Trânsito, transportes e mobilidade urbana, com Roberta Soares

Mobilidade

Por Roberta Soares e equipe
COLUNA MOBILIDADE

Mutilados: o álcool ao volante, sempre ele

Carlos Henrique, 33 anos, perdeu toda a perna esquerda aos 22 anos, por culpa de um motorista de carro que estaria alcoolizado. É uma das grandes vítimas do trânsito brasileiro

Cadastrado por

Roberta Soares

Publicado em 24/07/2022 às 8:00 | Atualizado em 25/07/2022 às 12:35
Série de reportagens Mutilados - as verdadeiras vítimas do trânsito discute o drama e o custo social das centenas de inválidos provocados pelo trânsito - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Carlos Henrique, 33 anos, é uma lição de vida. E das grandes. Perdeu toda a perna esquerda aos 22 anos, por culpa de um motorista de carro que estaria alcoolizado. Comenta-se - nada é oficial porque ele nunca quis saber - que esse homem, apesar de ter fugido sem prestar socorro, entrou em depressão e viu sua vida piorar sensivelmente após aquele dia (23/7/2011).

Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta pela Avenida Segunda Perimetral, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, quando o motorista teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço.

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“O motorista estava totalmente alcoolizado, pegou a contramão, invadiu a minha faixa. A impressão que tenho é que ele nem me viu. Era noite. Me pegou de lado. O impacto foi na perna e braço esquerdos. Tive fraturas expostas nos dois. Era um sábado à noite e a prestação de socorro demorou demais”, relembra Carlos Henrique, que não bebia nem bebe.

Selo da série Mutilados - As verdadeiras vítimas do trânsito - ARTES/JC

Foram três horas até chegar ao hospital e ir direto para a sala de cirurgia já com o prognóstico de amputação da perna. E a possibilidade de amputar o braço também. Por pouco não o perdeu, embora siga sem movimento no membro.

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“Cheguei a ficar com parte da coxa, o que chamam de coto (parte do membro que permanece após a cirurgia de amputação), mas depois tive que tirar tudo, a chamada desarticulação de quadril”, relembra. Foram 21 dias na UTI e mais dois meses no hospital.

Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Mutilados pelo trânsito - Personagem - Educador da Lei Seca Carlos Henrique de 33 anos que perdeu a perna esquerda e partes do movimento do braço esquerdo em um acidente de trânsito - Violência no Trânsito - Vítima Acidente - GUGA MATOS/JC IMAGEM

 

Só com a reabilitação imediata, foram outros seis meses. No geral, um ano e dois meses. “Imediata porque viver sem uma perna e o movimento de um dos braços é uma eterna reabilitação”, ensina.

A revolta, entretanto, nunca fez parte da vida de Carlos Henrique. A religião, a fé, o fizeram aguentar e, depois, aceitar. “Nunca me revoltei. Entendi que era para acontecer comigo. Minhas convicções me ajudaram a vencer as dificuldades. Como cristão protestante, sabia que foi algo que Deus permitiu que acontecesse porque havia um propósito”, argumenta.

Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Mutilados pelo trânsito - Personagem - Educador da Lei Seca Carlos Henrique de 33 anos que perdeu a perna esquerda e partes do movimento do braço esquerdo em um acidente de trânsito - Violência no Trânsito - Vítima Acidente - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM

“Tive muito medo de perder meu braço. Muito. Mas não perdi. Também tive muito suporte da minha família: pais, irmãos e minha noiva, que hoje é minha esposa. Amigos também. Isso é o que nos ajuda”, ensina.

Carlos perdeu a mobilidade do cotovelo e não tem força na mão esquerda. Consegue apenas mexer os dedos. E sofre com o uso da prótese, que no caso dele é uma de articulação do quadril, mais complicada.

“Fica na altura do abdômen. Você não pode emagrecer ou engordar. Qualquer mudança impede o uso. Usei a cadeira de rodas por muito tempo e hoje prefiro a muleta, porque me dá mais mobilidade”, conta.

No primeiro dia da série, o olhar é sobre as vítimas. Na sequência, o impacto social e econômico que os mutilados geram para a sociedade - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
Mutilados pelo trânsito - Personagem - Educador da Lei Seca Carlos Henrique de 33 anos que perdeu a perna esquerda e partes do movimento do braço esquerdo em um acidente de trânsito - Violência no Trânsito - Vítima Acidente - GUGA MATOS/JC IMAGEM
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Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM
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Carlos Henrique Maciel da Silva voltava para casa em sua motocicleta, quando um motorista alcoolizado teria invadido a pista contrária e praticamente arrastado o lado esquerdo do jovem, que por pouco não perdeu também o braço - GUGA MATOS/JC IMAGEM

LIÇÃO DE VIDA

Poucos meses depois do sinistro de trânsito, Carlos Henrique foi convidado a ser um dos educadores da Operação Lei Seca em Pernambuco. Passou a integrar a pequena equipe que leva suas experiências traumáticas como vítimas do trânsito para motoristas abordados nas blitzes da Lei Seca.

Também pratica atividades paraolímpicas na UFPE.


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Oportunidades podem ser ofertadas a Carlos Henrique. Contato: (81) 98600.3645 (WhatsApp)

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