Bombeiro civil, ficou mutilado depois de cair num dos inúmeros buracos da BR-101. Agora, pede indenização na Justiça. Fotos: Léo Motta
A degradação do contorno urbano da BR-101 na Região Metropolitana do Recife volta a ser alvo de polêmica. E, dessa vez, de uma polêmica judicial. Está servindo de base para uma ação de indenização por danos morais, físicos e materiais do bombeiro civil Ítalo Abner, 32 anos, que perdeu a perna esquerda depois que a moto em que trafegava caiu num dos inúmeros buracos da rodovia. Na ação, fundamentada pela Associação Brasileira de Defesa dos Usuários de Veículos (Abuv), a vítima responsabiliza a União, via Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), e a empresa de ônibus Pedrosa, pelo acidente. Pede R$ 174 mil de indenização e uma pensão vitalícia de um salário mínimo.
Desde o acidente minha vida parou. Não consigo mais trabalhar e não tenho direito à pensão ou aposentadoria. É muito difícil ver seus filhos precisando das coisas e não ter como atender. Vivo da ajuda dos outros. E o culpado por tudo isso foram os buracos da rodovia. Se eles não estivessem ali, perigosos, encobertos pela chuva, o acidente não teria acontecido. Por isso decidi entrar com a ação na Justiça. Ela é minha esperança",
Ítalo Abner
O governo federal é acusado de ter dado causa ao acidente por deixar a rodovia quase sem condições de trafegabilidade, ou seja, totalmente esburacada. É o principal réu na ação. Já a Pedrosa responde porque o motorista não teria assumido uma direção segura, mantendo, por exemplo, uma distância regulamentar da moto para evitar o choque após a queda do veículo. A ação corre na 3ª Vara da Justiça Federal em Pernambuco, que já intimou os acusados a se posicionarem sobre o acidente.
Era início da noite do dia 23 de junho de 2017, chovia e o trecho de 30,7 quilômetros do contorno estava esburacado em praticamente toda sua extensão – de Abreu e Lima a Jaboatão dos Guararapes. Ítalo Abner estava na garupa de uma motocicleta Honda Bros, placa OYR-6457, dirigida pelo irmão mais novo, trafegando no sentido Jaboatão-Paulista. Desde Jaboatão já sofriam com os buracos da rodovia – que à época predominavam nas imediações da Muribeca. “Passamos pelo pior trecho e seguimos na direção de Paulista, onde moramos. Eu olhava o tempo todo para trás porque um ônibus estava atrás de nós. Na altura da Guabiraba, na Zona Norte do Recife, fomos surpreendidos por um enorme buraco e caímos. O motorista do coletivo não conseguiu frear a tempo e ainda tentou nos ultrapassar. Mas não conseguiu, nos atropelando. Fui parar embaixo do coletivo”, relembra o bombeiro civil.
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Contorno urbano, o trecho mais perigoso da BR-101 em Pernambuco
Ítalo Abner teve a perna esquerda esmagada até a altura da coxa e ainda quebrou o braço direito. Passou por oito cirurgias até conseguir voltar para casa, a esposa e os três filhos. O irmão, por sorte, teve apenas ferimentos leves. “Mas desde então minha vida parou. Não consigo mais trabalhar e não tenho direito à pensão ou aposentadoria. É muito difícil ver seus filhos precisando das coisas e não ter como atender. Vivo da ajuda dos outros. E o culpado por tudo isso foram os buracos da rodovia. Se eles não estivessem ali, perigosos, encobertos pela chuva, o acidente não teria acontecido. Por isso decidi entrar com a ação na Justiça. Ela é minha esperança”, diz Ítalo.
Segundo o diretor jurídico da Abuv, Wilson Feitosa, a entidade já ganhou pelo menos outras dez ações de indenização semelhantes. A mais recente foi no ano passado, quando uma mãe perdeu o controle do veículo na BR-232 por falta de sinalização na via, e o acidente provocou a morte do filho, um jovem de 18 anos. Conseguiu ganhar R$ 300 mil de indenização. “O Dnit é completamente responsável por manter a qualidade do pavimento da BR-101, já que trata-se de uma rodovia federal. Se os buracos não estivessem na via, encobertos, Ítalo e o irmão não teriam caído da moto. Ele quase perdeu a vida e agora está impossibilitado de garantir o próprio sustento. Por isso estamos pedindo uma pensão vitalícia”, explica o advogado. A expectativa é de que a pensão possa sair se a Justiça Federal atender ao pedido de liminar. Mas a ação de indenização deve demorar de dois a cinco anos.
Por nota, o Dnit informou que só irá se pronunciar judicialmente. Já a Empresa Pedrosa disse, também por nota, que aguarda a citação formal da Justiça para se posicionar sobre o caso.
Quem quiser ajudar Ítalo Abner, o contato dele é: (81) 9.8505.6073