Mortes no trânsito: Brasil tem aumento do número de mortos no trânsito mais uma vez

Dados preliminares do DataSUS apontam que o País poderá ter matado de duas a três mil pessoas a mais em 2023. E já mata mais de 33 mil pessoas

Publicado em 19/09/2024 às 13:33 | Atualizado em 19/09/2024 às 16:08

Mais uma vez e por mais um ano, o Brasil não tem o que comemorar na segurança viária. O trânsito segue matando - e muito - nas estradas ruas e avenidas do País. Dados preliminares da mortalidade em 2023, disponibilizados pelo Ministério da Saúde (a fonte mais segura que atualmente existe), mostram que as mortes no trânsito voltaram a subir e devem ter índices de aumento de até 8%.

A análise preliminar das mortes no trânsito em 2023 foi feita pela Vital Strategies,
parceira da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, utilizando como fonte a base de dados disponível no DataSUS. E mostra que, se até o ano passado o País ainda hesitava se o aumento iria se manter, agora o crescimento é certo. O Brasil saiu da estabilidade das mortes - mesmo assim alta e superior aos 30 mil mortos - e caminha para o crescimento.

Segundo os dados preliminares do DataSUS, 33.743 pessoas morreram no trânsito em 2023 no País. Na análise da Vital Strategies, mesmo em caráter preliminar, o número de mortes no trânsito em 2023 já está quase no mesmo nível do consolidado de 2022, quando 33.894 pessoas morreram. Ou seja, o aumento é certo.

CRESCIMENTO DEVERÁ SER DE 4,7% A 8%, SEGUNDO ANÁLISE DO HISTÓRICO

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Mortes no trânsito voltam a crescer por mais um ano no Brasil, aponta análise de dados do DataSUS - Reprodução

A expectativa, tendo como base o histórico de crescimento entre os dados preliminares e consolidados do DataSUS, é de que haja uma majoração entre 4,7% e 8%. O ano de 2020 teve a maior variação (8,4%), enquanto 2019 teve a menor (5,2%).

“Com base nas variações históricas, podemos fazer uma estimativa do que teremos quando os dados de 2023 forem consolidados. Assim, estimamos que o número consolidado de mortes no trânsito em 2023 ficará entre 35.492 (estimativa mínima) e 36.593 (estimativa máxima)”, explica Dante Rosado, gerente sênior da Vital Strategies.

DE DUAS MIL A TRÊS MIL VIDAS PERDIDAS A MAIS DE FORMA EVITÁVEL A MAIS NO PAÍS

PRF/DIVULGAÇÃO
Sem políticas efetivas para evitar as mortes no trânsito, Brasil mata seu futuro. Maioria das vítimas são jovens entre 20 e 29 anos - PRF/DIVULGAÇÃO

Se o percentual de aumento for de 4,7%, o número de mortes no trânsito em 2023 no Brasil será de 35.492 vítimas, 1.749 vítimas a mais do que em 2022. Ou seja, quase duas mil vidas perdidas de forma evitável. Mas se o percentual de crescimento for ainda maior, na casa dos 8%, o trânsito terá matado ainda mais pessoas: serão 36.593 mortes, 2.850 a mais do que 2022.

“Representaria um aumento entre 4,7% e 8% em comparação a 2022, confirmando a alteração da tendência de queda registrada no final da última década para um novo período de crescimento”, alerta o pesquisador. Como de costume, o Ministério da Saúde lançou no DataSUS, em setembro de 2024, os dados preliminares de mortalidade de 2023. A consolidação dos números só deverá ser feita no fim de 2024 ou início de 2025. E, mesmo assim, ainda é preciso considerar que há subnotificação.

EFEITOS DO AUMENTO E URGENTE REAÇÃO DO PAÍS

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Mortes no trânsito voltam a crescer por mais um ano no Brasil, aponta análise de dados do DataSUS - Reprodução
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Mortes no trânsito voltam a crescer por mais um ano no Brasil, aponta análise de dados do DataSUS - Reprodução
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Mortes no trânsito voltam a crescer por mais um ano no Brasil, aponta análise de dados do DataSUS - Reprodução

Quem estiver pensando que o percentual de crescimento é pequeno, não sabe das consequências que ele representa na segurança viária. Como já dito, são de duas mil a três mil vidas perdidas a mais do que no ano anterior. E num País que, em um ano, mata mais de 33 mil pessoas.

Dante Rosado segue no alerta sobre essas consequências. “São muitas vidas perdidas, muitos aviões caindo todo dia. E todas mortes evitáveis. A sociedade não pode aceitar”, diz.

E pontua, ainda, que os números têm que ser um alerta para os gestores públicos brasileiros, em todas as suas esferas. “Não é apenas transferir a responsabilidade para a sociedade. Ao contrário. É preciso tirar o peso sempre jogado na população. O poder público precisa assumir o seu papel em estimular a responsabilidade sobre a segurança viária e a preservação de vidas. Assumir o protagonismo de mudanças”, diz.

REDUÇÃO DA VELOCIDADE NAS VIAS É A SOLUÇÃO PARA REDUZIR MORTES NO TRÂNSITO

EUDES RÉGIS/ACERVO JC IMAGEM
Segundo os dados preliminares do DataSUS, 33.743 pessoas morreram no trânsito em 2023 no País, mas números deverão ter um aumento de até 8% com a consolidação - EUDES RÉGIS/ACERVO JC IMAGEM
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Ciclistas estão entre as vítimas do trânsito assassino do Brasil. Dois morreram no Recife na segunda-feira (16/9) - Reprodução

A principal reação e providência ao alto número de mortes no trânsito e ao seu persistente aumento, na avaliação da Vital Strategies e de muita gente que luta pela segurança viária no mundo, é a redução da velocidade. Não há outro caminho.

Só a educação - cada dia menor no Brasil, com destaque apenas em períodos pontuais do ano, como Semana do Trânsito em setembro e Maio Amarelo - e até mesmo a fiscalização - insuficiente em todo o País - não são mais suficientes. Faz tempo.

“Ficou claro e evidente que o Brasil não está fazendo sequer o dever de casa e que será muito difícil cumprir a meta de redução de 50% das mortes estipulada na 2ª Década da Segurança Viária, até 2030. O sentimento é de que nos acostumamos com as mortes no trânsito. Não importa o número”, avalia Dante Rosado.

“Precisamos chamar a sociedade para discutir esse tema, urgentemente, mesmo sabendo que ele ainda é um tabu. A comunidade técnica tem experiência para o que funciona ou não. A gestão de velocidade é a principal ferramenta para combater essas mortes. É mais do que fiscalização. É preciso pensar desde o redesenho das ruas, reduzindo as velocidades limite, até a fiscalização efetiva do cumprimento”, diz.

O processo de mudança e aceitação da redução da velocidade precisa ser algo como o que foi feito com o cinto de segurança, que é utilizado por 90% das pessoas - pelo menos no caso dos bancos da frente dos veículos.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Foram 33.894 mortes no trânsito em 2022, segundo a estatística mais confiável e atualizada do País, fornecida pelo DataSus, o sistema de dados do Ministério da Saúde - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Ações de gestão de velocidade:

- Fiscalização de velocidade nas vias
- Redesenhar as ruas para desestimular a velocidade dos veículos motorizados
- Uso de dispositivos de moderação de tráfego, como:
* Urbanismo tático para criar áreas de proteção para pedestres e ciclistas
* Implantação de travessias elevadas para pedestres, que naturalmente colocam quem caminha em evidência e força os motoristas a reduzir
* Estreitamento da largura das faixas de rolamento nas avenidas das cidades, principalmente as de tráfego intenso

CAMPANHA NACIONAL ESTIMULA A REDUÇÃO DE VELOCIDADE. A OMS JÁ RECOMENDA FAZ TEMPO

O controle da velocidade no trânsito é tão importante que desde 2018 a Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomenda que a velocidade máxima das vias fosse reduzida para 50 Km/h. Dez quilômetros a menos do que o máximo atualmente, que é de 60 Km/h.

Pegando carona no tema, as campanhas da Semana Nacional do Trânsito 2024 e a de 2025, comemoradas sempre em setembro, terão a velocidade como foco. Este ano, o tema é “A paz no trânsito começa por você”. Já o tema escolhido por mais de um milhão de votos - numa votação popular - para 2025 foi “Desacelere. Seu bem maior é a vida”.

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