Nas últimas semanas, o Porto de Suape observou uma discreta redução na confirmação de navios nas rotas da Ásia que chegam dos serviços da Europa. Não é um fato isolado. Está acontecendo nos demais terminais do Brasil e nos Estados Unidos.
Curiosamente, o motivo tem a ver com a covid-19. Mais precisamente com o que acontece na província de Xangai, cujo porto foi responsável por 17% do tráfego de contêineres e 27% das exportações da China. No ano passado movimentou 34 milhões de TEUS dos 200 milhões de contêineres que a China movimentou.
A maior cidade do mundo está em lockdown há exatamente quatro semanas e as consequências dessa parada total em função da política de covid-zero determinada pelo governo chega ao maior porto da China de forma indireta. Ou melhor, não chega.
O governo de Xangainão fechou seu porto. Também permitiu que as fábricas funcionassem. Desde que os empregados passem a morar nas indústrias. Mas depois de quase um mês a produção total não sai para o Porto. E nem tudo que chega pelo porto sai do terminal.
O resultado é que as companhias de navegação estão “pulando” Xangaie indo para a próxima parada, as vezes na própria China. O porto, portanto, está funcionando com 50% de sua capacidade e consequência disso pode ser vista nas imagens de satélites que acompanham os navios.
Isso quer dizer que está se armando uma bomba de efeito retardado no mercado de contêineres que deve explodir em junho e julho nos demais mercado do planeta. Parte da carga não sai de Xangaie a outra parte não chega na China continental.
Se o efeito Xangaicontinuar e as autoridades não liberarem a volta das atividades o mercado global de carga vai travar. Não será como durante a pandemia quando a roda da economia parou e milhões de cofres de cargas ficaram espalhados.
No final de 2021 a roda voltou a girar e o preço da locação de contêineres baixou drasticamente. Mas com o lockdown eles voltaram a subir. E como não há boas noticias da epidemia do coronavírus nas cidades de Xangaie Biejing o temor já se espalhou pelas gigantes do mercado de transporte marítimo.
As razoes para o medo de um lockdown chinês no setor de transporte tem ver com o próprio lockdown nas duas províncias, mas com as próximas eleições presidenciais.
É isso mesmo. A China também vai escolher um novo presidente em 2022 e parece claro que o líder Xi Jinping será reconduzido ao cargo para seu terceiro mandato.
Diferentemente do Brasil o líder chinês não enfrenta oposição declarada, mas ele não deseja que sua política de covid-zero seja desmoralizada.
A China de Xi Jimping tem coisas curiosas. As industrias combinaram com o governo para não deixar seus operários saírem dos sítios das fábricas.
Também ampliaram os serviços home-oficce e passaram a controlar as entregas. Uma das consequências é para com as compras de perecíveis nos países próximos a despeito dos protestos de cidadãos chineses com dinheiro e sem ter e poder comprar comida.
Tem mais: Xi Jimping não contava com duas crises ameaçando derrubar o “status quo”, uma em casa, com o maior surto de Covid-19 da China em dois anos, e a outra no exterior, enquanto a Rússia embarca, na Ucrânia, em uma invasão brutal e amplamente condenada.
Embora o caminho de Xi Jimping para um terceiro mandato não seja ameaçado por essas crises ele sabe que o 20º Congresso do Partido no segundo semestre vai cobrar efetividade deles.
Felizmente a demanda de 2022 não é a de 2021 que explodiu com a volta das atividades. Mas o que está acontecendo no Mar da China Oriental, na Baía de Hangzhou e nos rios Yangtzé e Huangpu que são usados para o aportamento dos navios assusta.
Depois de quatro semanas um imenso congestionamento se formou no local, criando uma verdadeira bolha no maior porto do mundo.
A situação fica a cada dia mais crítica e talvez demore meses para ser solucionada, ou seja, certamente muitas mercadorias demorarão em chegar a todas as partes do mundo colocando mais uma vez a cadeia de suprimentos global em xeque justamente quando os analistas estavam confiantes em uma recuperação após a pandemia.
E esse caos no transporte de mercadorias é um dos grandes responsáveis pelos preços subindo na maioria dos países – começando pelos Estados Unidos chegando naturalmente no Brasil que vai sofrer com a falta de demanda.
Por isso, não vai ser apenas a questão dos chips para automóveis que vai travar a indústria. Os navios não estão saindo de Xangaie isso vai bater em Suape. Aliás, já está batendo.