Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio
O presidente Jair Bolsonaro não fará nenhum movimento de aproximação com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Não fará nada além de atos protocolares necessários às ações burocráticas decorrentes das relações entre os dois países, e só.
Esqueça a importância de um estreitamento dessas relações entre a primeira potência econômica, democrática e militar do mundo e um país que está entre as 10 maiores economia do planeta.
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Ele não está preocupado com isso. Nunca esteve. Está preocupado em manter sua base de fiéis seguidores de 13,8 milhões no Facebook; 18 milhões no Instagram; 6,6 milhões no Twitter e 3,1 milhões no seu canal no YouTube.
E embora parte desses números sejam sobreposições entre as plataformas, ainda assim, são números suficientes grandes para transformá-lo num influenciador digital de primeira linha no Brasil e até fora dele.
A saída de Trump, com o banimento de suas contas em quase todas as plataformas na internet, preocupa muito Bolsonaro. Fora da presidência sem o @realDonaldTrump com seus mais 88 milhões de seguidores, apenas na conta fechada do Twitter, quase o deixa órfão.
Além de Trump estar fora das bases do Facebook, Snapchat, Twitch, entre outros, o aplicativo da rede social Parler, utilizada pelos trumpistas, foi banido das lojas de aplicativos do Google, Apple e até da Amazon, o que cria um problema operacional para o discurso de Bolsonaro.
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Ele terá que criar formas de "lacração" doméstica ainda que use também, de forma indireta, canais alternativos no Brasil e as contas da presidência da República. Trump lhe ajudava como um farol do que pensa ser o pensamento da nova direita.
Bolsonaro precisa das redes sociais para se manter competitivo em 2022. Se mantiver ativa sua base digital, acredita que poderá chegar suficientemente forte para disputar o segundo turno. É nisso que se concentra.
O presidente sabe que, sem ancoras econômicas - programas com o Auxílio Emergencial - e um acordo no Congresso, poderá ver rapidamente erodida sua base. Inclusive nas Forças Armadas que procura agradar.
Isso o levará a ser mais acessivo digitalmente no Brasil. Nas pautas de costumes, de meio ambiente e segurança.
Ele sabe que ainda que Donald Trump consiga manter alguma plataforma, será um ex-presidente que atacou a instituição mais sólida dos Estados Unidos, o Capitólio. Como se costuma dizer no Brasil: será bananeira que já deu cacho.
Mas é importante não esquecer que para Bolsonaro, Donald Trump é o maior líder politico do mundo. Ele continuará a se inspirar nele.
Isso explica as provocações do presidente e do chanceler Eduardo Araújo para desespero do corpo tradicional do Itamaraty. Araújo continua fortíssimo com o presidente. Bolsonaro enxerga no seu ministro competência para fazer o que ele acha que precisa ser feito para manter o seu discurso.
Bolsonaro não está preocupado com o que pensam sobre ele Biden, Merkel, Macron ou qualquer dirigente internacional. Alguém acha que Bolsonaro está interessado na opinião sobre o seu governo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen?
Claro que isso nos levará a dois anos de pura "lacração" do presidente. Falará todos os dias e no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, olhando para apoiadores e divertindo-se em criticar a Imprensa, que virou seu esporte preferido.
Vai ser ruim para o Brasil? Vai! Afinal, como imaginar a performance de retomada da economia quando o presidente diz que o seu país está quebrado? Como imaginar uma retomada da economia quando ele colocar em dúvida a eficácia das vacinas dizendo que não vai se vacinar? Ou que declara seu desejo de armar a população contra a fragilizada esquerda brasileira?
Isso pode chocar muitos democratas, causar calafrios nos cientistas, frustrar milhares de empresários que, de boa-fé, apostaram num governo que ele prometia liberal. Mas como diz a música sertaneja de Adson e Alana, é “O Que Tem Pra Hoje”.
E sempre é bom lembrar aquela interpretação de alguns analistas de que Jair Messias Bolsonaro não imaginou ser presidente de República e muito menos se preparou para isso.
Seu desejo era encerrar a carreira de sete mandatos com um filho no Senado, outro na Câmara Federal e voltar para sua praia no Condomínio Vivendas da Barra, Rio de Janeiro e, quem sabe, disputar a prefeitura, hoje ocupada por Eduardo Paes.
De sua perspectiva, era o coroamento de um pai que deu futuro a seus filhos na política. Estava de bom tamanho. Mas aí veio a facada, tudo mudou e ele virou presidente. O resto, todo mundo lembra o que aconteceu.