Foram quase dois anos sem operação alguma e uma degradação tão grande que doía na alma - quem viu ou quem utilizava o sistema vai entender o que digo. O Corredor de BRT Norte-Sul, o maior e mais complicado do sistema pernambucano porque corta cinco municípios metropolitanos, começou a ressurgir das cinzas. A definição, mesmo sendo clichê, define bem o momento.
Catorze das 26 estações do BRT Norte-Sul foram reabertas, processo que começou lentamente no início de 2022 e ganhou um ritmo maior nos últimos dois meses. O contrato de concessão pública para gestão de 26 Terminais Integrados e 44 estações de BRT da Região Metropolitana do Recife - firmado com a empresa Nova Mobi Pernambuco no valor de R$ 113 milhões e por 35 anos - tem sido decisivo no processo de ressurgimento do corredor.
Já estão reabertas as seguintes estações: Tacaruna, Santa Casa de Misericórdia, Araripina, IEP, Treze de Maio, Riachuelo, Nossa Senhora do Carmo, Maurício de Nassau, Istmo do Recife e Forte do Brum (no eixo do Recife); Bultrins e Jupirá (em Olinda), São Salvador do Mundo e Hospital Central (em Paulista).
A previsão da Nova Mobi Pernambuco é de que 19 das 26 estações estejam em operação até o fim deste ano. As outras sete dependem da reconstrução realizada pelo Estado, entre elas a execução de duas estações: North Way e Centro de Convenções.
Nenhuma das estações do Norte-Sul, no entanto, está refrigerada. A reinstalação dos equipamentos de ar-condicionado, roubados e depredados durante a pandemia de covid-19, está sendo executada pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), mas ainda sem prazo para chegar àqueles equipamentos.
Entre os passageiros, a desconfiança com a retomada ainda é grande, reação compreensível diante de tanta destruição e suspensão do serviço. “De fato, está melhorando com a volta das estações. Mas ainda falta muito. As estações seguem um forno. E, o que é mais importante, precisamos ter a certeza de que haverá continuidade, que não irão deixar destruir tudo de novo”, afirma o servidor público José Maria Carvalho, que todos os dias usa o sistema.
O BRT Norte-Sul, que tem 33 km e liga o Recife a Igarassu, na Zona Norte da RMR, é quase como uma Fênix. O sistema chegou ao fundo do poço. Foi o mais vandalizado e abandonado dos dois BRTs do Grande Recife, batizados dez anos atrás de Via Livre, ainda como um dos sonhos do Brasil da Copa do Mundo de 2014.
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Teve as 26 estações completamente destruídas. Verdadeiramente canibalizadas. Começou antes da pandemia, com a retirada da segurança patrimonial noturna pelo governo de Pernambuco, e se agravou na pandemia. Quase todos os equipamentos que existiam nas estações foram roubados ou quebrados.
O sistema deixou de operar como BRT. Os imponentes veículos do sistema - que hoje custam mais de R$ 2 mil - foram parcialmente desativados e os que não foram passaram a operar como ônibus comuns, com embarque e desembarque pelo lado direito e não mais em nível.
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O Corredor Leste-Oeste, com 16 km ligando o Centro do Recife a Camaragibe, na Zona Oeste da RMR, sofreu com o vandalismo, mas muito menos do que o Norte-Sul. Teve a operação apenas parcialmente suspensa.
A expectativa é grande para a retomada da operação e, consequentemente, para o resgate do sistema junto aos passageiros. O conjunto de ações e obras que estão previstas para o Corredor Norte-Sul é a base para esse pensamento positivo.
Além da nova gestão privada das estações pela Nova Mobi Pernambuco, o projeto de reurbanização da PE-15 e de recuperação do corredor de ônibus da BR-101 (entre Abreu e Lima e Igarassu) é uma grande aposta, já que as duas vias compõem o eixo viário do Norte-Sul.
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“A expectativa é de que volte e o que queremos é que volte com qualidade. Que volte com um pavimento compatível com o equipamento que usamos, que são os veículos BRTs. O custo com a manutenção é grande. Mas, de fato, já percebemos melhorias e, por isso, a expectativa é positiva”, afirma Diego Benevides, diretor de Operações do Consórcio Conorte, que opera o BRT Norte-Sul.
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“A recuperação das estações também é outro ponto fundamental. A construção da Estação North Way, ao lado do shopping, em Paulista, é muito importante para atrair demanda de passageiros no corredor, já que aquela área está se tornando centro comercial da região”, afirma.