O entendimento da Polícia Civil do Rio de Janeiro de que o motorista de aplicativo que atropelou o ator Kayky Brito, 34 anos, na madrugada do dia 2 de setembro, na orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, não teve culpa no atropelamento e, por isso, não responderá por crime nenhum - mesmo culposo (sem intenção) - é mais um alerta para a urgente discussão que precisa avançar sobre a velocidade de nossas ruas e avenidas.
A investigação confirmou a versão apresentada desde o atropelamento pelo motorista, confirmada pelas testemunhas e evidências: o condutor dirigia dentro da velocidade limite da via e respeitando as regras de trânsito ao ser habilitado, não estar sob efeito de álcool e, principalmente, ter prestado socorro à vítima - ato que fez a diferença no episódio.
E mais: o motorista estava, inclusive, bem abaixo da velocidade limite imposta para a via, de 70 km/h. Segundo a investigação da 16ª DP, Diones Coelho da Silva trafegava a 48 km/h. Por isso, o delegado pediu arquivamento do caso.
Mesmo assim, mesmo sem dolo (intenção), Kayky Brito foi atropelado por um carro autorizado a trafegar em até 70 km/h e luta pela vida há quase 30 dias. O ator sofreu politrauma corporal, traumatismo craniano e se encontra internado no Hospital Barra D'Or. No último dia 22, teve alta da UTI.
Essa é a discussão que já precisava ser feita desde o atropelamento e, agora, com a comprovada inocência do motorista, ainda mais. Como reconheceu o próprio prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes: uma avenida à beira mar, um lugar de lazer, onde as pessoas circulam, não pode ter a velocidade máxima de 70 km/h. Se um carro, a 48 km/h, fez o estrago que fez em Kayky Brito, imagine a 70 km/h?
O PEDESTRE, MESMO CULPADO, SEMPRE SERÁ A VÍTIMA. A SOCIEDADE PRECISA ENTENDER ISSO
O limite de 70 km/h da Avenida Avenida Lúcio Costa, a beira-mar da Barra da Tijuca, é um exemplo do cuidado que ainda predomina com o tráfego de veículos. Não restam dúvidas de que o ator Kayky Brito foi imprudente na travessia - fato que as circunstâncias do atropelamento já comprovaram -, mas ele sempre será a vítima. Porque nos sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) o mais fraco é sempre a vítima.
E no trânsito, o mais frágil é o pedestre e todos que compõem o sistema de trânsito devem protegê-lo. Até mesmo os ciclistas. A proteção vem do maior para o menor, numa lógica que força todos os veículos a protegerem a mobilidade ativa - ou seja, o ciclista e o pedestre.
Sempre, em qualquer situação.
CONFIRA O RESULTADO DA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ATROPELAMENTO DE KAYKY BRITO
A Polícia Civil carioca concluiu que o motorista de aplicativo dirigia abaixo da velocidade permitida no trecho do Posto 6 da Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, no momento do acidente.
CÂMERA INTERNA DE CARRO MOSTRA OUTRO NGULO DO ATROPELAMENTO DE KAYKY BRITO
Segundo o relatório do inquérito, a recomendação é o arquivamento do caso. “Não pode ser imputado com qualquer fato criminoso ao motorista, uma vez que dirigia em velocidade abaixo do limite da via, sem apresentar alteração na capacidade psicomotora pelo consumo de álcool (embriaguez) ou qualquer substância de efeito análogo e com a atenção devida na direção de veículo automotor, uma vez que ainda realizou ações para evitar a colisão, apesar da escassez temporal para reação e frenagem".
ATROPELAMENTO KAYKY BRITO: de quem é a culpa pelo atropelamento de Kayky Brito?
Não é mais acidente de trânsito. Agora, a definição é outra nas ruas, avenidas e estradas do Brasil
Logo após o atropelamento, Diones realizou exame no Instituto Médico-Legal (IML) para verificar se havia ingerido bebida alcoólica e o resultado foi negativo. A passageira do veículo, Maria Estela Lima, confirmou que o motorista não estava em alta velocidade e que prestou socorro à vítima. A mulher viajava com a filha.
ATROPELAMENTOS ESTÃO CRESCENDO NO PAÍS
Os atropelamentos de pedestres têm aumentado no Brasil e essa constatação reforça a fragilidade da situação. Levantamento da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) revelou uma preocupante alta de 13% no número de pedestres traumatizados em sinistros de trânsito em 12 estados no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022.
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Dos 12 estados em que houve aumento, Goiás apresentou o maior crescimento em números absolutos, com um adicional de 1.124 internações no último semestre. Seguido de São Paulo, com um aumento de 623 internações, e Minas Gerais com um acréscimo de 257 internações.
Polícia Civil pede ARQUIVAMENTO do caso
ENTENDA O IMPACTO DA VELOCIDADE EM UM ATROPELAMENTO
A velocidade desenvolvida pelos veículos faz toda a diferença no momento de um atropelamento. A 30 km/h, há 10% de chance de fatalidade em um atropelamento; a 50 km/h, esse risco ultrapassa 80%. Um atropelamento no trânsito a uma velocidade de 60km/h equivale a aproximadamente uma queda do 6º andar. E essa vítima tem 98% de chances de vir a óbito. E a 70 km/h a fatalidade é praticamente certa. Só um milagre.
Para finalizar, é importante considerar que não existem e nunca vão existir faixas de segurança suficientes para todos os pedestres. E o trânsito precisa ser visto como um ecossistema de todos que o compõem. Não apenas dos veículos motorizados.