As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, no modelo tradicional, serão realizadas nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021, dois domingos seguidos. Já a avaliação no formato digital, novidade desta edição, será aplicada logo em seguida, nos outros dois domingos: 31 de janeiro e 7 de fevereiro. A reaplicação das provas está marcada para 24 e 25 de fevereiro. Os resultados sairão até 29 de março. As datas foram anunciadas pelo Inep, durante coletiva online na tarde desta quarta-feira (8). O cronograma é diferente do que foi proposto pelo próprio instituto numa enquete realizada entre 20 e 30 de junho.

O Enem 2020 teve um total de 5.783.357 de inscritos, sendo 315.693 candidatos de Pernambuco. Na consulta pública foram sugeridos três conjuntos de datas, nos meses de dezembro, janeiro e maio. A enquete teve apenas 19,3% de participação do total de inscritos (1,1 milhão de votos). As datas mais votadas, por um total de 553.033 estudantes ou 49,7%, foram para que o Enem impresso fosse em 2 e 9 de maio de 2021, e o modelo digital em 16 e 23 de maio.

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A alternativa de realização do Enem em janeiro foi a segunda mais votada, com 35,3% dos votos, o que deu um total de 392.902 estudantes. As datas propostas pelo Inep, nesse caso, foram 10 e 17 de janeiro para o exame tradicional e 24 e 31 de janeiro para o digital. A terceira opção, com 167.415 candidatos (um índice de 15% do total de votantes) foi que o Enem impresso acontecesse em 6 e 13 de dezembro de 2020 e o Enem digital em 10 e 17 de janeiro de 2021.

As provas estavam inicialmente marcadas para novembro, mas por causa da pandemia do novo coronavírus tiveram que ser adiadas, já que todas as redes de ensino no Brasil, entre públicas e privadas, suspenderam as aulas presenciais. Houve uma grande pressão da sociedade para que o Ministério da Educação decidisse pelo adiamento do exame.

SISU EXTRA

O MEC anunciou que caso seja um desejo das instituições de ensino, poderá abrir um terceiro período de inscrições no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em 2020. Normalmente, o Sisu é aberto duas vezes no ano, no primeiro e no segundo semestre. A terceira edição seria para atender mais universidades, uma vez que os calendários acadêmicos não vão coincidir em 2021 por causa da pandemia de covid-19.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) criticaram o Ministério da Educação por ter adotado datas do Enem diferentes das que foram escolhidas pelos candidatos na consulta pública. Em nota assinada juntamente com a Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), as entidades afirmam que vão buscar meios de continuar discutindo novas datas para a avaliação.

“Nesta quarta, o Inep apresentou dados sobre o Enem. Entre eles, a informação de que a cada quatro candidatos, três têm dificuldades com a internet. Alertamos desde o início de nossa mobilização pelo adiamento da prova que a exclusão digital é um dos problemas que os estudantes brasileiros enfrentam nesse momento de pandemia. Por isso, questionamos a enquete realizada com datas sem critérios e a falta de soluções, por parte do governo, para as dificuldades apresentadas”, destacaram, em nota, a UBES, a UNE e a ANPG.

“Agora, a data escolhida pelos poucos estudantes que conseguiram votar não foi levada em conta. A escolha feita pelo MEC demonstra que não existe um diálogo verdadeiramente democrático com os estudantes, profissionais da educação e saúde”, enfatizaram as entidades.

“Vamos continuar lutando, além de recorrer por todos meios cabíveis, para que haja a formação de uma comissão de crise para discussão das novas datas, que envolva não só reitores e secretários de Educação, mas também representação de estudantes, professores e outros especialistas", complementaram.

FRUSTRAÇÃO

“A sensação é que calaram nossa voz. O desejo da maioria não foi respeitado. O sentimento é de frustração pois esperávamos que se o Enem fosse em maio daria tempo de correr atrás do prejuízo causado pela pandemia”, diz Priscila Araújo, coordenadora do cursinho comunitário Carolina de Jesus, voltado para jovens de baixa renda que funciona na Mustardinha e na Linha do Tiro, bairros da periferia do Recife.

“Fico preocupada com os estudantes concluintes do ensino médio de escolas públicas. O Enem sendo em janeiro vai beneficiar uma classe de alunos que tem poder aquisitivo maior, que estuda nas escolas privadas. Se as provas fossem em maio os jovens da rede pública teriam mais tempo para complementar os conteúdos que não estão sendo trabalhados agora por causa da suspensão das aulas presenciais”, afirma a pró-reitora de ensino de graduação da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Socorro Oliveira.

REITORES

Por meio de nota, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), entidade que representa os reitores das universidades federais (são 69 no País), informou que não se manifesta sobre as datas do Enem. Mas destacou a necessidade de que sejam asseguradas condições de biosegurança durante a aplicação das provas. E ressaltou sobre a importância de garantir equidade entre os candidatos. A Andifes foi uma das instituições citadas pelo Inep que foi consultada antes da definição das datas das provas.

"A Andifes não se manifesta sobre datas do Enem. Entende ser essa uma responsabilidade do INEP. Manifesta-se, sim, sobre as condições de realização do certame, reafirmando ser fundamental um Enem tecnicamente exitoso e com concorrência democrática. A data anterior não apresentava as condições necessárias. Por isso, foi proposta a suspensão da prova", diz a nota, assinada pelo presidente da associação e reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles.

"A primeira e necessária condição é justamente a biossegurança dos candidatos e profissionais envolvidos em todo o processo, sobretudo na aplicação das provas. Portanto, as autoridades têm a responsabilidade de prover os meios necessários à proteção da saúde de todos. Essa condição exige providências e constantes avaliações até o dia do exame", ressalta a Andifes.

"A segunda condição é a maior equidade possível entre os candidatos. Afinal, os seis milhões de candidatos inscritos precisam ter oportunidades reais de aprendizado dos conteúdos demandados no Enem. Em respeito à educação pública e aos educadores, esse é um parâmetro sobre o qual o Consed deve se manifestar", complementa o reitor, na nota. O Consed é o Conselho Nacional de Secretários de Educação, que reúne os secretários estaduais da área educacional.

O presidente da Andifes finaliza destacando que o Enem interessa a toda a sociedade e impacta o presente e futuro de gerações de brasileiros.

SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO

Também por meio de nota, o Consed ressaltou que "chegar a uma data ideal para a realização da prova não é uma tarefa fácil, afinal quanto mais tempo o estudante tiver para se preparar e recuperar as perdas causadas pela crise sanitária, melhor". Diz que que a solução encontrada pelo Inep, ao realizar as provas em janeiro, "é a menos danosa, considerando todo o contexto da pandemia".

"Não podemos desconsiderar toda a organização do calendário do ensino superior, afinal o resultado do Enem é usado pelo Sisu, pelo Prouni e pelo FIES, ou seja, para o acesso não apenas a instituições de ensino superior públicas, mas também a instituições privadas. Logo, afetar essa organização poderia causar ainda mais desigualdades no acesso ao ensino superior para os estudantes, especialmente da rede pública". E complementa: "as datas estabelecidas permitem o acesso de estudantes a instituições de ensino superior públicas e privadas ainda no primeiro semestre de 2021."

 

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