Os dois lados da VLTzação dos BRTs proposta pelo Rio de Janeiro. O Brasil vai copiar?
O primeiro aspecto que deve ser analisado sobre a chamada "VLTzação do BRT" é a discussão se a mudança de modal é correta a partir da demanda de passageiros atual e futura
A notícia de que a Prefeitura do Rio de Janeiro decidiu transformar o sistema BRT - com o qual a cidade foi vitrine nacional e até mundial no Brasil pensado para a Copa do Mundo de 2014 - em um sistema de Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) merece ser analisada e discutida sob diversos aspectos. E por várias razões.
O primeiro aspecto que deve ser analisado sobre a chamada “VLTzação do BRT” é a discussão se a mudança de modal é correta a partir da demanda de passageiros atual e futura. Caso contrário, o Rio de Janeiro fará o que já fez na preparação para 2014: desperdiçar o dinheiro público não só do carioca, mas de todos os brasileiros, já que bem mais da metade dos investimentos nos quatro corredores de BRT da cidade - três em operação e um com as obras recentemente retomadas - foram federais, via os PACs (Programas de Aceleração do Crescimento) da época.
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Atualmente, o Transoeste e o Transcarioca transportam 400 mil passageiros/dia e é com essa demanda que a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), responsável pelo projeto da “VLTzação”, está trabalhando. Estudos ainda estão sendo feitos, mas a ideia é adaptar essa demanda aos trilhos, calculando os VLTs necessários para atendê-la. A modelagem de contrato também não foi definida, mas com certeza serão concessões públicas e, provavelmente, Parcerias Público Privadas (PPPs).
Para quem não sabe, o BRT Rio sofreu um processo de degradação tão grande ou talvez até maior do que o da Região Metropolitana do Recife antes e durante a pandemia de covid-19, que está sob intervenção da gestão municipal. Uma empresa pública, a Mobi-Rio, assumiu não só a gestão, mas também a operação dos BRTs.
DESPERDÍCIO DE DINHEIRO PÚBLICO?
O segundo aspecto, que tem relação direta com o primeiro, é a questão do desperdício de dinheiro público, já citado anteriormente na reportagem. Embora o prefeito Eduardo Paes e a CCPar argumentem que a conversão do BRT carioca em VLT seja uma decisão de futuro, na busca de uma cidade mais sustentável, focada no transporte urbano coletivo menos poluente, mais eficiente e rápido, a adequação e os novos contratos exigirão mais investimentos.
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Somente com os dois maiores corredores de BRT da cidade e que agora serão “VLTzados” foram gastos R$ 7 bilhões: R$ 4,5 bilhões no Transcarioca e R$ 2,5 bilhões no Transoeste.
A previsão, segundo informações oficiais da Prefeitura do Rio, ditas pelo próprio prefeito Eduardo Paes - que executou os corredores de BRT no passado, vale ressaltar - é que a conversão de BRT para VLT desses mesmos corredores ainda custará R$ 14,8 bilhões.
CONFIRA os detalhes do projeto:
Nesse custo está incluído, além dos dois corredores de BRT, uma nova ligação de VLT na Zona Sul da cidade, ligando os bairros de Botafogo e Gávea, que será via Parceria Público-Privada, com início da implantação prevista para o primeiro semestre de 2023.
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Nessa nova ligação, serão 12 km de trilhos e 13 paradas, além de um Centro Integrado de Operação e Manutenção. Também estão previstas melhorias urbanísticas no entorno do traçado. Esse corredor já está definido que será uma PPP.
Os dois corredores precisam ser adequados para receber o VLT. Mesmo aproveitando a calha do BRT, ajustes terão que ser feitos para, por exemplo, adequar as estações de embarque e desembarque à altura dos trilhos. E tudo isso tem custo.
REPERCUSSÃO
A Coluna Mobilidade tentou ouvir operadores do setor, tanto rodoviários como metroviários, assim como especialistas em transporte, mas não teve sucesso. Infelizmente.
Talvez, porque a proposta tenha sido anunciada muito recentemente, pegando a todos de surpresa e sem permitir uma análise aprofundada que o tema exige.
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Talvez, porque o assunto é espinhoso, polêmico e estamos em ano eleitoral - algo comum no Brasil e, ainda mais, no setor de transporte público coletivo, que costuma silenciar nessas épocas.
Mas algumas pessoas conversaram, sim, com a Coluna Mobilidade e aprovaram a mudança. Rafael Calabria, coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), é um dos que gostou da proposta.
“Não vejo como um desperdício de dinheiro público porque é uma melhoria, então é um investimento. Da via normal para o BRT foi uma melhoria, agora o VLT é ainda melhor. Os impactos positivos que serão gerados são enormes: ambientais, sociais, urbanos”, afirma.
“E eles podem aproveitar as estações como são, não vai ser um gasto do zero.
Qualquer gasto com obra viária, viaduto, avenida em várzea de rio é mais questionável que um transporte sustentável como o VLT”, finaliza.
O engenheiro Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), também aprovou a notícia.
“A notícia de ampliar a malha de VLT na cidade do Rio de Janeiro soou como música para o setor ferroviário brasileiro. Isto prova o acerto de ter sido implantado um VLT elétrico por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016. Que outros governos mirem-se na decisão do prefeito Eduardo Paes e partam, também, para a “VLTzação” do País”, diz.
ENTENDA A PROPOSTA DE “VLTZAÇÃO” DO BRT
Ao anunciar a “VLTzação” do sistema BRT dentro da estrutura viária da cidade, o prefeito Eduardo Paes prometeu que a mudança acontecerá ao longo de 15 anos - prazo para que os veículos dos corredores Transcarioca e Transoeste do BRT sejam substituídos por VLT.
Além disso, já a partir do ano que vem, o município inicia a implantação do sistema VLT ligando o metrô de Botafogo à Gávea. A previsão é de que, com a VLTzação, a cidade totalizará 251 km de trilhos e terá o maior sistema das Américas. Atualmente, são 28 km no Centro e no Porto Maravilha.
Segundo explicou a prefeitura carioca, o projeto de substituição dos modais só é viável porque houve o investimento, anteriormente, da infraestrutura para o sistema BRT. O raciocínio da gestão municipal é de que, como todo o sistema viário já está construído, o município deixará de gastar o que já foi investido.
ENQUANTO ISSO, O BRT PERNAMBUCANO DEFINHA EM PROBLEMAS:
“O plano que apresentamos tem três premissas. A primeira é a de que não se trata de um projeto para o meu tempo de governo. Temos de aprender que investimentos em infraestrutura em uma rede de mobilidade precisam ultrapassar governos. É um planejamento de longo prazo em que vamos buscar financiamento externo”, afirmou o prefeito durante a apresentação.
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“A segunda premissa é que nada do que foi feito na infraestrutura dos BRTs se perde. Ao contrário, o que foi feito facilita a nossa vida para que esse plano seja factível e viável. Isso ajuda a reduzir os custos. Sem essa infraestrutura já realizada esse plano não seria possível”, seguiu afirmando.
“E a terceira é que não vamos parar nenhum dos planos já anunciados para o BRT. Não vamos deixar de comprar ônibus, fazer as reformas. Tudo o que está previsto para o BRT será cumprido no meu tempo de governo. Não vamos esperar 15 anos para ajustar o sistema para que a população pare de sofrer com o abandono que passou o BRT”, finalizou Eduardo Paes.
MAS ALGUMAS MUDANÇAS TÊM MELHORADO O SISTEMA:
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DEFESA DO VLT
Para justificar a mudança de modal, a prefeitura enumerou diversas vantagens do sistema VLT. Pontuou que o VLT qualifica o sistema viário, tem o dobro da capacidade dos articulados e intervalos regulares; é mais seguro; gera mais conforto para o usuário; não produz ruído; é sustentável e também integrado à paisagem urbana.