Metrô do Recife: sucateamento leva metroviários a votar estado de greve em assembleia

As quebras seguidas, resultado da falta de recursos encaminhados pelo governo federal, motiva uma futura paralisação
Roberta Soares
Publicado em 05/09/2022 às 15:39
Destruição do sistema metropolitano é bancada pelo governo federal, mas acontece diante da inércia do Estado e das prefeituras da RMR Foto: GUGA MATOS/JC IMAGEM


Como se não bastasse o sofrimento dos passageiros do Metrô do Recife - 200 mil pessoas que têm sofrido todos os dias com quebras de trens e intervalos que podem chegar a 30 minutos -, o sistema poderá ter uma paralisação em breve. Exatamente por causa do sucateamento do metrô, os metroviários votam nesta terça-feira (5/9) o início de um estado de greve.

A assembleia extraordinária da categoria acontece a partir das 18h, na Estação Recife, no Centro da capital e local onde sempre acontecem as votações da categoria. A proposta do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SindMetro-PE) é a aprovação de um estado de emergência como forma de pressionar o governo federal a enviar, ao menos, recursos básicos para a operação do sistema pernambucano.

O Sindmetro denuncia que o Metrô do Recife estava operando com aproximadamente 50% do orçamento mínimo que precisa e, este ano, o dinheiro foi reduzido ainda mais, para apenas 30% da quantia necessária apenas para custeio da operação. A assembleia extraordinária é exatamente uma reação ao descaso do governo federal.

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“A estratégia do governo federal é deixar o sistema se acabar para força a privatização, ou seja, passar para a operação da iniciativa privada. Como o governo do Estado, atendendo ao nosso pedido, suspendeu os estudos que estavam sendo feitos nesse sentido, a União está apostando no sucateamento total”, critica o presidente do SindMetro, Luiz Soares.

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Na verdade, o projeto prevê a concessão pública do metrô e, não, a privatização porque o sistema não seria vendido, mas concedido a um operador privado por aproximadamente 30 anos.

SITUAÇÃO CRÍTICA

A ausência de recursos até mesmo para o custeio da operação está matando o Metrô do Recife. Sem investimentos, os problemas ficam ainda piores. O passageiro está sendo punido demasiadamente com um serviço cada dia mais demorado e menos confortável, operado com a menor quantidade de trens da história do sistema, que desde 1985 atende ao Grande Recife.

“O sistema deveria operar com, no mínimo, de 18 a 20 trens, mas está funcionando com 14 composições. Há dias em que é até menos. E isso para as duas linhas: Centro e Sul. É um absurdo”, critica Luiz Soares.

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A Linha Centro, a de maior demanda, está operando como uma média de 8 trens. No horário do pico da manhã, com muito, muito esforço, os profissionais da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) conseguem disponibilizar 9 composições. Até por volta das 7h.

Na Linha Sul - criada com a proposta de ter um padrão mais elevado de serviço e, assim, conseguir atrair os moradores da Zona Sul do Recife e de Jaboatão dos Guararapes -, o número é ainda menor: 6 operam. A Linha Diesel, onde opera o VLT até o Cabo de Santo Agostinho, são apenas dois equipamentos. E o ramal Curado/Cajueiro Seco só está funcionando até a estação Marcos Freire.

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Ou seja, a situação não podia estar pior. Nos anos em que a Linha Centro operava com 14/15 trens já havia problemas, imagine agora, com a oferta atual? E os dados são oficiais. A CBTU, quando questionada, alega que os intervalos no pico estão de 10 a 12 minutos no chamado “tronco do metrô” - ou seja, as estações ao longo do percurso, o que já é muito quando se fala de um sistema metroviário.
Quando vamos para os ramais, esse intervalo sobe para 20 minutos. A população diz que é muito mais.

Chega a 30 minutos diariamente, tanto na Linha Centro como na Sul. O resultado são trens cada vez mais e mais lotados, usados por passageiros que pagam uma tarifa cara - R$ 4,25 no metrô e pelo menos R$ 4,10 se entrar pela integração com os ônibus.

ESTADUALIZAÇÃO ENGAVETADA

Sem recursos para nada, o Metrô do Recife também segue sem perspectivas, o que é o mais angustiante. Não recebe recursos do governo federal, via Administração Central da CBTU e Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), e ainda viu o estudo de uma possível estadualização e futura gestão privada ser engavetado pessoalmente pelo governador Paulo Câmara (PSB).
Em maio, o governador se comprometeu com os metroviários de que não iria avançar com o processo de estadualização e, posteriormente, concessão do Metrô do Recife à operação privada.

Assumiu o compromisso depois que técnicos da Secretaria de Planejamento de Pernambuco - com o seu aval - modelaram uma proposta de Parceria Público Privada (PPP) em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a pedido do governo federal. O Ministério da Economia decidiu conceder os sistemas operados pela CBTU no Brasil, além da Trensurb de Porto Alegre para gestão privada. E, apesar da recusa do Estado, os estudos seguem.

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O SindMetro pressionou e ameaçou paralisar o metrô, conseguindo travar o processo pelo menos na gestão de Paulo Câmara. De lá para cá, nada aconteceu e o metrô seguiu em destruição, sem dinheiro para custeio, muito menos para investimentos, com muitas quebras, intervalos superiores a sistemas de trens de subúrbio e, ainda, sem perspectiva. Nenhuma perspectiva.
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