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Metrô do Recife: greve pode ser decretada hoje. Veja as reivindicações dos metroviários

Categoria decide sobre paralisação nesta quinta, às 18h, após indicativo de transferência para a gestão privada. Movimento é a principal arma para enfraquecer proposta de concessão

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Roberta Soares

Publicado em 26/05/2022 às 7:00 | Atualizado em 27/05/2022 às 11:35
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Os funcionários do Metrô do Recife voltam a decidir nesta quinta-feira (26/5) se vão ou não paralisar a operação do sistema por tempo indeterminado. O ponto crucial para a decisão - segundo o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SindMetro) - é o posicionamento do governo de Pernambuco sobre uma futura transferência da gestão e operação do sistema metropolitano para a iniciativa privada.

O Estado é personagem essencial no caso de o Metrô do Recife passar a ser uma concessão pública, estratégia estudada pelo governo federal desde o fim de 2019 para todos os sistemas da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e da Trensurb (de Porto Alegre). Por lei, a estadualização do sistema precede a transferência para operadores privados. Ou seja, a gestão precisa sair das mãos do governo federal para o de Pernambuco para, depois, virar uma concessão pública.

Metroviários afirmam que Paulo Câmara desistiu de conceder Metrô do Recife à iniciativa privada

“A assembleia é soberana e irá votar o indicativo de greve. Vale lembrar que já aprovamos o estado de greve. Mas dependemos da postura do governador Paulo Câmara. Queremos que o Estado se comprometa a não levar a proposta de concessão pública adiante. Assim não haverá uma paralisação do metrô”, afirmou o presidente do SindMetro, Luiz Soares.

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Os metroviários estão lutando duas lutas. A primeira é enfraquecer a proposta de concessão pública. E a segunda é garantir a retomada de envio de verbas para o Metrô do Recife - GUGA MATOS/JC IMAGEM

DUAS LUTAS

Os metroviários estão lutando duas lutas. A primeira é enfraquecer a proposta de concessão pública, que desde o fim de 2019 vem sendo discutida e elaborada pela base técnica do governo federal (Ministério da Economia via BNDES) e do estadual (Secretaria de Planejamento).

E a segunda é garantir a retomada de envio de verbas para o Metrô do Recife, algo urgente e o grande problema do sistema metropolitano. Por isso, o estado de greve deverá seguir.
“O metrô não tem verba de manutenção, sobrevivendo com 30% dos recursos necessários só para a operação. Também não recebe verba para investimentos desde 2013. E ainda está perdendo passageiros por causa do aumento absurdo da tarifa, hoje de R$ 4,25”, denuncia Luiz Soares.

O sistema está transportando entre 170 mil e 200 mil passageiros por dia atualmente. Antes, eram quase 400 mil/dia. As últimas aquisições do Metrô do Recife, em 2013, foram cinco máquinas especiais (que dão suporte à manutenção) e 15 trens. De lá para cá, mais nada e ainda um corte de 70% do orçamento anual de custeio (despesas básicas de operação). Os metroviários defendem uma tarifa social de R$ 2.

Thiago Lucas
Metrô do Recife - Thiago Lucas

FÓRUM PELO METRÔ

Também nesta quinta, pela manhã, será lançado o Fórum Permanente de Discussão pela Mobilidade, um coletivo de várias entidades criado com o propósito de fortalecer a segunda luta: pressionar por verbas de manutenção e de investimento para o metrô, além de sua expansão, assunto que virou quase um tabu pelo menos nos últimos dez anos.

O Fórum será lançado às 10h, no auditório da sede da CBTU Recife, em Areias (próximo à Estação Werneck). O movimento é resultado de reuniões entre o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE) e o SindMetro, com a participação de entidades de classe.

A ideia é trazer o metrô de volta ao debate da mobilidade. “A questão da mobilidade passa por um bom metrô. Um metrô público, eficiente que possa propiciar uma boa condução para a sociedade. Hoje a gente só ouve falar do metrô quando ele quebra. A gente conhece esse filme que é sucatear um serviço para depois querer justificar sua privatização”, atesta Mozart Bandeira, presidente do Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco (Senge-PE).

"Nossa posição tem que ser política. Como a gente vai envolver agora os nossos deputados, senadores, vereadores? Porque o metrô chega em Camaragibe, chega em Jaboatão. É momento de unir todo o mundo, de buscar maximizar esse esforço em prol de uma causa maior, com um objetivo muito maior”, defende o presidente do Crea-PE, Adriano Lucena.

Além do Crea-PE, do Senge-PE e do SindMetro, participam do Fórum a Comissão Sindical da OAB-PE, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU-PE), o Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco, a Federação Regional dos Urbanitários do Nordeste, o Clube de Engenharia e a União dos Estudantes.

A PROPOSTA DE CONCESSÃO

Pelo que já foi acordado, o governo de Pernambuco será o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, um pacote que representará o montante de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. E, desse total, R$ 3,8 bilhões serão aportes financeiros públicos.

Segundo a Secretaria de Planejamento de Pernambuco, esse valor é necessário para reerguer o metrô e trazê-lo de volta aos padrões do passado, quando tinha intervalos de cinco a seis minutos nos horários de pico - hoje o metrô chega a intervalos de 17 minutos e 13 minutos nos ramais das linhas Centro e Sul, respectivamente.

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O sistema está transportando entre 170 mil e 200 mil passageiros por dia atualmente. Antes, eram quase 400 mil/dia - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Dos R$ 3,8 bilhões, R$ 3,1 bilhões serão mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E mais: dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União, R$ 1,4 bilhão serão recursos que ficarão guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.

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