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Por Mirella Araújo e equipe
COLUNA ENEM E EDUCAÇÃO

Mesmo com aumento de casos de covid-19, maioria das escolas privadas de Pernambuco não faz campanha para estimular vacinação de crianças

Oficialmente as escolas dizem que defendem a vacinação de seus alunos, mas pouco fazem na prática para estimular as famílias a levarem as crianças para serem imunizadas

Cadastrado por

Margarida Azevedo

Publicado em 10/02/2022 às 7:00 | Atualizado em 10/02/2022 às 15:23
Escolas têm que adotar protocolo sanitário específico da educação para ter aulas presenciais - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Escolas particulares de Pernambuco não estão estimulando, oficialmente, a vacinação de seus alunos contra a covid-19. O discurso de que são favoráveis à imunização é dito por vários diretores, mas apenas nos bastidores. Para as famílias, nenhum comunicado ressaltando a importância de levar as crianças e adolescentes para tomar a primeira dose da vacina que protege contra o coronavírus, doença que somente no País já matou mais de 633 mil pessoas e infectou 26,7 milhões de brasileiros. E que mexeu tanto com a rotina escolar de milhares de estudantes e professores.

Até ontem, apenas 15,36% das crianças de 5 a 11 anos haviam iniciado o esquema vacinal no Estado, segundo painel da Secretaria de Saúde de Pernambuco que informa o total de vacinados por grupo. Do universo estimado de crianças nessa faixa etária, 1.182.444, só 181.583 receberam a primeira dose. Na capital pernambucana, de acordo com a Secretaria de Saúde do Recife, o índice de imunizados com essas idades é de 19,41% - são 30.971 crianças. A cidade calcula uma população de 159.558 habitantes entre 5 e 11 anos.

É de praxe, no início do ano letivo, os colégios enviarem mensagens de boas vindas aos pais e alunos. Levantamento feito pelo JC junto a famílias ou diretores de grandes escolas privadas, sobretudo do Recife, mostra que a vacinação pode até ter sido citada em alguns textos, mas nada que enfatize a imunização. Os estabelecimentos de ensino preferiram chamar a atenção para as regras do protocolo sanitário e para a oferta ou não do ensino remoto. Foi assim no Damas, GGE, Equipe, Marista/São Luís, Agnes, Apoio, Santa Maria, Cognitivo, CBV, Núcleo, Fazer Crescer, Visão e Motivo.

DEPOIMENTOS

Segundo o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Pernambuco (Sinepe), José Ricardo Diniz, o início do ano letivo, essencialmente com aulas presenciais na rede privada, teve adesão de 80% dos estudantes. Estão matriculados cerca de 460 mil alunos em 2.437 colégios, onde lecionam 30 mil docentes. Entre os 20% que não compareceram, ele diz que são poucos que não foram porque as famílias estão receosas com a contaminação da covid-19. "A maioria é porque está com sintomas da doença ou por ter tido contato com pessoas doentes", afirma José Ricardo.

"Somos favoráveis que todos os nossos alunos estejam vacinados. Exigimos isso dos nossos professores e funcionários. Mas é uma questão delicada junto às famílias. Muitas concordam, porém também muitas são contra. Por isso não cobramos a vacinação, esperamos que seja feito pelo poder público", diz o diretor de uma dessas escolas consultadas pelo JC. Ele não quis se identificar justamente porque se fizesse seria criticado pelos pais contrários à vacinação das crianças.

Uma outra escola não mandou comunicado, mas colocou, nas suas redes sociais, fotos de alunos sendo vacinados. "Tivemos que tirar do ar porque pais que não levaram os filhos para tomar vacina disseram que eles seriam discriminados. O problema é que usam argumentos políticos para não dar a vacina, quando deveria haver o pensamento coletivo", comenta a diretora de outro colégio da capital.

"Defendemos a vacina como importante. Orientamos as escolas que motivassem as famílias. Ao mesmo tempo entendemos que não podemos exigir a vacinação, colocar como obrigatória. Lidamos com pais das mais variadas visões e por isso é um assunto complexo", argumenta José Ricardo. No site oficial do sindicato, não há qualquer orientação às escolas sobre a vacinação. Tampouco foi enviado ofício com o tema para os diretores dos colégios, segundo o presidente do Sinepe.

FAMÍLIAS

Mãe de uma menina de 5 anos e de um garoto de 11 anos, a professora universitária Marília Perrelli já levou os dois filhos para tomarem a primeira dose. "Vacinar é um pacto coletivo e enquanto sociedade é garantir o acesso à proteção individual e da população como um todo. No caso das crianças e adolescentes, é garantir antes de tudo um direito", diz Marília.

"Assim como houve incentivo por parte das escolas em relação ao cumprimento dos protocolos, esperávamos, enquanto pais, estímulo também na perspectiva da vacinação neste momento onde já temos acesso a vacinas para essa faixa etária e estamos vivenciando mais um pico de uma nova variante nesta pandemia", destaca.

Também professor universitário e pai de dois garotos, com 9 e 14 anos, o biólogo Filipe Aléssio defende a imunização das crianças. "Presenciei um colega dizer que estava com medo de vacinar sua filha de 11 anos pois tinha ouvido falar que a vacina modificaria o DNA das pessoas. Como podemos ter medo da ciência em pleno século 21? A ciência já produziu e continua produzindo coisas maravilhosas, como outras vacinas que já salvaram milhões de vidas", observa Filipe.

"É de estranhar que escolas do Recife, notadamente as privadas, não tenham ainda iniciado campanha de vacinação e solicitação de comprovante vacinal para que as crianças possam assistir às aulas presenciais", lamenta Filipe. O filho mais velho já tomou as duas doses e o caçula a primeira.

ESCOLAS ABERTAS

"De um lado, estamos ainda em uma crescente de casos de covid-19 e do outro, não podemos mais manter as escolas fechadas, pois isso refletiu diretamente no aprendizado dos estudantes nos últimos dois anos. As redes de ensino, com o apoio de instituições do setor da educação, prepararam protocolos. A vacinação de crianças e adolescentes faz parte dos protocolos para a segurança sanitária porque é essencial para a proteção de todos", observa a coordenadora de Implementação Regional do Itaú Social, Claudia Petri.

"Porém, é importante destacar que não podemos condicionar o acesso à educação presencial, já que ainda há muitas desigualdades na distribuição do imunizante. As escolas podem estabelecer dinâmicas e rodas de conversa que tratem sobre a prevenção da covid-19 e a importância da vacinação em suas atividades", sugere Claudia.

"Faz parte, na educação, o desenvolvimento de competências e aprendizagens como a socialização, a autonomia e a comunicação. A saúde pode ser um tema tratado por meio de interações e brincadeiras. Orientar as famílias sobre a vacinação, sanando dúvidas, também é uma alternativa", ressalta.

Na rede estadual de ensino, segundo a Secretaria de Educação de Pernambuco, cada escola pode ter sua ação relacionada à vacinação. A orientação é que as gestões conversem com os os pais e responsáveis e até com os estudantes.

A recomendação é que os gestores e coordenadores questionem sobre vacinação e os que não foram vacinados sejam chamados para explicações. Mas assim como na rede privada, a imunização não é condição para a frequência às aulas.

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