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Enem e Educação

Por Mirella Araújo e equipe
ENEM 2024

Enem: O que esperar do exame nacional com as mudanças no Novo Ensino Médio

Entre os desafios que cercam o Enem também está a recomposição do Banco Nacional de Itens que sofre há anos com escassez de questões

Cadastrado por

Mirella Araújo

Publicado em 10/01/2024 às 13:44 | Atualizado em 10/01/2024 às 16:37
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 ocorreu nos dias 5 e 12 de novembro - Jonas Quirino / TV Jornal

O debate sobre as mudanças nas diretrizes do Novo Ensino Médiosó deverá ser retomado no Congresso em março deste ano, mas as discussões também incluem como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deverá ser reformulado a partir do que for aprovado pelos parlamentares. 

A principal divergência entre o texto proposto pelo governo federal e o relatório apresentado pelo relator, o deputado federal Mendonça Filho (União Brasil-PE), é a carga horária básica. O parlamentar estabeleceu um teto de 2,1 mil horas para a formação geral básica, enquanto o Ministério da Educação defende que sejam 2,4 mil horas, com a possibilidade de que a educação técnica cumpra apenas 2,1 mil horas.

“Para entendermos as mudanças que devem ocorrer no Enem, precisamos primeiro entender como ficará o Novo Ensino Médio. Na disciplina de geografia por exemplo, tínhamos três aulas por turma, mas com o Novo Ensino Médio, essa carga horária baixou para uma aula nos segundos e terceiros anos. E não só em geografia, todas as matérias do currículo comum tiveram uma redução na sua carga horária em detrimento dos itinerários formativos”, afirmou o professor de geografia da rede estadual de Pernambuco, Marcelo Rocha.

Ainda segundo o docente, caso as disciplinas do currículo geral básico (português, matemática, história, geografia, física, biologia, inglês e química) retomem a carga horária antiga, o Enem da forma como é proposto hoje atende bem às necessidades.

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Na área de Ciências da Natureza, o professor de geografia avalia ainda que nos últimos dois anos, o Enem valorizou mais a questão interpretativa. “As questões interpretativas trazem uma abordagem mais próxima do nosso cotidiano, então são coisas que você não necessariamente vai aprender decorando fórmulas, mas lendo um jornal, assistindo uma reportagem, tendo acesso a uma diversidade de conteúdos no dia a dia”, destaca Rocha.

“A grande questão é que a proposta original previa que o Enem seria menos conteudista e que abordasse mais esses itinerários formativos. O problema é que o número de disciplinas que compõem o itinerário formativo no Brasil, ela é gigantesca. Não ficou definido quais os itinerários deveriam ser abordados no país. Então como vamos cobrar isso no exame nacional?”, questiona Marcelo Rocha.

 

O Enem 2023 contou com 3,9 milhões de inscritos e uma taxa de abstenção de 32%, seguindo um volume padrão comparado as últimas edições - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A professora de linguagens da Escola Técnica Estadual (ETE) Dom Bosco, Nathaly Caldas, afirma que existe uma angustia por parte dos professores, principalmente da rede pública, em saber como preparar os alunos para esse novo Enem. 

"É muito importante essa discussão e que ela seja de feita de forma célere, para os professores começarem o ano letivo sabendo exatamente quais conteúdos vão precisar readequar para esse novo Enem, caso ele se confirme. Hoje, nós temos um Enem que aborda de forma muito superficial os conteúdos literários. Porém, neste ano de 2024, os conteúdos nem passam pela formação do estudante. A não ser que o professor insista em trazer esses conteúdos para sala de aula", explica Nathaly. 

EXAME MAIS CONECTADO COM A REALIDADE DO PAÍS

As provas do Enem de 2023, em uma avaliação mais geral, foram consideradas menos conteudistas e mais interpretativas, com o nível de complexidade considerado equilibrado. Ainda não se sabe se essa será uma tendência que permanecerá após a aprovação das mudanças do Novo Ensino Médio, mas também se faz necessário a discussão sobre o nível das habilidades que os estudantes possuem ao realizarem as prova

A professora de redação Fernanda Pessoa, explica que diante do problema com a questão da não elaboração de novas questões para a metodologia chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI), a última edição do exame foram consideradas mais interpretativas. 

Dentro dessa metodologia, nas questões fáceis, espera-se que o aluno consiga memorizar, saber conceitos. "Então o aluno do ensino médio, que muitas vezes tem acesso somente a um conteúdo programático jogado, ele tem dificuldade mínima de interpretar e memorizar, que ele deveria ter aprendido lá no fundamental", pontua a docente.

"O problema não é o Enem interpretativo, o problema é o aluno com pouca habilidade de leitura. O aluno pós pandemia, ele teve que aprender a aprender porque ele não sabe ler. Se a gente for fazer uma pesquisa real, o nível de analfabetismo dos nossos jovens está muito maior após a pandemia. Não é só uma questão mais interpretativa, é uma questão que exige uma habilidade de leitura que o aluno não tem", explica Fernanda Pessoa. 

Segundo os cálculos feitos pela professora de redação, as provas de linguagens e ciências humanas aplicadas no primeiro dia, tiveram pouco mais de 100 mil caracteres (sem contar com espaços). Já no segundo dia do exame, as 90 questões divididas entre matemática e ciências da natureza, somaram 70 mil caracteres

O ponto central desses dados mostra que as provas do Enem estão cada vez mais extensas e que o aluno tem que ter uma habilidade leitora para resolver as questões". "É um aluno que estuda o ano inteiro para uma prova que exige dele o conhecimento de um conceito, mas que ele precisa saber ler. Não é só a questão dela ser interpretativa, o que acho que se mantém, mas com acesso de mais conteúdo programático", afirma Fernanda Pessoa. 

ESCASSEZ DE QUESTÕES

Logo após a realização do Enem 2023, em novembro do ano passado, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palácios, afirmou que o órgão deverá lançar um novo edital de seleção de elaboradores e revisores de itens da prova.

O Banco Nacional de Itens (BNI) sofre com a escassez de questões há anos e servidores do Inep já vinham fazendo alertas sobre o problema desde o governo anterior.

Na ocasião, Palácios afirmou que a previsão de divulgação do chamamento público seria em janeiro de 2024 - o último edital foi de 2020. Os critérios, inclusive, serão os mesmos utilizados em seleções anteriores: titulação, experiência docente e a experiência na construção de instrumentos de avaliação, entre outros itens pontuados.

Além das críticas com relação às questões consideradas repetidas, o Enem 2023 também enfrentou polêmicas ao abordar a “lógica do agronegócio”. A Frente Parlamentar ligada à defesa do setor, chegou a pedir a anulação de três questões, por considerá-las com viés ideológico.

Em resposta, o presidente do Inep e o ministro da Educação, Camilo Santana, descartaram a possibilidade de anulação e ressaltaram que não há interferência do MEC na elaboração dos itens aplicados no exame nacional.

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