A explosão de quedas e colisões de motoqueiros e, principalmente, de passageiros dos aplicativos de transporte com motos, como Uber e 99 Moto, tem gerado um aumento de cirurgias do rosto, alertam médicos especialistas da área. Os ferimentos em motocicletas, inclusive, representam a principal causa das cirurgias bucomaxilofaciais no País, ou seja, que envolvem lesões da cavidade bucal, rosto, maxilar e região da face.
O alerta é feito pelo cirurgião bucomaxilofacial Belmiro Vasconcelos, membro da Câmara Técnica de Cirurgia Bucomaxilofacial do Conselho Regional de Odontologia (CRO-PE). “O uso de motos para transporte e entrega de mercadorias disparou com a pandemia, agravando os números de vítimas desse tipo de veículo. A popularidade dos serviços de transporte por aplicativos também aumentou a exposição dos trabalhadores a riscos de colisões e quedas, muitas vezes com consequências graves. E a recuperação dos feridos em acidentes (sinistros de trânsito) de moto frequentemente requer intervenções complexas, especialmente em casos de traumatismos faciais”, alertou o cirurgião-dentista em entrevista ao JC.
O cirurgião apresenta dados para embasar o alerta. Segundo levantamento do Hospital da Restauração (HR), a maior emergência de Pernambuco e uma das maiores do Nordeste, de março de 2023 a fevereiro de 2024, 394 pacientes foram operados na unidade, sendo em sua maioria homens. Além disso, a principal causa das cirurgias no rosto das vítimas eram as quedas e colisões com motos. Em seguida, as agressões físicas.
Dados recentes da Secretaria Estadual de Saúde (SES) também revelam que motociclistas e passageiros de motos representam quase metade das vítimas de trânsito em Pernambuco. Em 2023, mais de 30 mil sinistros com motos foram registrados, resultando em 693 mortes.
CUSTO ALTO, RECUPERAÇÃO DIFÍCIL E O QUE MAIS IMPORTA: CIRURGIAS QUE PODERIAM SER EVITADAS
O cirurgião bucomaxilofacial alerta, ainda, para outro aspecto perverso da relação entre quedas e colisões com motos e as cirurgias bucomaxilofaciais: que elas são evitáveis. “Esses tipos de cirurgias poderiam ser evitadas. Porque, de fato, não é doença, como um tumor, por exemplo. E os gastos vão além do hospital porque os pacientes ficam o primeiro mês sem trabalhar e muitos também ficam sequelados na fase de trabalho ativo”, afirma.
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Segundo o cirurgião-dentista, normalmente, os pacientes com traumas da face ficam internados de 4 a 5 dias após cirurgia. E quando envolve outras especialidades, esse período pode se estender por até um mês. “Casos graves que envolvem traumas no crânio ou em órgãos como pulmão e coração, podem necessitar de UTI”, explica Belmiro Vasconcelos.
O cirurgião alerta, também, que o trauma facial no sinistro de moto varia se o paciente faz uso ou não do capacete. “Quando não há o uso do capacete, as fraturas são múltiplas e graves. Também é importante verificar a energia do trauma. Uma coisa é cair da moto. Outra coisa é uma colisão moto/automóvel, moto/caminhão, moto/moto, moto/animal de grande porte, árvore ou poste”, ensina.
As consequências dos sinistros com motos para a face são lesões de tecidos moles, fraturas dos ossos da face, danos oculares e respiratórios, perdas de dentes e prejuízo nas mastigação, lesões nervosas, prejuízo estético, laboral e até familiar.