No último ano, pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontava que cerca de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tinham acesso à educação no Brasil. Apesar de ainda não haver um índice referente a 2021, dificuldades trazidas pela pandemia da covid-19 fazem com que especialistas e gestores temam crescimento de evasão escolar - que precisaria ser contornado a partir de uma busca ativa desses estudantes.
É o que diz o Estudo da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) divulgado nesta quinta-feira (22) com apoio da Unicef e do Itaú Social. A pesquisa ouviu 3.355 redes, que representam 60,2% do total de municípios do País e que juntas respondem por mais de 13 milhões de estudantes da educação básica pública brasileira.
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Desse total de entrevistados, cerca de 60% responderam que é uma das prioridades das redes municipais de educação a procura pelos alunos em abandono ou risco de abandono escolar; e, para 71,8%, a procura pelos alunos e alunas que não têm acompanhado as atividades educacionais desde o início da pandemia tem sido realizada pela plataforma Busca Ativa Escolar, uma iniciativa da Unicef.
Em entrevista ao JC, a presidente da Associação Nacional de Educação Básica Híbrida (Anebhi) e uma das responsáveis pela criação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Maria Inês Fini, aponta a busca por esses estudantes como uma das principais formas de evitar uma acentuação nos números de abandono escolar e lacunas educacionais.
"Temos que fazer buscas ativas e incessantes, não podemos deixar nenhum para trás. Temos que fazer uma busca individualizada atrás de todos que deixaram as escolas; seja qual tenha sido o motivo. Temos que lembrar que esses alunos são vítimas, e não culpados", diz.
De acordo com Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil, por meio da Busca Ativa Escolar, municípios e estados podem ter acesso a dados que possibilitam planejar, desenvolver e implementar políticas públicas que contribuam para a inclusão escolar e que promovam seus direitos de forma integral.
"Com o fechamento prolongado das escolas, milhões de crianças e adolescentes ficaram sem acesso à educação, em especial os mais vulneráveis. Corremos o risco de retroceder 20 anos no acesso à educação no Brasil. É fundamental priorizar ações de busca ativa e ir atrás de cada menina, cada menino que não se manteve aprendendo na pandemia, ou já estava excluído antes dela", destaca.
"Vínhamos melhorando muito, e tínhamos muita esperança que, com a reforma do ensino médio e da base nacional comum curricular, começaríamos 2020 com currículos mais atraentes, só que todo mundo foi pego de surpresa e isso acentuou a grande diferença que já existia na família brasileira. A sala de visitas das famílias virou a sala de aula. Da sexta para a segunda-feira, os professores viraram youtubers e atores de vídeo, e enfrentaram tudo isso com muita coragem. Temos uma desigualdade social acentuada, e as famílias não tinham equipamentos para receber esse ensino via plataforma digital, então houve muita dispersão de energia", avalia Maria Inês.
Em relação às medidas mitigadoras para amenizar danos na educação brasileira, a presidente da Anebhi é enfática: "do ponto de vista da escola, seja ela de educação básica ou de ensino superior, vamos ter que repor a escolaridade que faltou; não tem outro jeito. Não adianta fazer aula à tarde, ou ao sábado; vamos ter que ter um currículo de transição que combine o que faltou, que é direito de todos aprenderem, com novos ensinamentos também. É [responsabilidade] da gestão da escola e do conjunto de professores, não é culpa do aluno, ele é vítima, e temos que nos esforçar nesse sentido."
Sobre a pesquisa
Esta foi a quinta fase da pesquisa, que teve a sua primeira edição no início da pandemia, em abril de 2020, para entender como as redes municipais de educação à época estavam se organizando com as atividades educacionais. No estudo atual, as respostas foram coletadas entre os dias 15 de junho e 9 de julho de 2021 e teve a participação de 3.355 redes, que representam 60,2% do total de municípios do País, e juntas respondem por mais de 13 milhões de estudantes da educação básica pública brasileira. Mais de 80% das respostas foram dadas pelos titulares da pasta da educação de municípios com até 50 mil habitantes.