Depois da Uber e 99, mais uma plataforma de transporte de passageiros por aplicativo se rende à operação com motocicletas. Praticamente dois anos depois de o serviço Uber e 99 Moto começar no País - efeito da crise econômica pós pandemia de covid-19 -, é a inDrive que entra nesse novo nicho que tem explodido no Brasil, principalmente nas regiões mais pobres, como o Norte e o Nordeste brasileiros.
O serviço, faz questão de destacar a inDrive, está em teste e, pelo menos por enquanto, não é tido como oficial, sendo liberado sob controle e monitorado frequentemente. São dez cidades que estão testando o serviço. A plataforma não diz quais são todas as cidades, revelando apenas algumas - todas do Norte e Nordeste.
Recife, a capital pernambucana está entre elas. Outras reveladas são Manaus (Amazonas), Belém (Pará), Porto Velho (Rondônia) e Boa Vista (Roraima). O serviço inDrive Moto funciona na mesma concepção do transporte por carros, com a negociação do preço da tarifa entre passageiros e motoristas parceiros.
“Estamos entrando devagar e com cuidado. Começamos os testes ainda no início do ano e vamos seguir assim, observando as demandas dos usuários, dos parceiros e a legislação de cada cidade. Por enquanto, já vemos uma oferta equiparada a de carros”, afirma Carlos Shigueo, gerente de Relações Governamentais da inDrive.
A escolha das cidades, segundo a inDrive, teve como critério a aceitação da motocicleta como transporte de passageiros. “Fomos em busca de regiões que aceitassem a moto culturalmente e economicamente. A partir da demanda da população. E essas regiões foram o Norte e o Nordeste”, afirmou.
Confira a série de reportagens UBER MOTO: perigo sobre duas rodas
“Em São Paulo, por exemplo, não entramos porque o transporte de passageiros por motocicletas não é aceito nem pela população nem pelo poder público”, destaca Carlos Shigueo. Na capital paulista - vale ressaltar -, a prefeitura proibiu a entrada do Uber Moto e da 99 Moto no início de 2023, quando as plataformas anunciaram o início da operação nas capitais. A cidade do Rio de Janeiro também, chegando a criar o serviço com motocicletas gerido pelo próprio poder público.
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Sobre a legislação, a inDrive afirma que está atenta às regras legais impostas por cada cidade onde está testando o serviço. Mas, assim como a Uber e a 99, faz uso da Lei Federal 13.640 (conhecida como a Lei dos Aplicativos) para destacar que não existe uma restrição ao serviço prestado por motos.
Sobre segurança, a plataforma também vai na mesma linha da Uber e 99, afirmando que segue os mesmos critérios exigidos para os carros e que recomenda o uso correto dos EPIs (equipamentos de proteção individual), como o capacete para pilotos e passageiros.
No fim de maio, o JC publicou na Coluna Mobilidade a série de reportagens Uber Moto: perigo sobre duas rodas. O material discutiu a explosão do serviço de transporte remunerado de passageiros com motos e suas consequências para a mobilidade urbana e a saúde pública brasileiras.
A série mostrou que, sob a ótica da mobilidade urbana, o crescimento do Uber e 99 Moto (e agora inDrive Moto) é uma bomba que vai explodir em breve - em meses, talvez até anos - e que vai ser paga pela sociedade brasileira. Seja com o aumento dos custos da saúde pública para atender as vítimas dos sinistros de trânsito ou com o incremento de aposentadorias por invalidez permanente, por exemplo.
Isso porque o entendimento de quem vivencia e estuda as sequelas do trânsito brasileiro é unânime em defender que a motocicleta não é o tipo de veículo indicado para o transporte remunerado de passageiros, exatamente pela fragilidade que lhe é peculiar e que exige preparação e cuidados específicos para conduzi-la.