Se o Governo de Pernambuco não livrar Porto de Galinhas de facções, destino turístico internacional já era

Porto de Galinhas é um destino turístico construído ao longo de 20 anos pelo setor privado, que decidiu cuidar do seu negócio
Fernando Castilho
Publicado em 31/03/2022 às 17:00
REFLEXO Empreendedores temem que turismo seja afetado negativamente Foto: FILIPE JORDÃO/ACERVO JC IMAGEM


Recomenda-se ao Governo de Pernambuco uma ação de emergência para definir, rapidamente, como vai enfrentar a questão de facções criminosas que se instalaram no município de Ipojuca cuja violência chegou ao ponto de proporcionar a morte de uma criança durante operação policial na comunidade Salinas, nessa quarta-feira (30).

Se o Estado de Pernambuco não se apresentar na região e identificar e desenvolver ações de efetivo combate a esse tipo de negócio, aparentemente já estabelecido ali, é bom começar a pensar no desmonte de um destino turístico construído ao longo de 20 anos pelo setor privado, que decidiu cuidar do seu negócio enquanto os órgãos do setor de turismo viraram coadjuvantes.

É importante pontuar isso. O cluster turístico de Porto de Galinhas é uma construção do setor privado que vem botando muito dinheiro na sua divulgação a ponto da rede hoteleira e a infraestrutura de suporte ao turista. O que existe ali é o resultado do esforço de anos do setor que decidiu não esperar pelo Governo do Estado para bancar sua promoção internacional especialmente na América do Sul.

ALEX OLIVEIRA/JC IMAGEM - INTERDIÇÃO Grupo ateou fogo e fechou vias de acesso à praia. Protesto durou até o final da noite

Sempre alegando falta de verbas, embora venha se aproveitando do sucesso na mídia, o Estado não é o principal agente promotor do destino Porto de Galinhas que estruturou sua estratégia de divulgação sem esperar por verbas da Empetur e Secretaria de Turismo ao contrário de outros estados do Nordeste.

O problema da morte da garota Heloysa Gabrielly - que estava na frente de casa, brincando, quando foi atingida por disparos de arma de fogo - é que essa violência dá visibilidade nacional a Porto de Galinhas da pior forma possível.

Não é de hoje que a imprensa e a comunidade de Ipojuca e os empresários vêm alertado as autoridades sobre um tipo de violência que só tem comparação com o cenário em grandes comunidades dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro em São Paulo.

Coisas como mortes de vários traficantes por espaço no tráfico, toques de recolher em alguns bairros do município e estruturação de redes de distribuição de drogas forma sendo tratadas como decorrência da violência da Região Metropolitana quando eram ações muito maiores.

Se o Estado não se estruturar e ter no território ações permanentes, as fotos das praias e os belos trechos de paisagens ecológicas vão ser substituídas por fotos como as hoje quando o comércio fechou com medo de novas ações.

Não é razoável tratar Porto de Galinhas como um município onde traficantes disputam pequenos pontos de drogas quando há sinais claros de que ali existe uma negócio muito bem mais estruturado no crime e que já provoca disputa de espaços de atacado.

Não se trata de resolver e esclarecer a morte de uma vitima inocente no meio de um tiroteio que a polícia afirma ser uma reação a um grupo de traficantes. Trata-se de demonstrar à sociedade e ao setor de turismo que estar em Porto de Galinhas é seguro e que no seu entorno habitam pessoas que trabalham e atendem ao setor.

Porque se Porto de Galinhas virar assunto policial, o destino construído como muito trabalho, esforço e dinheiro do setor privado e também público, já era.

DIVULGAÇÃO - Projeto Costa Dourada Pernambuco

PORTO DE GALINHAS: Dia de caos acendeu sinal de alerta para o trade turístico

Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco, viveu um dia atípico nesta quinta-feira (31). Com o comércio e serviços fechados em protesto à morte de uma criança, ocorrida nesta-quarta-feira (30), em uma ação policial. Os turistas tiveram que ficar nos hotéis e o assunto segurança virou prioridade num dos principais destinos turísticos do Estado.

"Nunca vi isso acontecer aqui, não dessa forma", disse uma moradora de Nossa Senhora do Ó, distrito de Ipojuca, vizinho a Porto de Galinhas. Sem querer se identificar, a moradora que também atua na área do turismo ficou surpresa com os protestos. "Fecharam todos os principais acessos para a vila de Porto e Maracaípe. Nada funcionou. De padaria, a restaurante, de lojinha de artesanato aos passeios de jangada e de bugre, ninguém trabalhou hoje. E dizem que pode continuar assim por três dias", falou a empreendedora. Ela atribui o momento de tensão as ações da Policia na região. "Parece que o pessoal da comunidade não concorda muito com a presença do BOPE. Desde que eles chegaram, há cerca de um mês, existe uma certa tensão", admitiu.

TURISMO

Para o vice presidente do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau, Otaviano Maroja esta quinta-feira foi "atípica e ruim". Otaviano Maroja disse que, sem ter para onde ir, os hóspedes foram obrigados a permanecer nos hotéis. "Não tinha passeios, restaurantes, lojinhas de artesanato, nada para fazer fora do hotel, então eles tiveram que aproveitar a piscina, o SPA, a recreação.... por um dia, tudo bem. Mas, e se continuar?". O empresário acredita que Porto de Galinhas vive uma situação delicada em relação à segurança. "Hoje estamos no calor da emoção, da morte dessa criança, que foi uma coisa terrível e lamentável, mas daqui há alguns dias vamos entender melhor o que aconteceu", acredita Maroja que defende que a discussão sobre um modelo de segurança deve envolver todos, mas a solução deve partir das autoridades. "Claro que a sociedade e os empresários podem contribuir com propostas, mas a solução deve vir de quem entende, do poder público, prefeitura, governos estadual e federal. Nós entendemos de hotel", pontuou.

O presidente da Associação de Jangadeiros de Porto de Galinhas, Sávio Acioly, disse que o comércio e os serviços fecharam hoje mais em solidariedade a morte da pequena Heloísa, que era filha de um dos jangadeiros da associação. "Mas amanhã [sexta, 1 de abril] está programado para tudo voltar ao normal", disse Sávio. O jangadeiro afirmou que a segurança feita em Porto de Galinhas ultimamente é muito irregular. "Uma coisa é o policiamento feito na orla, outro é o policiamento nas comunidades. Na orla é constante, tranquilo, mas nas comunidades...a gente sempre fica ansioso quando tem uma ação [da Polícia] na periferia. O que aconteceu com a menina estava quase que ensaiado para acontecer, uma hora ia acontecer com alguém e, infelizmente, foi com uma criança, filha de um amigo nosso", afirmou.

Sávio disse que depois dos protestos da população, com ruas fechadas e até a queima de um ônibus há cerca de 15 dias, o turismo em Porto pode ficar prejudicado, com os turistas podendo evitar o local. "O protesto é sempre uma reação feita na base da emoção, é normal, mas a população precisa ter uma reposta rápida. No caso dessa criança é preciso ter o resultado da perícia logo, para saber o que aconteceu, e até agora não saiu nada", falou o jangadeiro.

PREFEITURA

A prefeitura de Ipojuca divulgou no início da noite desta quinta (31) uma nota onde comunica que "oficiou o Governo do Estado cobrando providências para que a ordem pública e a segurança dos cidadãos e dos turistas, desestabilizadas pelo fato, sejam restabelecidas". A prefeitura informou ainda que a secretaria de defesa social do município está "monitorando os pontos de tensão". Já a secretaria de turismo de Ipojuca está oferecendo um canal de informações para o turista através do aplicativo 153 Digital. 


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