Exatos 207 dias depois, os alunos das escolas particulares de Pernambuco podem escolher voltar às aulas presenciais, suspensas no dia 18 de março devido à pandemia da covid-19, ou continuar no ensino remoto. Pelas escolas do Recife e Olinda que a reportagem percorreu nesta sexta-feira (9), o sentimento dos estudantes presentes nas unidades era de alegria e saudade do convívio diário. O retorno foi permitido após cassação da liminar lançada na segunda-feira (5), que proibia a reabertura das unidades. Nas escolas estaduais um acordo entre governo e sindicato docente manterá os colégios fechados até pelo menos 20 de outubro.
A estudante Maria Clara Barroso, 17, do Colégio Santa Maria, conta que se sentiu frustrada e chorou quando soube, na segunda, que não poderia ir para a escola na terça-feira (6), data prevista para a volta dos concluintes no calendário divulgado pelo governo de Pernambuco. Quando questionada sobre sua reação nessa quinta-feira, quando a liminar foi derrubada, ela relata: "foi de muita alegria, explodi de felicidade, inclusive chorei hoje me arrumando pra vir para a escola, porque estava com muita saudade, estou muito feliz em voltar", disse a fera de medicina.
A alegria é compartilhada por Luisa Bezerra, 17. “Estava muito ansiosa para voltar, fui dormir mais tarde ontem conversando com os amigos e combinando como seria hoje”, relatou. Já o fera de odontologia Lucas Lobato, 17, afirma que não estava ansioso para voltar. "Para mim é normal voltar, estava um pouco chateado porque os meus amigos não iam vir hoje, mas estou feliz por voltar para a escola", afirmou.
A unidade de Boa Viagem do Colégio Santa Maria tem 210 alunos de terceiro ano matriculados. A direção organizou para que, a cada dia, a metade desse total possa ir até a escola, enquanto os outros alunos continuarão assistindo às aulas de casa. A expectativa de retorno nesta sexta é de 70% a 80% dos estudantes, por, segundo o coordenador do ensino médio Rodrigo Martins, ter sido "pouco tempo para avisar às famílias que teria aula".
No Colégio Dom, em Casa Caiada, Olinda, dos 31 estudantes que informaram à escola que queriam o ensino presencial, só quatro compareceram às aulas nesta sexta-feira. No total, há 114 alunos do 3º ano do ensino médio. A coordenação também fez um rodízio de alunos, dividindo-os em dois grupos: um vai na segunda, quarta e sexta, enquanto o segundo vai na terça, quinta e sábado. O grupo que fica em casa assiste às aulas pela internet.
A fera de arquitetura Anny Nathiely Melo, 17, do Dom, relata ter ficado "mal" quando soube não ia voltar para a escola. "Em casa o estudo não é igual ao presencial. Fiquei com medo de voltar e não ter aula e tive dificuldade de acordar porque, mesmo que o horário fosse o mesmo [no ensino online], às 7h30, precisei acordar mais cedo, às 5h50, para me organizar e ir para a escola", afirmou.
Já o Colégio Fazer Crescer, no Rosarinho, Zona Norte do Recife, começava a receber os primeiros alunos por volta das 7h. Funcionários e professores já haviam chegado e aguardavam pelos concluintes. As aulas devem acontecer normalmente, até às 13h15. Cerca de 20 alunos são esperados.
Cabe a cada colégio privado decidir a data de volta dos concluintes. Os colégios Fazer Crescer, Santa Maria e Madre de Deus, no Recife, e Dom, em Olinda, funcionaram nesta sexta-feira (09). O Equipe, Cognitivo e CBV permaneceram fechados hoje, mas informam que reabrirão terça-feira. No Damas e no GGE também não houve aula presencial.
Só a partir de terça-feira (13) estão liberados a retornar, conforme o cronograma do governo estadual, os estudantes do 2º ano do ensino médio. Para os adolescentes do 1º ano a volta vai ser permitida na semana seguinte, em 20 de outubro.
A greve dos professores da rede estadual, deflagrada há quatro dias (começou na terça), foi suspensa nesta quinta-feira. A categoria aprovou, em assembleia, interromper a paralisação. Mas a interrupção foi encerrada com a condição de o governo estadual garantir que não retornará as aulas presenciais na rede estadual até 20 de outubro, mesmo que a Justiça autorize.
Segundo o presidente do Sintepe, Fernando Melo, a proposta de não retorno até o dia 20 foi feita pelos secretários de Educação, Fred Amancio, e Administração, Marília Lins, durante negociação com a direção do sindicato, antes da assembleia. Com a presença de 1.100 profissionais no ambiente virtual, a proposição foi aprovada por 78% dos docentes.
Foi acordado também que em cada Gerência Regional de Educação (GRE) haverá uma comissão para conferir, na semana que vem, se as unidades de ensino estão em condições de cumprir o protocolo para retorno. Uma nova assembleia foi marcada para o dia 19, quando os docentes decidirão se concordam em voltar ao trabalho presencial.
A rede estadual tem cerca de 290 mil alunos no ensino médio. Desses, 91 mil puderam voltar para a escola na última terça-feira. Mas uma decisão judicial, a partir de uma ação movida pelo Sintepe, mandou que o retorno fosse suspenso.