Pouca gente percebe, mas o Recife recebe todos os dias uma população equivalente a toda sua população, que se desloca para a capital para trabalhar ou em busca de uma oportunidade.
São mais de 1,5 milhão que pegam metrô, metrô e ônibus, ônibus intermunicipal, além de bicicleta e demais serviços de transporte. É muita gasolina e óleo diesel.
Mas exatamente pelo perfil da capital, uma das menores do país, esse movimento revela um grande problema para as gestões municipais. Sem terreno para construir habitações populares, o Recife acaba estimulando a criação de favelas e palafitas.
A questão dos preços do terreno fez com que a Prefeitura do Recife tivesse uma das mais baixas performances entre capitais na construção de habitacionais.
O Recife tem uma situação curiosa. A legislação municipal é tão rígida que prevê um vaga de garagem dos conjuntos habitacionais destinados a quem mora em favela ou palafita. Isso naturalmente demanda maior área física do terreno e reduz as oportunidades, fazendo os preços do terreno serem inviáveis para os projetos de habitação popular.
As administrações também não foram capazes de buscar novas soluções construtivas. Por exemplo, não existe projeto para conjuntos com edifícios de até 10 andares, que poderiam abrigar mais famílias.
O discurso dos prefeitos e técnicos de habitação é que, por exigirem elevadores, os condôminos correriam o risco de ficar sem acesso quando eles quebrassem.
O Recife construiu pouco, e sua legislação severa também impediu que as pessoas construíssem legalmente. Mesmo nas ZEIS, a legislação é rigorosa. Até mesmo para fazer escola municipal.
Isso acaba levando ao pior dos mundos: edifícios de alto luxo vizinhos a favelas. Ou palafitas que se limitam com edifícios na beira rio.
A prefeitura também não foi capaz de gerar sistemas construtivos mais rápidos e de baixo custo. Na verdade, todos os conjuntos habitacionais até a administração foram feitos pelo modelo de alvenaria estrutural.
Apenas nos habitacionais que foram licitados na saída do ex-prefeito e para a conclusão dos antigos projetos trabalham com a tecnologia de formas. Esse modelo reduz a custo e é o único que pode suportar projetos com terrenos tão caros como os do Recife. Outras cidades avançaram nesse campo e construíram muito mais.
Apesar do discurso de que encontraria uma administração equilibrada, João Campos, ao receber o Recife, viu que não era bem assim.
O seu correligionário Geraldo Julio não deixou muito dinheiro e muitos projetos. No setor de habitação João Campos teve que se apoiar num programa do Governo Federal de regularização de favelas e ZEIS, já que não tem verba para construir sozinho as habitações que precisa, não tem mais verba federal para os habitacionais populares e não pode tomar dinheiro emprestado porque está proibido pela Secretaria do Tesouro Nacional de contrair empréstimos.
Ou seja, na área de habitação, o horizonte de João Campos é entregar escritura de quem construir sozinho em favelas e ver o número de palafitas crescer, como está acontecendo desde que ele tomou posse.